Por Evilazio de Oliveira

O transporte rodoviário de cargas perigosas no Brasil é regulamentado por uma legislação ampla, que estabelece normas técnicas para os veículos e condutores, normalmente obedecidas por empresas bem-estruturadas, mas que acabam falhando no momento em que inclui o setor público, como fiscal. Um dos itens, o que determina que os veículos estacionem em postos de combustíveis com áreas próprias para cargas perigosas, praticamente não é cumprido.

O responsável pelo Serviço de Emergência Ambiental da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental), do Rio Grande do Sul, Vilson Trava Dutra Filho, afirma que dos aproximadamente dois mil postos de combustíveis existentes no Estado, nenhum está legalmente habilitado para receber caminhões transportando cargas perigosas. Ou seja: não dispõem de áreas exclusivas, piso impermeável, sistema de drenagem e bacia de contenção para um mínimo de 30 mil litros, a capacidade normal de um tanque de transporte, além de extintores de incêndio, baias especiais para o estacionamento e com a uma distância considerada segura dos demais veículos estacionados no local.

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Rosélio Buffon, lembra que já manteve uma área especial para 20 caminhões, mas desistiu por causa da despesa e da falta de retorno financeiro

Tudo isso custa dinheiro e o retorno é incerto, conforme opinião do proprietário do Posto Buffon, Rosélio Buffon, 37 anos e há 16 no comércio de combustíveis. O posto, que funciona no quilômetro 443 da BR-368, no município de Canoas/RS, abastece uma média de 300 caminhões por dia com uma quantidade de óleo que varia muito, diz ele. Vale lembrar que essa estrada serve para o escoamento rodoviário da produção da Copesul – Companhia Petroquímica do Sul (O Pólo Petroquímico do RS) estabelecido no município de Triunfo e a 60 quilômetros de Porto Alegre. Até uns três anos atrás o posto tinha uma área especial para o estacionamento de cargas perigosas, tudo de acordo com as normas da Fepam, abrigando cerca de 20 caminhões. Todavia, segundo Rosélio Buffon, a transportadora que deixava os brutos no posto para o pernoite e abastecimento mudou para outra cidade e ele desistiu de manter a área especial por causa da despesa e da falta de retorno financeiro. E se algum motorista transportando carga perigosa quiser pernoitar no posto? “Não dá. Mas eles têm os lugares certos de paradas”, garante Rosélio.

No Posto Valentina, em Nova Santa Rita/RS, na BR-386, cerca de 20 quilômetros da Copesul, a parada de caminhões que transportam polietileno para o Porto Seco de Uruguaiana ou para países do Mercosul é quase obrigatória. O administrador do posto, Carlos Gil, 42 anos e sete no setor de combustíveis, conta que os carreteiros param apenas para abastecer ou à espera de cargas. E, apesar do polietileno ser considerado carga perigosa, não há necessidade de uma área especial para estacionamento em razão do pouco tempo que os brutos ficam no local.

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Com uma frota pequena é possível escolher os melhores motoristas do mercado, diz Oscar Dal`Ri, da Bimex

A preocupação com a segurança e eficiência no transporte de cargas perigosas, acumulada durante muitos anos de atividades no setor, acabou reunindo Marco Antônio Botti, Oscar Luiz Dal’Ri, Márcio Biazus e Fernando Rech. Juntos, abriram a Bimex – Transportes Ltda. Há cerca de dois anos e meio, no município de Canoas, há pouco transferiram a sede e o pátio de estacionamento para a margem da BR 386, na cidade de Nova Santa Rita, onde se concentra grande parte da movimentação de cargueiros. Nesse período a empresa estruturou uma frota com 27 caminhões, dos quais 20 são bitrens. O faturamento anual é de R$ 850 mil, que deve ser dobrado em curto prazo.

Com isso, segundo Oscar Dal’Ri – empresa nova e frota pequena – é possível escolher os melhores motoristas disponíveis no mercado, com a intenção de efetivamente oferecer um serviço diferenciado no transporte de cargas perigosas. Nesse período a empresa não registrou nenhum acidente. E, desde dezembro de 2004 está dentro das normas da SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade) e com o objetivo de obter uma certificação ISO ainda neste ano.

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Apaixonado pela profissão, Evair
Amadeu transporta cargas perigosas há 19 anos e garante conhecer toda a legislação e sinalização

Marco Antonio Botti lembra que todos os caminhões da Bimex (a maioria Iveco, fora alguns poucos agregados) são rastreados via satélite e equipados com computador de bordo. Os motoristas obedecem às determinações das empresas gerenciadoras de risco e só param para pernoitar nos pontos determinados. Agora, se os locais estão dentro das exigências legais, eles não sabem dizer. Na verdade, não sabem da existência de postos no País com pátios de estacionamento adequados para veículos que transportam cargas perigosas, dentro das normas de segurança.

O carreteiro Raul Luiz Henz, 56 anos e 36 de volante e “nenhum acidente, com a graça de São Cristóvão”, dirige uma carreta com 25 toneladas de resina. Ele viaja basicamente no Estado do Rio Grande do Sul, em rotas de aproximadamente 200 quilômetros. Mesmo assim garante que todas as paradas são previamente indicadas pelo pessoal do seguro. E o caminhão é deixado a uma distância razoável dos demais veículos.

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Com 36 anos de volante e a proteção de São Cristóvão, Raul Henz assegura que nunca se envolveu em acidente

João Luís Amaro, 34 anos e 18 de estrada, sempre trabalhou com caminhões com cargas perigosas. Está acostumado e tem os cursos obrigatórios para esse tipo de atividade e sempre faz as atualizações oferecidas pelas empresas. Ele conta que o caminhão precisa estar rigorosamente de acordo com as normas de segurança ou não carregam. Todas as viagens são feitas com muito cuidado e as paradas só nos postos credenciados e previamente agendados. Segundo João Luís, a maior preocupapreocupação é dirigir na velocidade adequada e cuidar de eventuais “barbeiragens” de outros motoristas.

Com 21 anos de estrada, 19 dos quais no transporte de cargas perigosas, Evair Amadeu, 40 anos, demonstra ser um apaixonado pela profissão. Conta que já fez mais de 30 cursos relacionados com a atividade, além de um curso de instrutor de direção ministrado pela Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), de Canoas/RS. Ele garante que conhece toda a legislação e sinalização utilizada nesse tipo de carga. Nos trechos longos, quando precisa parar às 22h para o pernoite, tem os lugares credenciados e já previamente agendados no programa de viagem. E sempre com o cuidado de estacionar em locais mais afastados, sempre seguindo as regras de segurança aprendidas nos vários cursos que fez e tão úteis até hoje, como ressalta. Para ele e para os colegas de estrada.