Por Larissa Andrade

Muito mais do que um telefone móvel, o smartphone começa a ocupar lugar de destaque também no transporte rodoviário. Graças aos vários aplicativos já desenvolvidos, profissionais do setor e motoristas podem ter acesso a cargas, condições do trânsito, a evitar filas nos pontos de cargas e descarga e, além de outras informações de interesse da categoria

Texto Larissa Andrade

No Brasil, há 271 milhões de celulares ativos e mais da metade dos aparelhos vendidos atualmente é smartphone, aqueles capazes de se conectar à Internet e realizar funções antes restritas aos computadores. Para os carreteiros que circulam nas estradas do mundo afora, desde que foram lançados os celulares oferecem benefícios: inicialmente era usado basicamente para se comunicar com a família ou avisar a empresa em caso de algum problema, por meio de ligações ou mensagens de texto.
Atualmente, o uso do smartphone vai muito além e permite ao carreteiro executar diversas funções que aumentam a produtividade e segurança de seu negócio com simples toques no aparelho. E tudo isso gastando muito pouco ou nada! Não se trata de nenhum truque: estamos falando de aplicativos que podem ser baixados e que ajudam os carreteiros a ver as melhores rotas, encontrar fretes, calcular o consumo de combustível e programar manutenções, entre diversas outras funções.

Os caminhoneiros que aguardam no Pátio de Triagem do Porto de Paranaguá recebem mensagem no celular, avisando da liberação do terminal no Corredor de Exportação. A nova ferramenta do sistema de gerenciamento da descarga de grãos da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) reduz o tempo de espera e agiliza o processo de escoamento dos grãos.  Paranaguá, 17/04/2013. Foto: Divulgação APPA

Também existe uma visão errada de que quem atua no setor de transportes não liga para tecnologia. Então, os projetos de aplicativos para dispositivos móveis ficam voltados mais para os usuários finais, que são os aplicativos de compartilhamento de táxis, caronas, informações para transportes públicos ou então os de localização. “Porém existe muito mais a ser explorado no setor”, acrescenta.
Como exigem muito tempo, conhecimento e investimento para serem desenvolvidos, esses aplicativos precisariam de mais incentivos, seja por parte de grandes empresas ou até mesmo do governo. E, de acordo Moraes, esses aportes financeiros são limitados ou nem sequer existem no Brasil. Mas a redação da Revista Carreteiro buscou alguns aplicativos que já são oferecidos, tanto no Brasil quanto em outros países, para mostrar o que está disponível e como os apps (como são conhecidos) podem ajudar o motorista no dia a dia.

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Uma das principais novidades do mercado é a SontraCargo, um serviço que surgiu em 2013 para fazer uma ponte na comunicação entre autônomos e embarcadores, como explica o Diretor de Vendas e Marketing da empresa, Bruno Torres. “Muitas vezes um caminhão está disponível para transportar uma carga na mesma cidade onde um embarcador está procurando por um caminhão, mas eles não se encontram. A falta de uma plataforma online que conecte as duas partes em tempo real resulta em um grande problema. Normalmente os carreteiros ficam até três dias esperando cargas em diferentes cidades do Brasil e muitas vezes têm de retornar vazios ou aceitar fretes de retorno, que pagam preços muitos baixos. Por outro lado, o embarcador perde muito tempo no telefone procurando motoristas que possam servir a suas necessidades”.
A SontraCargo, que pode ser acessada tanto por meio de um aplicativo baixado no celular quanto por meio de uma página web, possui mais de 10 mil motoristas cadastrados e pretende chegar aos 50 mil ainda neste ano. O serviço é simples de utilizar: “o carreteiro pode ter acesso às cargas publicadas de duas formas: ele realiza uma busca em nosso sistema informando a origem do seu veículo e o destino de sua preferência e o sistema então mostra os fretes exatamente iguais ou similares às informações digitadas. Depois o sistema guarda essas informações e no momento de  um novo frete é publicado e corresponde à busca do motorista, ele é comunicado pelo aplicativo, por SMS e por e-mail”, explica Torres.
Se o motorista clica em “aceitar carga”, o sistema compara o perfil dele com o solicitado pelo embarcador. Caso sejam compatíveis, o sistema informa o número de telefone do embarcador para que o motorista combine com ele a coleta da mercadoria. O pagamento é feito diretamente entre as duas partes e o uso do serviço é gratuito, tanto para os carreteiros quanto para embarcadores.
Além da SontraCargo, existem outros aplicativos do mesmo estilo disponíveis aos carreteiros brasileiros, como o Fretebrás, TruckPad e RodoRastro. Um dos usuários desse tipo de aplicativo é o autônomo André Rodrigues, de Canoas/RS. Segundo ele, esses aplicativos ajudam, mas ainda precisam ser aperfeiçoados. “Esses aplicativos devem ser mais divulgados para os empresários que contratam autônomos, pois assim eliminariam os atravessadores, conhecidos como agenciadores, que, na maioria das vezes, são desonestos e cobram valores irreais para repassar a carga”.
Rodrigues conta que o SontraCargo oferece a melhor usabilidade entre os aplicativos disponíveis, mas que ainda não é muito conhecido e tem poucos usuários, o que significa que o volume de serviço oferecido é menor; enquanto o Fretebrás é o mais conhecido e popular entre os carreteiros.
Enquanto os grandes frotistas costumam contar com sistemas de gestão de frota bastante completos, os autônomos muitas vezes fazem suas planilhas de gastos de maneiras simples, até mesmo no papel. Foi exatamente para tornar os cálculos mais rápidos e eficientes que o desenvolvedor Tales Boalim criou o aplicativo “Controle de Combustível”, disponível para qualquer veículo, incluindo caminhões, e que já foi baixado mais de 64 mil vezes. “O app é usado tanto por autônomos quanto por frotistas. Os autônomos, por sua vez, têm curiosidade em saber a média de consumo que o veículo está fazendo, já as empresas usam o app para registrar os gastos da sua frota e fazer registros de lembretes”, diz Boalim.
O app está disponível em duas versões, uma gratuita, que limita os lançamentos de dados – por exemplo, até seis abastecimentos por mês – e outra paga, sem limites de lançamentos de dados e que permite também gerar uma planilha em Excel para ser descarregada no computador. Além dos dados sobre abastecimento, é possível incluir outros gastos, como manutenção e lembretes.
Já a Botunix oferece um aplicativo para celulares (ou tablets) para a coleta de produtos em garantia. O diretor Daniel Moraes explica como ele funciona. “Existe um leitor de código de barras acoplado ao celular que calcula se um produto está ou não em garantia, qual é seu número de série e o tipo de problema que apresentou. Todo esse processo é feito concomitantemente com o carregamento do produto para ser transportado”, o que torna o serviço muito mais rápido e eficiente. Além disso, a Botunix trabalha atualmente em um módulo para smartphone de um aplicativo gerenciador de frota que está disponível apenas em versão web e que prevê rastrear o veículo em tempo real.
Na Europa e nos Estados Unidos, a variedade de aplicativos é maior, embora muitos admitam que esse é um mercado que deverá crescer muito nos próximos anos. A principal diferença é que não só empresas independentes atuam no desenvolvimento de novos aplicativos, mas também associações e montadoras, pois elas já perceberam que os apps são uma ótima maneira de estreitar o relacionamento com os carreteiros ao tornar mais fácil o dia a dia dos profissionais da estrada.
Uma delas é a IRU (União de Transporte Rodoviário Internacional, em inglês), que oferece aos carreteiros europeus gratuitamente (sem mencionar os gastos com roaming pelo uso da internet no exterior) o app TRANSPark, que os ajuda a encontrar mais de 4 mil áreas de descanso seguras e confortáveis em 18 países. Juliette Ébele, chefe de comunicação da IRU, destaca que isso é muito importante, porque em muitos países, como nos Estados Unidos ou  da União Europeia, os motoristas devem seguir regras de tempo de condução e descanso muito restritivas.  “Às vezes são forçados a parar em regiões inseguras que colocam em risco tanto a carga quanto o combustível. Nosso app ajuda a minimizar esse risco, pois oferece filtros para a busca, como câmeras de segurança, cercas, além de informar sobre outros serviços, como reparação, hotel, restaurantes, etc”, acrescenta
Segundo ela, a ideia do projeto é que ele se expanda e, quem sabe, chegar ao Brasil. “Atualmente, nós não temos áreas de estacionamento de caminhões no Brasil, mas agradeceríamos a boa vontade das autoridades competentes e, é claro, dos experientes motoristas brasileiros dispostos a começar a contribuir com a implantação desse app, impulsionada pelos usuários do país”, sugere Juliette.
Quem também está investindo nos aplicativos na Europa é a Renault Trucks, que já oferece vários apps – todos disponíveis a qualquer carreteiro e não só para aqueles que dirigem um veículo da marca. E a Renault não pretende parar por aí. “Nosso objetivo é oferecer serviços ou entretenimento para os condutores, que estão usando mais e mais o smartphone”, disse a empresa, em nota.
Um deles é o EcoCalculator (Calculadora Eco), que calcula as emissões de dióxido de carbono e óxido de nitrogênio do veículo. Pode parecer um exagero, mas na França todas as empresas que oferecem serviço de transporte, seja de carga, mudanças ou até taxistas, devem fornecer aos seus clientes os dados de emissões desses componentes desde outubro de 2013. A aplicação facilita a vida do condutor profissional, por proporcionar os níveis de emissão tanto em gramas/tonelada, como por quilômetro – e tudo isso no momento. Se preferir, ele também pode guardar os dados e enviar por e-mail.
Outro app interessante da Renault é o Deliver Eye (Olho na entrega), bastante útil para quem tem problemas na hora de entregar produtos que já apresentavam algum problema no momento da retirada, ou seja, que não foi causado no transporte até o destinatário. Isso porque o app permite ao motorista fotografar o produto no momento da retirada e incluir a localização, para comprovar que ele efetivamente estava naquelas condições na retirada, o que confirma a explicação dada pelo motorista.
Outra possibilidade é fotografar o trânsito quando não é possível fazer a entrega no tempo estabelecido, comprovando que o atraso ocorreu pelas condições do trânsito e não por culpa do motorista. Essa foto também inclui a chamada geolocalização, o dia e a hora, para que não haja espaço para dúvidas.
A Renault também oferece aplicativos que dão “dicas” e conselhos por meio de jogos. O Truck Fuel Eco Driving é um deles e mostra, de maneira lúdica, como reduzir o consumo de combustível sem perder a eficiência. São dez fases ao volante de um veículo carregado com 40 toneladas, que deve parar em semáforos, enfrentar trânsito, subidas e descidas etc. Só passa para a fase seguinte quem consegue um bom resultado! Esse jogo já teve quase 600 mil downloads.