Por Evilazio de Oliveira

O transporte internacional de cargas rodoviárias a partir do Peru, e passando por todos os países integrantes do Mercosul e Comunidade Andina, com viagens que percorrem milhares de quilômetros e duram vários dias, fazem parte do trabalho de um grupo de motoristas especializados em cargas químicas, perigosas ou expressadas. Na localidade de Tacna – cidade com cerca de 280 mil habitantes e a 1.300 quilômetros da capital, Lima -, opera uma dessas empresas, a Servimelsa – Transportes Especializados que, com 30 caminhões da marca International faz um grande trabalho de logística rodoviário.

Na rota do Brasil desde 2006, os caminhões da empresa seguem em comboios, como aconteceu em uma recente viagem a Caxias do Sul/RS, na qual vieram somente os cavalos mecânicos para buscar nove semirreboques equipados com silos para a indústria cimenteira peruana. O grupo de motoristas peruanos – entre os quais há um brasileiro – percorreu mais de 3.400 quilômetros de estradas, passando pelo Chile, Argentina e entrando no Brasil pela ponte internacional, entre Paso de Los Libre/AR e Uruguaiana/RS. O gerente de operações da Servimelsa – Chistian Gallegos Melgar, 32 anos de idade, é o encarregado da viagem.

É ele quem define os locais de paradas, de abastecimento e de desembaraço da documentação nas estações aduaneiras. Segue um roteiro pré-estabelecido, porém, às vezes é preciso improvisar. Nessas ocasiões, quando o idioma ou mesmo o sotaque diferente pode atrapalhar nas conversas, o brasileiro Diego Araújo da Silva, 30 anos e 15 de volante, entra em ação. Nascido no interior do Acre, mudou-se para o Peru com a família quando ainda era muito pequeno. Lá começou a dirigir aos 15 anos de idade, já que no Peru não tem limite de idade para dirigir. Como fala bem o idioma Português, Diego atua como tradutor oficial do grupo. “Mesmo falando as duas línguas e viajando muito, ainda não consegui arranjar uma namorada”, brinca. Além de servir como intérprete e de cozinhar para
os companheiros, obviamente, também dirige um dos caminhões. Aliás, todos têm funções específicas durante a viagem, conforme explica Christian Melgar. Um fica encarregado de lavar a louça, outro das panelas, do recolhimento do lixo e assim por diante. Todos colaboram, ressalta.

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Grupo de motoristas do Peru está acostumado a percorrer estradas de vários países da América do Sul, sempre com todo o planejamento feito antes de cada viagem

O grupo costuma transportar cargas entre Peru, Argentina, Chile, Equador, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Bolívia e Brasil, enfrentando sempre o mesmo problema de local para estacionamento. Por isso é necessário haver planejamento detalhado da viagem. Em alguns casos é preciso negociar o abastecimento de alguns caminhões, ou até mesmo assumir o compromisso de fazer despesas no restaurante do posto de combustíveis.

Miguel Juarez, 59 anos e 30 de profissão, está na empresa desde 2003. Natural de Ilo – Moquegua, interior do Peru, também já viajou por muitos países transportando todos os tipos de cargas. Sempre são viagens demoradas e já está acostumado a ficar longe da família. Mesmo assim, mantém contato frequente por telefone ou mensagens de celular. Outro motorista da equipe, Victor Arce, tem 55 anos, 25 de volante e mora em Tacna. Não tem reclamações sobre as estradas, polícias rodoviárias ou dos locais por onde passa. São muitos e muitos quilômetros de estrada por vários países. “Alguns são melhores, outros piores, mas é preciso seguir em frente. Logo tudo fica pra trás”, filosofa.

As viagens são bem esquematizadas, explica o líder da frota, Chistian Melgar. Os caminhões rodam à velocidade de 80 km/h e costumam manter uma distância de aproximadamente um caminhão entre um veículo e outro. Chistian não dirige, normalmente viaja no último veículo. Mas, eventualmente pode alterar essa rotina. A comunicação entre eles é feita via rádio. Os locais de parada são pré-determinados, embora algumas vezes haja a necessidade de improvisar. Pode acontecer de os locais escolhidos estarem lotados, sendo preciso seguir adiante. Mas, em princípio, a jornada começa às 7h da manhã, dirigem até às 11h e para o almoço, retornando à estrada às 13h e viajam até às 17h30.

Não usam tacógrafo e nem diário de bordo para o controle dos horários. Apenas os controles de quilometragem, média de consumo de combustível, essas coisas, explica Melgar. Segundo ele, as despesas da viagem são pagas em dinheiro vivo ou cartão de crédito, dependendo das circunstâncias e dos valores. “Quando o valor é muito alto, o pagamento é com o cartão”, explica. Os caminhões, embora não utilizem tacógrafos, nunca foram incomodados pela Polícia Rodoviária Brasileira para verificação de carga horaria ou velocidade. Tudo muito tranquilo, apenas verificação de rotina, afirma, garantindo que os policiais rodoviários brasileiros são muito gentis e solícitos para qualquer tipo de informação ou ajuda.