Por João Geraldo

Se na década de 70 o caminhão era tido apenas como um veículo para movimentar carga, sem compromisso com a performance operacional, nos anos seguintes o jeito de transportar começou a tomar outras formas, pois a própria evolução do segmento de transporte rodoviário de carga já buscava um caminho mais especializado para a atividade.

O veículo de carga do tipo “faz tudo” deixou de oferecer as condições ideais para atender as necessidades dos transportadores, pois já começava a haver no setor preocupação com o consumo de combustível, pneus, velocidade média, segurança, conforto do motorista e – mais à frente – até com os índices de emissões dos motores.

Início da década de 70, a preocupação com a produtividade do caminhão não era como hoje e o mesmo veículo transportava todo tipo de carga
Início da década de 70, a preocupação com a produtividade do caminhão não era como hoje e o mesmo veículo transportava todo tipo de carga

A mudança na maneira de atuar na atividade do transporte rodoviário de carga foi provocada também pelo desenvolvimento da economia do País, o qual gerou aumento da produtividade e redução nas margens de lucratividade dos setores de produção e de serviços. O ambiente de desenvolvimento trouxe também exigência de mais eficiência e provocou grandes mudanças também na forma de operar das empresas fabricantes de caminhões, que tiveram de adotar também o serviço pré-venda, necessária para que profissionais de vendas de caminhões pudessem indicar ao cliente qual o produto ideal para sua atividade de transporte.

 O desenvolvimento trouxe exigência de mais eficiência e provocou grandes mudanças também na forma de operar das fabricas de caminhões, explica Antonio Dadalti
O desenvolvimento trouxe exigência de mais eficiência e provocou grandes mudanças também na forma de operar das fabricas de caminhões, explica Antonio Dadalti

“Tendo em vista a nova realidade, os fabricantes criaram engenharias de campo e os conselhos consultivos de clientes, aproximando-se do mercado”, recorda Antônio Dadalti, profissional de larga experiência na indústria automotiva. Ele acrescenta que os vendedores de caminhão transformaram-se em consultores de produtos com especialização no mercado financeiro para orientação dos seus clientes na hora da compra e, ao mesmo tempo, a assistência técnica evoluiu para o pós-venda, com um conceito mais amplo e abrangente que os serviços mecânicos praticados no passado. Atualmente essas atividades estão presentes em todas as estradas do País 24 horas por dia com a missão de manter a frota em operação de forma rentável e não apenas para efetuar reparos quando é necessário.

 A mudança dos caminhões rígidos para as carretas foi significativa e partiu tanto dos transportadores quanto dos fabricantes de caminhões, lembra Sérgio Gomes
A mudança dos caminhões rígidos para as carretas foi significativa e partiu tanto dos transportadores quanto dos fabricantes de caminhões, lembra Sérgio Gomes

Entre as várias fases pela qual passou o transporte rodoviário de cargas nos últimos 45 anos, até chegar ao estágio atual, a mudança dos caminhões rígidos para carretas – dos anos 70 até começo dos anos 2000 – foi uma mudança significativa, destaca o consultor Sérgio Gomes, profissional com décadas de vivência no setor de caminhões. “Pode-se dizer que esta iniciativa partiu tanto dos transportadores quanto dos fabricantes de caminhão, de um lado buscando maior eficiência e do outro procurando demanda do setor de transporte, respectivamente”, explica Gomes.

Consumo de combustível e pneus, velocidade média e conforto do motorista não eram preocupações do carreteiro como acontece nos dias de hoje
Consumo de combustível e pneus, velocidade média e conforto do motorista não eram preocupações do carreteiro como acontece nos dias de hoje

Ele acrescenta que à medida que o peso bruto total das combinações foi crescendo, o aumento da potência dos caminhões foi uma consequência lógica, aumentando também a produtividade. “E a especialização do transporte veio a reboque, utilizando tecnologias mais avançada até chegar às mais recentes como a telemática conectada ao veículo, a qual deverá significar um dos grandes avanços nos próximos anos”, acrescenta.

Com o passar dos anos, o PBT e a potência dos motores foram aumentando, assim também como a produtividade dos caminhões
Com o passar dos anos, o PBT e a potência dos motores foram aumentando, assim também como a produtividade dos caminhões

Outra mudança ocorrida no Brasil, no setor do TRC, foi a preferência dos transportadores pela cabine avançada no lugar da convencional (com capô). Gomes lembra que na medida em que os bitrens começaram a circular, no começo dos anos 2000, os caminhões com cabine convencional representavam 75% do mercado, mas rapidamente foram dando lugar para a cabine avançada.

“Vale lembrar que a legislação estabelece o comprimento total de parachoque a parachoque do veículo, dai a cabine avançada representou uma grande vantagem para a maioria das cargas transportadas”, acrescentou o consultor. Atualmente, os caminhões “bicudos, narigudos ou fucinhudos”, são pequena parcela entre os modelos pesados.

Gomes destaca ainda que a legalização de cargas maiores foi aspecto importante no processo de maturidade do transporte rodoviário de cargas no País, com o aumento significativo do serviço de transporte e menor quantidade de veículos em circulação. “As classes de pesos que aumentaram participação foram os caminhões acima de 16 toneladas de PBT, os quais tiveram a potência mais que triplicada”, acrescenta.

Outro ponto citado por ele é a motorização eletrônica no Brasil a partir de 1994, a qual representou um grande avanço para o setor, pois a partir daí ficou mais fácil de se controlar as operações do caminhão, ganho nos tempos de parada para manutenção e até no comportamento do motorista, que passou a trabalhar com uma máquina mais eficiente.