Por Daniela Giopato

Alto preço do diesel e também das refeições nos restaurantes, mais cobrança pelo banho, falta de segurança e até de local adequado para pernoite, estão entre as principais queixas dos motoristas de caminhão quando o assunto se refere ao atendimento prestado pelos postos de serviços nas rodovias. Saudosos, os mais vividos lembram de uma época em que o motorista tinha um tratamento mais personalizado, participavam de promoções nos postos, recebiam brindes e outros agrados e benefícios disponibilizados nesses estabelecimentos.

Por outro lado, empresários responsáveis por algumas das grandes redes de postos de rodovias do País, justificam a mudança como um movimento necessário para atender às novas exigências do mercado e até dos próprios consumidores, além de ações para ampliar o leque de serviços oferecidos aos carreteiros que têm o posto de serviço como o seu principal ponto de parada e de apoio na rodovia.

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O custo elevado de manutenção de alguns serviços criou a necessidade de realizar cobrança “simbólica” dos carreteiros, na Rede Marajó

Conforme destaca Antônio Machado, diretor da rede de Postos São Cristóvão, ao longo dos anos houve uma busca pela operação de outros serviços inerentes ao dia a dia do motorista de caminhão. Como exemplo, ele cita estacionamento com segurança, lanhouse, tomada para câmara frigorífica, desatrelamento do cavalo mecânico com trava de segurança, alimentação e conveniências, entre outros. Machado recorda também de um período quando os postos de rodovia embutiam o custo de alguns desses novos serviços no preço do combustível. Hoje, acrescenta, se vive uma realidade bem diferente daquela de 10 e 15 anos atrás, pois o segmento está cada dia mais competitivo com relação ao preço dos combustíveis, e por outro lado os custos com a operação de um posto estão cada vez mais altos.

“Com o aumento do número de postos e, consequentemente, da concorrência, os estabelecimentos começaram a perceber que não dava mais para ofertar gratuitamente esses serviços. Isso devido ao alto custo para mantê-los e também pelo fato de motoristas utilizarem os serviços e depois abastecerem em outros estabelecimentos, sem serviço, porém com menor preço do litro de óleo diesel”, justifica Machado. Hoje, segundo ele, a regra é oferecer produtos e serviços de qualidade, a preço competitivo.

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Ao longo dos anos foi necessário inserir atividades inerentes ao dia a dia dos motoristas de caminhão, na rede São Cristóvão

O serviço de banho na rede São Cristóvão, por exemplo, é tratado de duas maneiras. Na unidade onde há estacionamento fechado não é cobrado taxa de banho, caso o motorista abasteça uma determinada quantidade de diesel. Já na unidade onde não há estacionamento fechado o banho é cobrado através dos chuveiros com temporizadores. “Trabalhamos em função do bem estar dos carreteiros, oferecendo serviços inerentes à sua profissão e às suas necessidades pessoais, materiais e até espirituais”, conclui. O posto São Cristóvão foi fundado em 1968 e atualmente conta com cinco unidades, sendo duas em Fortaleza/CE, uma em Marituba/PA, em Mossoró/RN e em Escada/PE,

Em relação às queixas dos motoristas sobre as cobranças de serviços, Claudemir Pereira Alvim, gerente do posto Petropen, diz não ser totalmente contra, mas destaca que nos três postos situados no Vale do Ribeira o banho é de graça e mesmo assim ocorre mau uso, vandalismo, furtos e desperdício de água e energia , gerando despesas significativas todo mês. “Geralmente o banho é uma cortesia oferecida aos clientes fiéis, a todos que abastecem e consomem no restaurante, porém, boa porcentagem apenas usufrui do serviço gratuito sem efetuar qualquer consumo”.

Para Claudemir, o bom relacionamento e contato diário na pista são muito importantes para o andamento do negócio, porém em razão do aumento dos volumes de vendas, é difícil dispor de tempo para atender a todos com a mesma atenção. “Dificilmente conseguimos chamar o cliente pelo próprio nome. É um ato simples, porém, muito valorizado pelos motoristas, pois transmite confiança e consideração”, explica.

Outro ponto importante, citado por ele são as dezenas de formas de pagamentos disponibilizadas no mercado para transportadores e motoristas autônomos, pois em alguns casos acabam dificultando melhores negociações entre as partes por envolverem custos e, consequentemente, encarecerem o valor do produto e serviços prestados. “Nós valorizamos muito a amizade e o bom relacionamento com motoristas, assim como com os proprietários das transportadoras. A grande dificuldade é manter um equilíbrio entre as necessidades dos carreteiros e as determinações impostas pelos proprietários dos caminhões”, relata. A Rede Graal adquiriu o primeiro posto em julho de 1972 e atualmente está presente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Lucas Vaz, diretor da Rede Marajó, fundada em 1991, e com filiais nas cidades de Aparecida de Goiânia/GO, Cariri/TO, Nova Olinda/TO e Benevides/PA, também aposta em um bom relacionamento com os motoristas de caminhão como diferencial. Acredita serem os carreteiro o termômetro da qualidade dos serviços e produtos disponibilizados no posto. “Quando a relação não vai bem, as vendas recebem impactos negativos. Por isso procuramos desenvolver serviços e estruturas exclusivas e com alto padrão de qualidade”, destaca.

A política de atendimento nos postos de rodovia, na opinião de Lucas, foram sendo modificadas de acordo com as novas necessidades que exigiram dos empresários desses estabelecimentos aumento no portifólio de ações voltadas para os carreteiros e itens de segurança, como monitoramento por câmeras, além de os serviços de lavagem e lubrificação de caminhões terem se tornado mais evidentes. Porém o custo elevado de manutenção de alguns itens, como banheiro com boa estrutura, criou a necessidade de subsidio financeiro simbólico por parte dos usuários.

“No entanto, é comum promoções que agregam banho como cortesia pelos abastecimentos. Quando existe a cobrança para direito ao banho, o pagamento geralmente é realizado no próprio caixa do posto com valores que variam entre R$ 3,00 a R$ 6,00”, explica. Lucas ressalta ainda a importância de oferecer estruturas correspondentes às necessidades dos clientes e incluir um bom atendimento para mantê-los fieis.