Por Daniela Giopato
Quem acredita que a única paixão de carreteiro é caminhão pode estar enganado, porque existem motoristas que utilizam o tempo de espera entre uma carga e outra para compor uma músicas, pintar quadros ou outro tipo de manifestação artística. Um bom exemplo de artista da estrada é o pernambucano Luciano Pontes de Melo, de Santa Cruz do Capibaribe/ PE, 33 anos de idade e oito de estrada como profi ssional. Outro é o motorista empregado Humberto Malta, de 46 anos e 27 de estrada, que há três anos retomou um hobby dos tempos de criança, o de pintar quadros com lápis de cor.
Luciano aprendeu a tocar violão aos 11 anos de idade e aos 13 começou a compor suas músicas e a participar de festivais na sua cidade e até venceu um deles. Filho de carreteiro, conta que carregava o violão quando viajava com o pai e à noite, nos postos de estrada, formavam uma roda e ele fi cava tocando. “O legal é que juntava cada vez mais gente em volta e com a música o pessoal relaxava e esquecia um pouco dos problemas”, comenta.
Aos 18 anos, Luciano trabalhava em um banco e abandonou o emprego para ajudar o pai no transporte de madeira do Pará para Pernambuco. “Eu não considerava um emprego, afi nal meu pai nem me pagava”, diz. Aos 25 anos ele resolveu seguir seu caminho e começou a trabalhar em uma distribuidora de bebidas. Em seguida entrou em uma empresa de transporte de automóveis, por indicação de um primo, onde está até hoje fazendo o trecho São Paulo – Nordeste.
O carreteiro atribui o sucesso entre o pessoal do trecho às letras que falam com romantismo da estrada e dos problemas enfrentados pelos motoristas. “Canto sobre o caminhão que acaba sendo a nossa casa, o empregado que quer ser autônomo, da saudade da esposa, dos f i l h o s . N o meu caso, por exemplo, chego a fi car uns três meses sem ver o meu pai pois as nossas rotas são completamente diferentes. Na verdade pego as minhas experiências e de todos que estão nessa profissão e transformo em música, que para mim só é boa quando toca no coração”.
Quanto a largar a profi ssão de motorista para seguir a carreira Luciano já tem uma opinião formada. “Meu pai me criou com caminhão e eu também quero criar os meus fi – lhos assim. Ser carreteiro é muito bom. Agradeço a Deus todos os dias por estar na estrada. Para fi car ainda melhor só falta eu conseguir comprar o meu caminhão”, brinca. O CD de músicas saiu das cobranças do pessoal do trecho que gostava das suas canções. “Então juntei um dinheiro e gravei o disco, também com ajuda do meu patrão” explica.
Já Humberto Malta, sempre sonhou em ser carreteiro e seguir a profi ssão do pai. Já trabalhou em várias empresas de produtos perecíveis (câmara fria), com carga seca e c o n h e – ce todo o Brasil, exceto Piauí e Amapá. Hoje atua no transporta e de combustíveis no Triângulo Mineiro e interior de São Paulo. “Meu diaa- dia é super agitado. Acordo cinco horas da manhã para carregar na base da Petrobras, de Uberaba/MG, e faço entrega nos postos a 200 km da minha cidade, volto e carrego de novo, com a possibilidade de ter de retornar à estrada à noite.
Foi a espera na fila para carregar e descarregar, quando ele trabalhava ainda com câmara frigorífica, há cerca de três anos, que o levou a retomar uma prática que iniciou quando criança. Como forma de ajudar a passar o tempo começou a fazer desenhos, mas com uma diferença, agora ele os colocava em quadros. Para desenvolver seu trabalho Humberto utiliza materiais simples, como régua , lápis comum e papel cançon. “Faço os riscos milimétricamente medidos, aleatoriamente e para finalizar utilizo lápis de cor. Desenho muito formas geométricas, posso dizer que esse é o meu estilo”, explica.
Apesar de algumas pessoas encomendarem seus quadros, o carreteiro diz que se trata apenas de um hobby e que jamais pensou em tornar isso uma profissão. Para ele, ser carreteiro é muito bom. “Está no sangue, nas veias. Não saberia fazer outra coisa com o mesmo prazer que faço este trabalho. E além disso, ainda tenho um sonho para realizar, o de conseguir ter meu caminhão e trabalhar de acordo com as rotas que eu estabelecer”, finaliza.
