Por Daniela Giopato Fotos Fernando Favoretto

Enquanto um grupo de motoristas roda milhares de quilômetros para trazer cargas de frutas da Argentina e Chile em carretas câmara fria, outros percorrem rotas mais curtas, em solo brasileiro, e se mostram satisfeitos com este tipo de operação. O fato de não terem de enfrentar longos trechos de rodovias, sem permanecer dias longe de casa, é visto como beneficios, porém, não conseguem evitar o inconveniente do trânsito e o tempo de espera para carregar e descarregar as mercadorias na Ceagesp – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, numa operação que envolve, diariamente, 2.200 caminhões.

Um dos carreteiros envolvidos nesta operação é Luiz Eduardo Giacometti, 23 anos de idade, e dois no segmento de frutas. Duas vezes por semana, ele chega a São Paulo com a câmara fria de seu caminhão carregada de queijo, carne de boi e de frango e retorna à sua cidade, Tapejara/PR, com melão, melancia e morango. “Não tenho do que reclamar, pois trafego apenas por estradas pedagiadas só paro em postos cadastrados que permitem ligar a refrigeração do caminhão. O único problema é quando chego em São Paulo e tenho de enfrentar o trânsito”. Porém, afirma que mesmo assim dá para cumprir com folga os prazos de entrega.

Benedito Alves de Souza, de Araraquara/SP, tem 33 anos de profissão e antes de ingressar no transporte de frutas trabalhou no segmento de petróleo. Viajou pelo Brasil e diante da necessidade de ficar mais próximo de casa devido a problemas de doença na família, teve de mudar o jeito de trabalhar. Atualmente ele percorre cerca de 288 quilômetros até São Paulo para pegar uma carga de frutas, retornar à sua cidade e distribuir nos centros comerciais. Fatura salário mensal de R$ 1.500,00 e acredita que o segmento tem suas vantagens, como percursos mais curtos, mais segurança, estradas melhores e menos estresse. “A principal desvantagem é o esforço físico, já que tenho de carregar e descarregar a mercadoria. No transporte de petróleo era só fechar a tampa do tanque”. Com 55 anos de idade, Benedito afirma que já sonha com a aposentadoria.

“Estou satisfeito com o meu trabalho, é muito tranquilo”, assim definiu Antonio de Jesus, 41, de Salvador/BA, atualmente morando em São Paulo/SP. Sua rotina consiste em entregas urbanas nos mercados da capital. Vai todos os dias à Ceagesp, porém, às terças e sextas faz viagem dupla, totalizando sete por semana, serviço que lhe garante salário mensal de R$ 1.400,00. “Um fator que incomoda neste setor é a demora para liberar as mercadorias. E as vantagens é que todo final de semana estou em casa e posso relaxar e ficar próximo da família”.

Já Thiago Lavado, 23 anos, dois de profissão, percorre cerca de 30 quilômetros entre Barueri (na região da Grande São Paulo) e a Ceagesp com o caminhão vazio e retorna carregado de frutas e as entrega em uma empresa de sua cidade. Em sua opinião, o grande problema do transporte de frutas é a parte burocrática no momento da liberação da carga. “Quanto mais demoro para carregar e ser liberado, mais tarde chego em Barueri e dependendo do horário só posso descarregar no dia seguinte”, afirma.

Leonardo Martins, de Cotia/SP, trabalhava como conferente em uma empresa e há um ano decidiu, por intermédio de um colega, investir em um caminhão e entrar para o ramo do transporte de frutas. Atualmente ele distribui a mercadoria na cidade de São Paulo e tem opinião de que se trata de um trabalho que oferece rentabilidade razoável, apesar de ter de enfrentar diariamente o trânsito da cidade. “O carreteiro que vive na estrada está sempre estressado com a correria de cumprir os prazos, a falta de infraestrutura e também por ficar dias longe de casa. Não troco a minha rotina por nada”, brinca.

Outro motorista que se encontra bastante satisfeito com a profissão é Gildo Jesus dos Santos, de Petrolina/PE, 33 anos de idade e 13 de profissão, que percorre cerca de 2.280 quilômetros até São Paulo carregado de batata e retorna com diversos tipos de frutas. Recebe salário mensal de R$ 1.200,00 e a única reclamação está relacionada à falta de segurança nas estradas, principalmente à noite. “Já fui vítima de assalto e acho que deveriam aumentar a fiscalização nas rodovias, que às vezes parecem estar abandonadas”, reclama.

Luiz Carlos Bezerra, conhecido como Luiz Piauí, de Valença do Piauí/PI, trabalha no Ceagesp há 15 anos, e através do transporte de frutas conseguiu montar uma pequena transportadora que opera com oito caminhões. Seu trabalho é abastecer alguns Centros de Distribuição de mercados da cidade de São Paulo. Diz que a atividade gera lucro razoável, mas a burocracia para liberação da carga prejudica na hora de cumprir o horário agendado nos CDs para entrega da mercadoria “Quando atraso tenho de pagar multa e isso acaba prejudicando o faturamento e a logística do meu negócio”, explica.

Se para alguns o transporte de frutas é bom, principalmente pelo fato de poder estar próximo da família, para Edgar Aparecido Furtado, de Presidente Prudente/SP, a 558 quilômetros da capital, a situação é inversa, pois passa maior parte do tempo dentro do caminhão e na sede da empresa para qual trabalha – em Campo Grande/MS – do que na sua casa. “Apesar do pouco tempo de profissão, já percebi que a vida na estrada não é fácil, principalmente quando o assunto é família”, constata. Furtado passa apenas uma noite por semana em casa e, em raras exceções, um final de semana.

Antes tinha um açougue e por incentivo de um colega decidiu mudar na tentativa de aumentar o faturamento. Carrega em São Paulo, segue para Presidente Prudente, aonde complementa o caminhão com verduras. Dorme em casa e no dia seguinte segue para Campo Grande/MS para descarregar. De lá segue para Guia Lopes da Laguna/MS, carrega com carne e retorna para São Paulo para recomeçar o ciclo. Recebe 11% de comissão por viagem mais salário fixo e acredita que se a burocracia fosse menor poderia considerar o seu trabalho ótimo. “Já perdi cerca de quatro horas apenas para a liberação de uma mercadoria e aí tenho de compensar na estrada, o que compromete a segurança”, conclui.