A produção brasileira de rochas ornamentais totaliza mais de 10 milhões de toneladas por ano. O Espírito Santo é o principal produtor, com mais de 50% de participação. É em solo capixaba que se encontra grande parte das serrarias (teares). Por conta disso, é bastante comum observar caminhões cruzando as estradas do Estado transportando blocos ou mesmo o produto já beneficiado em chapas.O município de Cachoeiro de Itapemirim é o principal pólo de beneficiamento. Nele, encontram-se muitas empresas do segmento. De acordo com dados estatísticos, 80% do granito beneficiado no Sul do Estado, principalmente em Cachoeiro do Itapemirim, vêm do Norte do Espírito Santo e do Sul da Bahia. O transporte a partir da extração até a serraria; da serraria para o beneficiamento e do beneficiamento para o porto (exportação) ou outro destino dentro do País é 100% rodoviário.

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Na hora de escolher o caminhão é preciso optar por aquele que atenda às suas necessidades de transporte, diz Muryllo Costa

Para se ter uma idéia, estimativas apontam que existam no Estado cerca de 1,5 mil empresas do setor de rochas ornamentais e 1,2 mil teares, dos quais 90% são do tipo convencional e 10% do tipo multifio diamantado, de alta tecnologia. Com tudo isso, o segmento gera mais de 120 mil empregos, entre diretos e indiretos.

Nessa logística, mais uma vez os caminhões estão presentes, pois são os que começam e terminam o trabalho. Como resultado, centenas de veículos pesados cortam diariamente as estradas capixabas transportando este tipo de carga. Porém, antes de pegar as rodovias, os caminhões – geralmente trucados 6×2 ou 6×4 -, adentram nas pedreiras, onde começa a logística do transporte deste tipo de carga.

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Muitas das vezes os caminhões enfrentam condições adversas e perigosas, como estradas em más condições e estreitas para pegar a carga, a qual geralmente é transportada em carretas prancha. E quando chove o perigo aumenta. Muitas pedreiras, localizadas no Norte do Espírito Santo e no Sul da Bahia ficam em locais ermos e de difícil acesso. Por isso este tipo de transporte exige que o motorista seja bastante experiente e tenha cuidado redobrado. Aliás, atualmente ele tem de fazer um curso especial sobre o transporte de rochas ornamentais. Caso seja flagrado sem ter essa formação especial, ele poderá ser multado e ainda terá a viagem interrompida.

Diversas empresas realizam o transporte de rochas ornamentais no Estado e algumas delas uniram o ‘útil ao agradável’, pois além de transportar também beneficiam o produto. É o caso da Serra Mar Granitos e Transportes, de Cachoeiro. “Começamos como empresa de beneficiamento do mármore e do granito. Depois de um tempo sentimos necessidade de ter os nossos próprios caminhões para o transporte”, informou Cledimar Geraldo Gregue, sócio gerente da empresa. A ideia de ter frota própria ganhou força também porque Cledimar já foi carreteiro.

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Muryllo Costa, gerente de tráfego da Serra Mar, destaca que na hora da escolha do caminhão é preciso optar por aquele que atenda ao seu negócio. “O veículo deve ser extremamente robusto e de elevada capacidade de tração. Isso é essencial para um bom desempenho, especialmente em uma atividade tão exigente. Senão, em determinados trechos de estradas de terra o caminhão vai patinar por falta de aderência”, relata.

Os 25 caminhões da frota da empresa tem potências variadas a partir de 380 até 540cv e rodam também nos Estados de Minas Gerais, da região Centro-Oeste e Nordeste, para trazer blocos que serão beneficiados no Espírito Santos. Em média, cada caminhão realiza 12 viagens por mês carregando blocos e chapas (produto já beneficiado). As carretas e bitrens são regulamentadas de acordo com as normas do Detran para o transporte de rochas ornamentais.

De acordo com Fernando Lira, também de Cachoeiro de Itapemirim, caminhões de pouca força não aguentam uma atividade como o transporte de rochas ornamentais. Por isso, os cinco modelos de sua pequena empresa têm potências acima de 380cv. Ele explica que os motoristas também recebem diversas orientações para transportar este tipo de carga, porque além dos perigos das pedreiras, as estradas também não contribuem.

“As rodovias, principalmente no Norte do Espírito Santo e Sul da Bahia, quase não existem. O que há são crateras por todos os lados, por isso os motoristas têm de estar sempre bastante atentos para não danificarem a carga”, declarou Fernando. As empresas de rochas ornamentais do Espírito Santo estão concentradas no Sul do Estado, basicamente em Cachoeiro de Itapemirim – principal pólo de beneficiamento. No Norte, a atividade se expande nos municípios de Nova Venécia, Barra de São Francisco, Mantenópolis, Pancas e Ecoporanga.

Regulamentação técnica para afixar a carga

Hoje, o transporte de bloco de rocha tem de ser feito conforme determinação técnica que leva em conta as medidas do bloco, utilizando ganchos e correntes com especificações determinadas. É especificado para o transporte conjunto mínimo de oito travas de segurança, sendo duas em cada lateral da carroceria, duas frontais e duas traseiras. Cada trava de segurança deve ser posicionada de forma que cada uma de suas faces tangencie o bloco em pelo menos um ponto. As rochas menores – chamadas enteras – devem ser transportadas em caçambas, desde que devidamente travadas.

O transporte de rochas, inteiras ou em chapas serradas – como granito e mármore – pode ser feito também dentro de contêineres. Além disso, todos os equipamentos têm de passar por uma verificação da qualidade do material para obter a certificação de segurança veicular. As medidas adotadas têm gerado bons resultados, conforme afirma o carreteiro José Luiz Oliveira, o Baiano, que transporta blocos dentro do Espírito Santo e chapas para Fortaleza/CE, além de outros Estados da região Norte.

De acordo com ele, antigamente era comum vermos ou ouvirmos falar de acidentes envolvendo caminhões transportando blocos. A carga era levada solta e às vezes se desprendia em uma curva, ocasionando acidentes, muitas vezes fatal, vitimando o caminhoneiro e demais usuários das estradas.

Legislação e mais segurança

Com a modernização e evolução dos equipamentos para se obter melhor produtividade da empresas, os blocos de rocha ficaram maiores e também mais pesados. Em paralelo, os caminhões também evoluíram em relação à potência do motor e tecnologias embarcadas. Porém, a legislação demorou um pouco mais. Mas, a partir de 1º de julho de 2010 o transporte de rochas – ornamentais serradas ou em blocos – teve de obedecer rigorosamente aos limites de pesos e dimensões estabelecidos pela Resolução Contran 210/06.

Para atender a esta determinação, os blocos mais pesados (com aproximadamente 38 toneladas) só podem ser transportados em um veículo especialmente desenvolvido para esta finalidade: um bitrem de sete eixos com dolly, com comprimento mínimo de 17,50m, e PBTC de 57 toneladas.

Para poder circular, os veículos são obrigados a obter um Certificado de Segurança Veicular, após a adaptação dos dispositivos de segurança. Segundo levantamento do Departamento de Polícia Rodoviária do Espírito Santo, estas duas medidas, aliadas ao aumento da fiscalização, reduziram significamente o número de acidentes, de feridos e o número de mortes resultantes de acidentes causados por este tipo de transporte.

Por Bruno Cordeiro