Por Daniela Giopato

Trocar o caminhão por um modelo zero quilômetro tem sido há anos um dos principais sonhos da maioria dos motoristas autônomos. Poder experimentar as tecnologias embarcadas e o conforto dos novos modelos e ter em mãos um veículo mais eficiente, na maior parte dos casos não vai além das expectativas devido à falta de dinheiro e de condições de arcar com uma prestação mensal alta para o orçamento do carreteiro. E, sem condições de efetuar a troca, o seu caminhão fica mais velho e desatualizado a cada ano que passa e, por consequência, com menor valor de mercado. Dados da Agencia Nacional do Transporte Terrestre (ANTT), obtidos através dos números do RNTRC – Registro Nacional do Transportador Rodoviário de Cargas – mostram a frota brasileira – estimada hoje em 2.256.703 caminhões – com idade média de 12,7 anos. Em relação aos autônomos, responsáveis por 1.018.435 da frota total, a idade dos veículos aumenta em cinco anos chegando a 17,3. Uma alternativa para este tipo de profissional não ficar tão defasado tem sido a troca do usado por outro modelo seminovo, mercado que ganha cada vez mais espaço por conta do atual cenário econômico e das condições pouco atrativas para o financiamento de veículo zero quilômetro.

O programa Select Truck negocia caminhões usados de diferentes marcas
O programa Select Truck negocia caminhões usados de diferentes marcas

As montadoras de caminhões sabem bem disso e por isso estão reforçando suas ações e programas de incentivo de venda de seminovos para atrair cada vez mais motoristas autônomos e frotistas de pequeno e médio porte. O gerente de vendas Select Trucks da Mercedes-Benz do Brasil, Fabian Seifarth, confirma que o mercado de usados é estratégico para a montadora, por ser uma alavanca para a venda de veículos novos, especialmente quando há uma maior procura por este tipo de veículo, como está ocorrendo nestes primeiros meses de 2015. “O caminhão seminovo aumenta o seu valor, o que auxilia o cliente na eventual troca por um veículo novo”, destaca.

Outro fator que tem provocado o aumento da procura por caminhões usados está relacionado às mudanças nas regras de financiamento pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Nos últimos anos, as condições do Finame
favoráveis para aquisição de caminhões novos desaqueceu o mercado de usados, mas este ano as mudanças causaram aumento de procura pelos caminhões seminovos com até cinco anos de idade. “A principal vantagem em relação ao financiamento de usados é a agilidade e o menor prazo para o cliente ter o caminhão à sua disposição”, acrescenta Fabian Seifarth.

Os veículos do SuperZerado são certificados de acordo com a idade e condições de uso
Os veículos do SuperZerado são certificados de acordo com a idade e condições de uso

O transportador que compra um seminovo na loja Select Truck tem como garantia a procedência do caminhão, garantia de até 12 meses e linha de crédito no Banco Mercedes-Benz. Seifarth ressalta que além dos autônomos, as pequenas e grandes empresas de transporte, indústria, comércio em geral, lojistas e revendedores também tem formado o perfil dos compradores de caminhões usados Select Truck de diferentes marcas. O mercado de usados faz parte do processo comercial da Scania, empresa que encara a ação como uma solução para renovação da frota e também a oportunidade para que se possa dar o caminhão usado como entrada na compra de um modelo zero quilômetro “A idade da frota hoje é muito alta e os pequenos transportadores muitas vezes não conseguem ter acesso ao veículo novo. Por isso este segmento é tão importante, para baixar a idade média”, explica Vitor Carvalho, diretor de vendas de caminhões da Scania no Brasil.

Seminovos Viking são oferecidos em três modalidades com diferentes garantias de serviço
Seminovos Viking são oferecidos em três modalidades com diferentes garantias de serviço

A empresa opera o programa SuperZerado, que tem como principais compradores os autônomos e pequenas e médias empresas e através do qual o cliente adquire um veículo com certificado de origem da própria Scania. Carvalho acrescenta que além do nível diferenciado de produto, e o acesso aos mesmos serviços disponíveis aos veículos zero quilômetros, o cliente tem ainda a segurança transmitida pela aquisição de um caminhão Scania de modo direto, sem intermediários e conhecendo a procedência do veículo.

De acordo com Carvalho, as vendas de usados estão diretamente ligadas ao acesso ao crédito. Até o ano passado a diferença entre o Finame e o CDC eram grandes devido as facilidades disponíveis, porém, este ano as regras do PSI mudaram e ficaram pouco atrativas para a troca por um veículo zero quilômetro. “Atualmente, quando o cliente compara as taxas do CDC e Finame acaba optando pelo veículo seminovo, até por conta da desvalorização”, explica.

Outras vantagens apontadas por ele são a revisão de itens como o trem de força, garantia e a rede de assistência técnica. Desde o lançamento do SuperZerado em 2002, foram comercializados 4 mil caminhões, considerando as negociações diretas da Scania e das concessionárias. Somente em 2014 foram comercializados mais de 1.500 unidades. “É muito importante que o comprador tenha um histórico de procedência do veículo, das manutenções realizadas e principalmente estar atento aos números de chassi, motor e caixa de câmbio, para se certificar que não houve troca. A fiscalização está mais eficaz e tem sites que disponibilizam esse tipo de busca”, destacou.

O gerente do Programa Viking, da Volvo, João Domingo Milano, explica que para a empresa o mercado de usados tem a mesma importância das demais unidades de negócios. A rede de concessionário possui área exclusiva com equipe direcionada para atender aos clientes
de seminovos. Apesar de ser cedo para sinalizar como este segmento vai se comportar em 2015 – por conta das definições de taxas de financiamento -, Milano diz que nos dois primeiros meses do ano houve um crescimento de 15% em relação a janeiro e fevereiro de 2014. “É um setor importante, no qual mantemos a qualidade e segurança dos caminhões Volvo”, lembrando que o programa Viking está há 17 anos em atividade.

Os caminhões adquiridos através do programa Viking são submetidos a uma análise detalhada da parte técnica e também da documentação. Os principais componentes do veículo passam por processo de verificação, antes de estar pronto para ser colocado à venda. “No caso do motor, por exemplo, podemos tanto trocar as peças por novas quanto trocar e motor por outro remanufaturado pela própria Volvo. O importante é que o veículo esteja disponibilizado para o mercado com toda documentação verificada, condições técnicas e mecânicas de um zero quilômetro e com garantia de fábrica”, detalha Milano.

De acordo com Milano, há três anos a Volvo disponibiliza o site do programa Viking para facilitar a compra de veículos seminovos. “Hoje, comercializamos 10 unidade/mês, em média, através desse canal, que é um dos mais acessados do Grupo Volvo”, comemora. Por ano, são recolocados no mercado cerca de mil seminovos da marca.

Os caminhões seminovos Viking podem ser adquiridos em três modalidades: o Viking Plus, que oferece garantia de procedência e todos os documentos regularizados e atualizados; garantia do trem de força (com cobertura nacional) e troca de óleo lubrificante por um ano ou 150.000 km, mais atendimento VOAR – Volvo Atendimento Rápido 24h, e entrega técnica igual à dos veículos novos. No caso do Selecionado Volvo o cliente tem também garantia de procedência, do trem de força por seis meses ou 80.000 km. Já na modalidade Estado, os veículos contam apenas com a garantia de procedência. “Este programa está alinhado aos três valores fundamentais da marca: qualidade, segurança e respeito ao meio ambiente. Asseguramos que os veículos circulem com a qualidade e segurança da marca”, conclui Milano.

O gerente de vendas da Marcelo Caminhões, Renne Arantes Gonçalves, reforça a importância de escolher locais seguros e confiáveis para realizar a compra de um caminhão seminovo para evitar problemas futuros e não haver prejuízos. Ele reforça que uma avaliação apenas visual e sonora – no caso do motor – o comprador deve estar atento ao respiro, que nesse caso (motores a diesel usados) emite uma certa quantidade de fumaça que não deve ser grande. É importante observar também se há vazamentos de água e óleo. “No caso do câmbio, pode ser utilizada uma técnica específica para testar os sincronizados, se as marchas “escapam” e também ficar atento a barulhos e “choros” como se costuma dizer. No caso dos diferenciais, a atenção se volta a folgas e barulhos”, detalha Gonçalves. Outro ponto significativo, apontado pelo profissional de seminovos diz respeito à manutenção, forma como o veículo trabalha e tipo de serviço realizado pelo veículo, itens que são tão importantes quanto à análise da quilometragem.

Na parte de documentação, ainda de acordo com Gonçalves, o comprador deve desconfiar de preços milagrosos, pois na maioria das vezes veículos oferecidos são comprados de empresas falidas ou de pessoas físicas com alto endividamento. Essas situações podem acarretar em bloqueio judicial da documentação e problemas que podem demorar meses ou até mesmo anos para serem resolvidos.

Em sua opinião, a opção por um seminovo pode ser a solução para os motoristas que não conseguem condições boas de financiamento para o veículo novo, porém, precisa atualizar o seu caminhão. “No Brasil, os valores de cavalos-mecânicos novos são muito altos e a desvalorização que sofre apenas por deixar de ser zero quilômetro é muito alta para o autônomo ou o pequeno transportador, que na maioria dos casos compra apenas um veículo. Dessa forma, ao comprar um seminovo ou usado em boas condições, ele deixa de ter essa perda, se tornando um ótimo negócio para este tipo de profissional”, finaliza.