Vida de Rosinaldo não era diferente de outros carreteiros: viagens longas, estradas esburacadas, fretes baixos, pedágios e carga horária entre outras dificuldades que fazem parte do dia-a-dia do motorista. Dono de um caminhão seminovo, ele rodava cerca de 10 mil quilômetros por mês e passava muitos dias fora de casa. Por várias vezes essa sua rotina de trabalho foi motivo de discussões com a esposa Marinete, que logo percebeu que não adiantava medir forças com as duas paixões do marido: o caminhão e a estrada.

Boa mãe e dona de casa exemplar, às vezes Marinete se recordava dos primeiros meses de casamento, quando aceitava com mais naturalidade a situação de ficar em casa e o marido na estrada. Afinal, bem que Rosinaldo poderia fazer rotas curtas e retornar todos os dias para casa, pensava. A vida seguia seu curso, com ela cuidando do filho de um ano, dos problemas caseiros e recebendo com muito carinho o marido todas as vezes que retornava de uma viagem.

Porém, a Copa do Mundo de 2002 quase colocou fim ao casamento que já durava quatro anos em clima de paz. A situação começou após Marinete constatar que o futebol era também uma grande paixão de Rosinaldo, mas só quando se tratava de jogo da Seleção Brasileira no campeonato mundial. Até então, ela desconhecia este lado do marido, pois casaram-se logo após a Copa de 1998.

A situação teve início quando Marinete percebeu que o marido permanecia mais tempo dentro de casa, dispensava fretes para lugares distantes e só aceitava as viagens curtas. A desculpa era sempre a mesma: o frete não compensa. Ela estranhou, pois ele sempre afirmara que transportar na região não dava dinheiro. Por isso, a drástica mudança de opinião do marido a intrigava. Observou também que, coincidentemente, ele estava em casa nos dias dos jogos do Brasil. Por um lado era bom, porém, na hora do jogo, completamente concentrado nos lances mostrados na TV, era como se ele não estivesse lá.

Em uma das partidas disputadas de madrugada, Rosinaldo assistia ao jogo deitado na cama ao lado de Marinete que dormia como um anjo. Ao final do primeiro tempo, ele começou a enroscar seus pés nos dela, seguido por um abraço, um beijo e uma bateria de carinhos. Marinete acordou e, já excitada, retribuiu às investidas do marido, pois fazia tempo que ele não a procurava com tanto entusiasmo. Ela, com uma voz apaixonada sussurrou no ouvido dele com segundas intenções: “o que você está querendo comigo”???. Rosinaldo, todo dengoso retribuiu: “Sabe, amor, estou com muita vontade de comer aqueles seus pasteizinhos acompanhados por uma cerveja bem gelada. Ainda mais com um jogo desses”. E prosseguiu: “você não quer ir até a cozinha preparar este agrado para seu maridinho”? Marinete não acreditava no que estava ouvindo. Aquela atitude foi a “gota d’água” para ela desabafar. Xingou, gritou, esperneou e, para finalizar, atirou o controle remoto em direção à televisão. Fim de jogo e quase fim de casamento, sem contar que a vizinhança já estava acordada com os gritos.

Depois da Copa, Rosinaldo começou a fazer mais viagens curtas e a passar mais tempo com a família para tentar limpar sua barra. Durante um bom tempo em todo retorno de viagem ele trazia um agrado para a esposa e a tratava como uma princesa. Depois de alguns meses ela o perdoou e os dois viveram felizes, até a próxima Copa do Mundo.