Por Evilazio de Oliveira

Para o transporte rodoviário de medicamentos, correlatos e equipamentos médico-hospitalares são necessários cuidados especiais com os veículos, pessoal capacitado, responsabilidade profissional e social, além de cumprir com uma série de determinações legais, incluindo o acompanhamento e orientação de um farmacêutico, atendendo à Resolução 433, do Conselho Nacional de Farmácia. Em alguns casos, também é preciso licença da ANVISA, do órgão responsável pelo Meio-Ambiente e do Ministério do Exército para o transporte de produtos radioativos, por exemplo. São produtos caros e com os custos do transporte especializado acabam chegando ao destinatário com um valor alto. Por isso, esse tipo de atividade se constitui numa área ainda pouco explorada no País, com dedicação exclusiva ao setor.

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Muitas vezes é preciso fazer parcerias com empresas de outras localidades para o fornecimento de máquinas especiais, diz Sérgio Coutinho

Em Porto Alegre/RS, a CH Transportes Ltda. está no mercado há 13 anos atendendo a esse tipo de clientes considerados diferenciados: são hospitais, clínicas, postos de saúde e estabelecimentos comerciais. De acordo com um dos proprietários da empresa, Sérgio Luiz Coutinho, 43 anos, depois de seis anos no exterior, decidiu entrar no setor de transportes, montando uma empresa pequena. Mas, para ter condições de competitividade era necessário um diferencial de atuação. Foi assim que ele e a sócia, Gisele Holzmann, decidiram pelo transporte especializado em medicamentos. Contaram com o apoio logístico do escritório Celiberto Despachos Aduaneiros, atualmente um importante parceiro comercial.

Hoje a empresa dispõe de duas carretas com pranchas rebaixadas, quatro caminhões médios para cargas de até cinco toneladas – equipados com baú sider e elevadores – e duas vans. São veículos com idade média de três anos, equipados com suspensão a ar e refrigerados devido à necessidade de temperaturas constantes para certos produtos. Um detalhe: não utilizam pneus recapados, para terem os efeitos dos impactos reduzidos em até 70%. Além disso, são equipados com rastreadores via satélite e um sistema monitorado de risco, de acordo com o tipo ou valor da mercadoria. De acordo com Sérgio Coutinho, na CH Transportes os veículos têm operado com índice zero de sinistros.

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É preciso dirigir com muita calma e sem freadas bruscas, entrar devagar nas curvas e evitar solavancos nas cabeceiras de ponte, explica Nelson Ludwig

Atuando apenas com cargas expressas, cujas rotas são de cerca de 400 quilômetros, os motoristas têm um perfil especial: são homens maduros e que demonstram calma ao volante, responsabilidade e respeito ao ser humano. Precisam cumprir os horários para a entrega das cargas, pois transportam medicamentos ou equipamentos médicos que podem ser decisivos para salvar vidas e cujo atraso pode ser fatal, segundo explica Coutinho. Os motoristas precisam cuidar da manutenção dos veículos, da limpeza e de todas as revisões necessárias, pois ele não pode correr o risco de ficar na estrada por uma eventual pane mecânica, embora isso possa acontecer. Todos têm cursos específicos para direção defensiva e para cargas perigosas, além de atualização constante.

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Wladimir Maglione está satisfeito com o serviço, o ambiente e a responsabilidade de conduzir de forma segura cargas tão importantes

A empresa é liberada pela ANVISA, Fepam (Fundação de Proteção ao Meio Ambiente) do Estado do Rio Grande do Sul e do Exército, pois também transporta produtos radioativos ou explosivos, armas e munições. Todas as operações são supervisionadas pela farmacêutica Marta Suzana Damann, cumprindo a Resolução 433, que obriga as empresas transportadoras de medicamentos a contarem com esses profissionais para acompanharem todo o processo de carga e descarga e verificar as condições de embalagem, armazenagem e temperatura. Além do transporte, a equipe de Sérgio Coutinho também garante a colocação dos equipamentos médico-hospitalares nos locais determinados. Para isso, muitas vezes precisa fazer parcerias com empresas de outras localidades para o fornecimento de máquinas especiais, como guindastes ou caminhões equipados com munck. Deixa tudo pronto para que o pessoal técnico dos fabricantes faça as instalações e ajustes finais do maquinário, que pode ir de uma ressonância magnética a um acelerador linear.

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Cuidar muito bem do veículo e fazer relatórios sobre o desempenho, manutenção e higiene fazem parte do trabalho de João Paulo Martins

O motorista Nelson Ludwig, 45 anos, 18 de profissão e há oito no setor de medicamentos, destaca que normalmente recebe a carga no aeroporto e entrega no interior do Estado. A viagem mais longa foi ao Chuí, no extremo Sul do Rio Grande, a cerca de 550 quilômetros de Porto Alegre. Ele dirige uma Sprinter com rastreador e baú refrigerado. E, segundo ele, é preciso dirigir com calma, sem freadas bruscas, entrar nas curvas devagar e cuidar muito nas cabeceiras de ponte para evitar solavancos. Também precisa ficar atento ao termômetro para manter a temperatura adequada para cada carga que transporta, prestar atenção à velocidade e, depois da entrega, a manutenção e limpeza do veículo. Tudo muito fácil, desde que se faça as coisas direito, salienta Ludwig.

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Apesar de nunca ter sido assaltado, o veículo que Sadi Augusto dirige foi atacado por assaltantes quando estava nas mãos de outro motorista

Na opinião de Wladimir César Ramos Maglione, 45 anos, 25 de estrada e há um ano transportando medicamentos e máquinas utilizadas em tratamento de saúde – esse trabalho é de extrema responsabilidade, porque se relaciona com a vida humana. Cita como exemplo o transporte de alguns tipos de reagentes que vão ser utilizados num cliente que foi submetido a um transplante e precisa com urgência desse produto. Neste caso, é uma carga delicada, expressa e que deve ser entregue na hora certa, sem atrasos. Ele é natural de Bagé/RS e atualmente mora em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Está muito satisfeito com o serviço, sobretudo pelo ambiente e pela responsabilidade de conduzir de forma segura um tipo de carga tão importante.

Alternando o trabalho de motorista com o de operador de empilhadeira, João Paulo Osório Martins, 44 anos, 10 como motorista e há oito meses na empresa, garante que está gostando muito do sistema de trabalho e da camaradagem. Ele sabe que precisa cuidar muito bem do veículo, fazer relatórios sobre o desempenho, executar a manutenção e zelar pela higiene. E, depois, na estrada, dirigir com o máximo cuidado para garantir a entrega da carga na hora marcada. “Tudo numa boa, sem estresse”, garante.

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Há cerca de dois anos, Helder Alves foi vítima de seqüestro e foi deixado amarrado dentro do veículo que trabalha e agora só viaja com guarda-costas

Sadi Augusto da Fonseca Fraga, 39 anos e 15 de boléia, trabalhou por 12 anos como empregado dirigindo caminhão pelo interior do Rio Grande do Sul. Atualmente dirige uma van entregando medicamentos em farmácias de São Borja, Itaqui e Uruguaiana, todas na Fronteira Oeste, e fazendo uma média de 400 quilômetros por dia. A mercadoria chega bem cedo de caminhão, vindo do depósito em Passo Fundo/RS, é feito o reparte e ele inicia o roteiro. O veículo tem rastreador, as portas são protegidas com uma tela para impedir a passagem de uma pessoa. Sadi só pára ao chegar ao destino e diz nunca ter sido assaltado, porém, o veículo que dirige já foi atacado a tiros. Na ocasião estava sendo conduzido por outro motorista. Nada foi levado porque o sistema de segurança trancou as portas e os criminosos desistiram do roubo. Tudo terminou bem, apesar do grande susto do motorista e de um buraco de bala no capô da van. A orientação em caso de assalto – conforme Sadi Augusto – é não reagir, obedecer aos assaltantes e entregar a mercadoria sem protestar.

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José Antônio Munhoz diz não ter preocupações com o valor da mercadoria que entrega, pois onde trabalha transporta todo tipo de carga

Trabalhando em entregas fracionadas, Helder Adolfo Alves, 49 anos, 30 de profissão e há 15 na área de medicamentos, conta que já foi vítima de assalto e seqüestro há dois anos. Ele trabalha em Uruguaiana e foi rendido pelos assaltantes pela manhã, quando iniciava as entregas. Foi deixado amarrado dentro do veículo nas imediações da cidade e salvo por um motorista que estranhou o carro parado na beira da rodovia e com a porta aberta. Helder não sofreu nenhuma violência física e não sabe avaliar o prejuízo sofrido com o assalto. Garante que continua trabalhando normalmente, porém, por vias das dúvidas – agora viaja acompanhado por um guardacostas armado.

Na ponta de todo esse processo e dessa logística para a entrega de medicamentos nas farmácias, clínicas ou hospitais, José Antônio Munhoz Camargo Jr, de 22 anos e nove meses na atividade, não tem muitas preocupações sobre o valor das mercadorias que entrega. Afinal, a empresa para a qual trabalha transporta de tudo, “inclusive medicamentos”. Afirma que os volumes são conduzidos com todo o cuidado, porém não existe separação entre as caixas durante o transporte ou nas entregas aos clientes. Portanto, sem qualquer tipo de obediência à legislação sobre cargas perigosas ou a Resolução 433.