Por Thiago Góis

Desde o início do mês de março acontece uma das maiores demandas de caminhões graneleiros para a Baixada Santista. O motivo é a safra de grãos, que este pode ultrapassar 136 milhões de toneladas e grande parte dela será escoada pelo Porto de Santos. Nesse período, a região portuária recebe cerca de 3.000 caminhões acima do volume normal que chega com carga no porto. Todos, obrigatoriamente, passam pelo Ecopátio ou pelo Rodoparque (ambos em Cubatão/SP), um serviço da Ecovias que fiscaliza toda carga que chega e que, posteriormente, segue para a descarga no Porto.

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Ralf Greick Cordeiro Marins diz que a perda de tempo nas filas na época da safra é o maior empecilho

Na teoria é uma época boa para os carreteiros, porque não faltam cargas e os fretes possibilitam um acréscimo no ganho. Porém, não é bem isso que acontece na prática, conforme dizem os próprios carreteiros envolvidos no transporte de grãos, pois são muitos os problemas enfrentados desde o ponto de partida até a descarga da mercadoria. As dificuldades, afirmam, vão desde a malha rodoviária precária, pedágios com preços altos, policiais rodoviários que descumprem as regras da cartilha e excesso de peso e filas de espera, entre outros percalços.

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Colheita de grãos está estimada em 136 milhões de toneladas

Ralf Greick Cordeiro Marins, que dirige um Volvo FH como empregado, que havia pego uma carga de soja em Chapadão Sul/MS, tem opinião de que o tempo perdido nas filas é o maior empecilho na vida dos motoristas na época da safra. “O que mais me prejudica nas viagens é a espera. Chego em Cubatão e tenho de esperar. Depois que sou liberado sigo para o Porto de Santos e passo a madrugada em filas para descarregar”, reclama. Ele acrescenta que o tratamento dispensado aos motoristas também fica muito a desejar. “Às vezes tratam a gente como lixo” reforça.
Já o autônomo Sebastião Carlos Barbosa, que tinha vindo de Dourados/MT, com seu Scania 111, reclama dos próprios colegas de profissão. Para ele, a dificuldade está no caráter de quem dirige um caminhão, porque o excesso de peso estraga o frete. “A lei está errada, pois com o peso certo você passa na balança, mas quem tem dinheiro a mais e o peso fora do padrão, passa da mesma forma”, lamenta. Do seu ponto de vista, faltam pessoas mais capacitadas cuidando desse setor e diz que tem horas que bate o desânimo, mesmo tendo apenas 32 anos de idade.

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Sebastião Carlos Barbosa reclama do excesso de peso das cargas e afirma que esta prática estraga o frete

Luciano dos Santos, de 30 anos, trabalha para a Transmarca, empresa de Matão/SP, e se queixa de como gasta dinheiro em coisas desnecessárias. “Acreditem ou não, até para tomar banho temos que pagar hoje em dia. Já cheguei a fazer viagens que na volta, eu devia dinheiro para empresa”, desabafa. Ele também carregou o caminhão em Chapadão do Céu/MT e não escondeu também sua insatisfação com certos policiais rodoviários. “É claro que não podemos generalizar, mas é impressionante como estamos carentes de bons policiais. Eles sabem do quanto precisamos do frete, e mesmo assim abusam da autoridade quando nos param”, disse, acrescentando que encontram defeito em tudo e ainda querem dinheiro para liberar o caminhão.

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Caminhões no Ecopátio aguardam para descarregar no Porto de Santos

O preço dos pedágios e as estradas mal conservadas também são assuntos freqüentes nas rodas de motoristas. O gaúcho de Canoas, Danilo Invernizzi, de 57 anos, garante ter motivos de sobra para se aborrecer. “Entortei a roda traseira do meu caminhão e já começo a ter prejuízos nessa viagem. É um absurdo se compararmos o que pagamos de pedágio e a situação das estradas que enfrentamos”, reclama.
Ele acrescenta que este problema não existe no Estado de São Paulo, pois por mais caro que se paga para rodar, as estradas compensam, porque são boas. “Porém, no resto do Brasil é um abuso”, opina. Danilo, que está há 38 anos na estrada, dirige para uma empresa e costuma fazer quatro viagens por mês e acha que o período da safra é sempre mais difícil, porém, destaca que este ano está sendo um dos piores que já enfrentou. “Em vez de as coisas melhorarem com o tempo, elas pioram”, acrescenta.

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O auto custo das despesas na estrada é uma das reclamações de Luciano dos Santos

Já o autônomo Luis Antônio da Silva, de 42 anos, de Porto Ferreira/SP, que também transporta açúcar para o Porto de Santos, não vê o preço do pedágio como a grande dificuldade. Sua queixa maior é em relação ao tempo perdido no Ecopátio. “Cheguei aqui às 3 horas da manhã e já são 4 da tarde. Acredito que vou sair daqui lá pelas 7 horas da noite e ainda pegarei mais fila no Porto”, relatou. “Além disso, pelas minhas contas terei de pagar R$ 70,00 neste lugar – os carreteiros pagam pelo tempo que ficam estacionados no Ecopátio ou Ecoparque. Já gastei 300 reais de pedágio e mais R$ 450 em óleo diesel por um frete de R$ 1.200 reais. Daqui a pouco não me sobra mais nada”, concluiu.

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Na opinião de Danilo Invernizzi, existem estradas cujo estado de conservação não permite a cobrança de pedágio

A falta de segurança nas rodovias, que envolve acidentes e assaltos, também é um fator que incomoda muito os carreteiros. José Carlos Pacanhela, de 42 anos, comenta que a insegurança é a pior coisa nas estradas e como diz a maioria dos profissionais do volante, “saímos de casa e não sabemos se vamos voltar”. Ele acrescenta que é revoltante a maneira como os carreteiros estão sujeitos a esse tipo de situação. E quando procuram por segurança são humilhados. “Antes da minha chegada aqui na Baixada Santista parei em um posto da Polícia Rodoviária Federal para descansar. Sabe o que eles fizeram? Expulsaram-me de lá. Somos expulsos como animais dos lugares onde nos sentiríamos mais protegidos”, dispara José Carlos.

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O pagamento pelo tempo que fica parado no pátio esperando para descarregar é a queixa de Luis Antônio da Silva

Reclamações e dificuldades à parte, o movimento maior de caminhões e carreteiros na região da Baixada Santista não diminui, sendo que meados do mês de maio a safra ainda estará em alta. Com isso, o Porto de Santos continuará a viver um período de filas e transtornos para todos os trabalhadores que necessitam descarregar. O remédio para seguir em frente é receitado pelos próprios carreteiros: paciência e fé.

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Para José Carlos Pacanhela, a falta de segurança com acidentes e assaltos é a pior coisa das estradas
UM PORTO PARA ESCOAR GRÃOS

Se o Porto de Santos/SP recebe boa parte da safra do Centro-Oeste, os Portos de Antonina e Paranaguá, no Litoral paranaense, é responsável pelo escoamento de praticamente toda a safra do Estado. Em 2007, passaram 208.312 caminhões carregados pelo pátio de triagem e, de acordo com a assessoria de comunicação da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, até 31 de março deste ano já foram registrados 35.307 cargueiros, sendo que o aumento no movimento de caminhões registrado em março deve se estender até outubro.

A previsão de colheita no Estado, de acordo com a Conab é 28,9 milhões de toneladas de grãos na safra 2007/2008 e Paranaguá é canal de escoamento da produção paranaense. Mas os portos paranaenses também estão recebendo grãos dos Estados de Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, São Paulo, Rio Grande do Sul de países vizinhos como a Argentina, Bolívia e Paraguai.

Assim que o carreteiro entra no pátio a nota fiscal é checada e a carga classificada por técnicos da Claspar (Empresa Paranaense de Classificação de Produtos) que inspeciona os grãos que tem como destino o exterior. Nesta operação são verificados índices de impureza, de umidade e de grãos avariados entre outros itens como presença de mofo, produtos tóxicos ou transgênicos e matérias estranhas. Os caminhões que não atendem aos padrões internacionais de qualidade ou estejam carregados com mercadoria diferente daquela registrada na nota fiscal não recebem autorização para descarregar.

De acordo com a assessoria de Comunicação da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), os carreteiros esperam seis horas em média para descarregar, mas alerta que este tempo já chegou a ser de seis dias. As vias de acesso ao porto foram recuperadas com 20cm de concreto e o pátio de triagem revitalizado com mais dois portões de acesso aumentando para quatro entradas no local. Além da iluminação do pátio e segurança, os carreteiros contam com cantinas, banheiros públicos e serviços de atendimento (JG).

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Desde março, o pátio de triagem do Porto de Paranaguá tem grande movimento de carretas carregadas de grãos