Por Nilza Vaz Guimarães

Mesmo tratando-se de um equipamento que permite ao motorista ter sempre no caminhão alimentos como carnes, frutas e embutidos, conservados e frescos, além de sucos e água gelada, entre outros produtos, nem todos os caminhões gozam do privilégio de ter uma geladeira a bordo. Muitos carreteiros admitem sonhar em ter uma à disposição no dia a dia da estrada, no entanto, trata-se de um “luxo” que ainda não está ao alcance de todos, principalmente em razão do preço, item que acaba por levar o estradeiro a investir em outras prioridades.

Quem sente mais a falta de uma geladeira no caminhão são os carreteiros que fazem os trechos de longas distâncias. O baiano Manoel Oliveira, por exemplo, 55 anos de idade, que está habituado a rodar nas rotas entre Salvador/BA e São Paulo/SP, Belém e Fortaleza – transportando diversos tipos de carga – considera essencial ter uma geladeira à disposição durante as viagens. Sempre acompanhado do filho, um rapaz de 22 anos de idade, ele conta que acabou de instalar um novo baú no seu caminhão, reformou a caixa-cozinha e comprou um fogão novo e uma panela de pressão. “Aos poucos fui comprando o restante das peças para preparar uma boa refeição, agora só falta mesmo comprar a geladeira”, detalhou.

Para Manoel Bispo Oliveira, a geladeira é um item essencial no caminhão, principalmente para ele que está acostumado a preparar suas refeições durante as viagens
Para Manoel Bispo Oliveira, a geladeira é um item essencial no caminhão, principalmente para ele que está acostumado a preparar suas refeições durante as viagens

Oliveira diz ter feito pesquisa sobre preços de geladeiras em diversas regiões do País e chegou a encontrar por R$ 2.700,00 na Bahia, enquanto que em São Paulo pode ser adquirida na faixa de R$ 1.200,00 a R$ 1.300,00. “Inclusive estou aqui em Salvador aguardando carga para levar para São Paulo. Se conseguir, eu vou comprar a minha geladeira logo depois que descarregar no cliente”, disse na ocasião. Espera que na própria loja onde irá comprar a geladeira, com capacidade de 28 litros, seja feita a adaptação na lateral do baú de seu caminhão, ao lado da caixa de cozinha, para facilitar. “A geladeira tem congelador, tem tudo. É um frigobar e funciona com uma bateria de 170 Volts. Minha ideia é fazer comida e congelar, assim não será necessário parar na estrada durante o dia para cozinhar embaixo de sol”, explicou, embora afirme que faz um cardápio prático e saboroso, que não poder faltar feijão, arroz, carne e um bom tempero. “O meu feijão cheira longe”, sorri.

O carreteiro justificou a necessidade em adquirir o equipamento destacando também que a cada dia que passa está mais difícil de se alimentar nas estradas, pois os preços em estabelecimentos de beira de estrada estão demasiadamente altos. Em muitos restaurantes e bares ao longo das rodovias, o almoço conhecido como (PF) “prato feito” chega a custar entre R$ 18,00 e R$ 20,00. “Por outro lado, nos que cobram por quilo o valor é R$ 56,00/kg. Estes preços são impraticáveis.Mas não é só isso, pois um pão com ovo na estrada está custando cerca de R$6,00. Um absurdo”. Cita também o diesel e o pedágio e acrescenta que o frete está morto, parado. Em São Paulo chega a esperar até dois dias e em Salvador é pior ainda, pois chega a esperar até oito dias e nesse tempo precisa se alimentar, independente de ter carga ou não para transportar.

Muitas vezes o motorista não encontra lugar para comer, mas se tivesse uma geladeira para levar alimentos este problema seria resolvido, diz Clenio Tadeu Oliveira
Muitas vezes o motorista não encontra lugar para comer, mas se tivesse uma geladeira para levar alimentos este problema seria resolvido, diz Clenio Tadeu Oliveira

O carreteiro mineiro Clenio Tadeu de Oliveira, 53 anos de idade, vive em São Paulo há 35 anos e conta com 30 anos de experiência nas estradas. Ele teve carreta por 15 anos e agora voltou a dirigir um caminhão médio e transporta embalagens de São Paulo para diversas capitais do Brasil. Viaja sozinho, acompanhado por Deus, conforme diz, e costuma ficar longe de casa pelo período de 10 dias e lamenta muito não ter uma geladeira em seu caminhão. “Muitas vezes na estrada, você tem dinheiro, mas não tem onde comprar comida e com uma geladeira poderemos armazenar alimentos”, explica. Não cozinha e costuma comer em restaurantes ao longo das estradas, mas não descarta a ideia de adquirir uma geladeira para o seu caminhão, inclusive já pesquisou preços e diz que se surpreendeu ao ver que o valor é mais alto que o de um modelo duplex com freezer para residência. “Quando der compro a minha”, concluiu.

O carreteiro Gerson Miguel Pinheiro já teve geladeira e afirma que a economia com alimentação é grande, porque os preços nos restaurantes de beira de estrada estão altos
O carreteiro Gerson Miguel Pinheiro já teve geladeira e afirma que a economia com alimentação é grande, porque os preços nos restaurantes de beira de estrada estão altos

Já o carreteiro Gerson Miguel Pinheiro, 37 anos e há 13 na profissão, viveu a experiência de ter uma geladeira em sua carreta, a qual infelizmente foi furtada, enquanto dormia na cabine. Ele havia pago o valor de R$ 2.300,00 e pensa que foi bem utilizada pelo período de um ano e meio mais ou menos. Afirma que a economia é muito grande, pois os preços nos restaurantes estão exorbitantes e, além disso, não é em qualquer lugar que se encontra comida boa, além de, muitas vezes, não ter onde parar para comer, por isso, acrescenta, não basta apenas ter dinheiro no bolso.

Lembra que quando tinha geladeira, muitas vezes compartilhava alimentos de companheiros que faziam a mesma rota que ele. “Temos de ser solidários e aconselho a todos que comprem a sua geladeira. Com certeza o custo benefício vale pelo sacrifício da aquisição, pois ter uma geladeira é essencial”, diz, acrescentando que logo pretende comprar outra. “Agora aprendi, tenho de tomar mais cuidado e fixá-la melhor, para ter garantia de que ninguém poderá retirá-la e levar embora”. Pinheiro lembra que seu caminhão é equipado com a carreta frigorificada, por isso a geladeira pode ser instalada nela mesmo e destaca que se for um caminhão carga seca será preciso fazer adaptação. O carreteiro Luís Alberto Santos da Silva, 45 anos, nascido em Salvador/BA, já está na profissão há 23 anos, não dispensa sua caixa térmica com água e gelo durante o trabalho. Faz a linha entre o Estado do Rio Grande do Norte e as cidades de Petrolina, Aracaju e Salvador transportando frutas e também carga seca na sua carreta. No momento em que foi entrevistado pela Revista O Carreteiro, Luís Alberto disse que estava fazendo mais viagens longas e admitiu que seria ótimo ter uma geladeira no caminhão, pois trata-se de um conforto que lhe faz muita falta, mas acha que o preço é muito alto na região Nordeste.

Ele tem opinião de que as coisas chegam muito caras na região e acredita que se o preço da geladeira fosse menor, um número maior de motoristas poderiam ter uma no caminhão. Ele, por exemplo, tem o costume de fazer a refeição diariamente no caminhão para saber o que está comendo. Comenta que enquanto a prepara foge do trânsito, do estresse da estrada, se distrai e aproveita o horário da parada para bater um papo com os colegas. “A gente fica o tempo todo sozinho, sem conversar com ninguém, e na hora das refeições é bom trocar uma ideia e obter informações”.

Na opinião de Luís Alberto dos Santos, que não viaja sem uma caixa térmica com água e gelo no caminhão, trata-se de um conforto que faz muita falta para os motoristas
Na opinião de Luís Alberto dos Santos, que não viaja sem uma caixa térmica com água e gelo no caminhão, trata-se de um conforto que faz muita falta para os motoristas

Enquanto não compra a sua, Luís Alberto se vira colocando gelo na caixa térmica e brinca dizendo que às vezes dá vontade de entrar no container refrigerado. Durante as férias escolares gosta de viajar com seus filhos, para que eles conheçam um pouco da realidade da profissão, as dificuldades enfrentadas e os percalços ao longo das estradas. “Quando eles vão comigo é indispensável a caixa térmica. Aí eu capricho e abasteço com iogurte, refrigerante e sucos. Eles adoram”, finaliza.

Almerindo Mendes de Souza não prepara sua refeição na estrada por falta de tempo, mas afirma que gostaria de comprar uma geladeira para instalar no caminhão
Almerindo Mendes de Souza não prepara sua refeição na estrada por falta de tempo, mas afirma que gostaria de comprar uma geladeira para instalar no caminhão

Há quatro anos na profissão, o mineiro Almerindo Mendes de Souza, 38 anos de idade, trabalhou muitos anos como taxista e também no transporte de passageiros em motocicletas. Ele transporta frutas (limão, manga e uva) de Minas Gerais para o porto de Salvador/BA, em container refrigerado para exportação. A viagem demora três dias e ele garante que está vibrando com a profissão. “Com este calor que faz aqui no Nordeste, dá até vontade de se refrescar dentro do container, onde a temperatura pode variar de 0 a 7 graus, dependendo da fruta. Pena que ele vem lacrado”, brinca.

Almerindo não cozinha, diz que não tem tempo, porque o tipo de carga que transporta deve atender a escala dos navios e existem horários estipulados para acessar o terminal de containers do porto. “No dia e na hora marcada o caminhão tem de estar pronto para descarregar no navio”, comenta. Cada dia ele come num lugar diferente e chega a pagar entre R$ 18,00 e R$ 25,00 por refeição e diz ainda sente muita dificuldade quando entra na Bahia, onde a comida é muito temperada e a maioria com azeite de dendê. “O tempero baiano é muito forte”, acrescenta o mineiro, que não viaja sem sua garrafa térmica com água e diz que ainda não comprou sua geladeira porque é muito cara na região.

Investimento que se paga

Fabricantes de geladeira para caminhões explicam que a questão da diferença de preços dos produtos entre as regiões do País acontece por conta das alíquotas de impostos como a ST (Substituição Tributária) que às vezes é maior em um Estado em relação a outro. Outros fatores estão relacionados às despesas com fretes e também o próprio giro de cada loja. Eduardo Duarte, coordenador comercial da Elber, fabricante de geladeiras para caminhão com mais de 25 anos de atuação no mercado, diz que os produtos da marca podem ser parcelados em até 10 vezes ou até mais.

“As geladeiras geram economia suficiente para se poder pagar o valor das prestações”, acrescenta, destacando que trata-se de um investimento que vale a pena e traz conforto ao motorista de caminhão. Ainda de acordo com ele, a principal vantagem para o carreteiro é poder carregar a sua comida com qualidade a um custo bem menor, porque ele compra onde é mais barato e conserva na geladeira. “Qualquer lugar onde que ele esteja não precisa se afastar do caminhão para encontrar um restaurante”, concluiu.

Já o gerente de operações da Resfriar, empresa que fabrica climatizadores e geladeiras para caminhões, Thobias W. Cardoso, lembra que a empresa lançou a Geladeira Portátil, de 31 litros, para reduzir consideravelmente o valor e manter as vantagens do modelo Externa, com capacidade para 67 litros, também disponibilizada no mercado. Quanto à instalação no caminhão, Cardoso afirma que as geladeiras produzidas pela Resfriar podem ser fixadas em qualquer tipo de caminhão e diz que o modelo Portátil é uma alternativa para evitar furtos porque pode ser transportada dentro da cabine.

Eduardo Duarte, da Elber, explica que os produtos da empresa são desenvolvidos para todos os tipos de caminhões e que as geladeiras da marca são equipadas com portas e fechaduras antifurtos, característica que tem demonstrado baixo índice de registros. “Temos opções de instalar dentro da caixa de comida, ou em caixa exclusiva para a geladeira. Dispomos de um modelo cujo gabinete externo é feito em madeira, simulando uma caixa de ferramenta como disfarce para este tipo de situação. Mas a grande maioria dos motoristas instala sem proteção mesmo”, finaliza. (DG)