Por Evilazio de Oliveira

A tendência mundial de preservação ambiental, com a produção, consumo e hábitos considerados ecologicamente corretos têm se expandido muito nos últimos anos. Com isso, o transporte rodoviário de cargas – considerado um grande poluidor – também ingressou na política de sustentabilidade do ambiente produzindo motores ecológicos e com menor emissão de gases, destinação adequada para pneus considerados inservíveis e uma série de itens técnicos utilizados nos caminhões. No trecho, o termo ecologicamente sustentável, não chega a ser muito conhecido dos estradeiros. Todavia, cientes da sua responsabilidade na preservação da natureza, não há quem, à sua maneira, contribua para que estradas, postos de combustíveis e cidades fiquem cada vez mais limpas e com menos agressão e destruição ambiental.

Ex-motorista de ônibus, José Carlos Bordin diz que os cursos que fez no passado o ajudaram a ter mais respeito pela preservação da natureza
Ex-motorista de ônibus, José Carlos Bordin diz que os cursos que fez no passado o ajudaram a ter mais respeito pela preservação da natureza

José Carlos Nunes Bordin, natural de Manoel Viana/RS, tem 41 anos e 20 de profissão. Ele conta que trabalhou durante 15 anos como motorista de ônibus e há cinco está no trecho como carreteiro. Gostou tanto que há três decidiu comprar seu próprio caminhão, utilizado no transporte de cargas para São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Nordeste. Diz que o trabalho e os cursos realizados no período em que dirigiu ônibus o ajudaram a ter mais respeito pela conservação da natureza, a cuidar da limpeza e da regulagem do veículo. E com a educação que se traz de berço, evita jogar lixo ao longo das rodovias ou nos locais de estacionamento. Bordin acredita que a situação da limpeza e da preservação ambiental tem melhorado bastante entre os carreteiros, a começar pelos postos de combustíveis e locais de lavagem de caminhões, troca de óleo e de manutenção, todos com sistemas adequados de coleta de resíduos, coisa que não se via até poucos anos atrás. Além disso, a consciência ecológica está em todas as partes. Lembra que na maioria das empresas é feito um rigoroso check list do caminhão para o ingresso no pátio para carregar ou descarregar, obrigando os carreteiros a cuidarem da manutenção do veículo. Salienta que a limpeza dos bicos injetores e da bomba é uma necessidade, mas como custa caro muitos motoristas vão deixando para depois, numa economia que acaba saindo caro. Adverte que além do excesso também é preciso lembrar o aumento no consumo de combustível. Todavia, como em todas as atividades, entre os carreteiros também existem aqueles que se preocupam com a natureza e cuidam para manter os estacionamentos e as estradas limpas. “Tudo, no entanto, é uma questão de educação e que vem de casa”, acentua.

Sandro Pereira garante que faz o básico para não agredir o meio ambiente, mas lembra que as autoridades são rigorosas para se fazer cumprir as leis ambientais
Sandro Pereira garante que faz o básico para não agredir o meio ambiente, mas lembra que as autoridades são rigorosas para se fazer cumprir as leis ambientais

O carreteiro Sandro Pereira Rodrigues, de Araranguá/SC, 38 anos e 18 de volante, afirma que em termo de sustentabilidade do planeta ele faz apenas o suficiente para viver como uma pessoa educada, sem agredir a natureza e nem sujar ou depredar o ambiente. Motorista de uma carreta em viagens entre São Paulo, Chile e Peru garante que faz o básico para a preservação e conservação do meio ambiente. Para isso ele reúne todo o lixo produzido durante a viagem em sacos plásticos para o posterior descarte em locais apropriados nos pontos de paradas. Reconhece que o transporte rodoviário de cargas – pelo volume de caminhões circulando nas rodovias – é um grande poluidor e ao motorista só resta a obrigação de manter o seu caminhão bem regulado e não jogar lixo em qualquer lugar. Acredita que para garantir a sustentabilidade do planeta as autoridades deveriam fazer cumprir com rigor as leis existentes, punindo as grandes empresas poluidoras, essas sim responsáveis pelos grandes danos à natureza. Na opinião de Rodrigues, se cada um fizer a sua parte, tudo fica mais fácil para todos, inclusive para a preservação da natureza.

Na opinião de Roberto Gutterres, resta pouco para o motorista de caminhão fazer, mas lamenta que muitos motoristas não se preocupem com o assunto
Na opinião de Roberto Gutterres, resta pouco para o motorista de caminhão fazer, mas lamenta que muitos motoristas não se preocupem com o assunto

Roberto Gutterres Ortiz, 42 anos e 20 de profissão, dirige na rota Brasil, Argentina e Chile e segundo ele os responsáveis pelos desequilíbrios que ocorrem na natureza são as autoridades, pela falta de uma fiscalização mais enérgica. Acrescenta que ao motorista de caminhão resta pouco a fazer, a não ser cuidar do recolhimento do lixo que produz na boleia ou ao cozinhar, manter o caminhão limpo e bem regulado e preservar os locais de estacionamento, embora muitos colegas ainda não se preocupem com esse assunto. Tudo é uma questão de educação, diz, por isso a necessidade dos pais ensinarem aos filhos o dever de cuidar e preservar a natureza. Casado com uma professora, e pai de um filho com 20 anos, ele destaca que temas relacionados com a sustentabilidade sempre foram levados a sério em sua casa. “É aquela história, se precisar mesmo cortar uma árvore, temos o dever de plantar ao menos duas para substituí-la”. Nas estradas um bom exemplo dado pelas autoridades é sobre o descarte de pneus usados – lembra – que até pouco tempo eram queimados na beira das estradas e agora são todos recolhidos. “Não se vê mais pneus velhos abandonados por aí. Ou ficam no borracheiro ou na revenda, na hora da troca”, ressalta.

Nas viagens que leva o filho, Valmir Antônio Ghisleni o ensina a juntar as sobras de alimentos e de materiais em saquinhos para descartar em local adequado
Nas viagens que leva o filho, Valmir Antônio Ghisleni o ensina a juntar as sobras de alimentos e de materiais em saquinhos para descartar em local adequado

Na opinião de Valmir Antônio Ghisleni Filho, 35 anos e 17 de profissão, de uns tempos para cá as pessoas começaram a se preocupar mais em preservar o planeta, com a tal sustentabilidade e com o aquecimento global. Segundo ele, todos devem fazer a sua parte, dentro do possível. É por isso que não joga lixo na rodovia – a não ser ‘toco’ de cigarro – e procura sempre manter o caminhão bem regulado para evitar a fumaceira. Natural de Santo Ângelo/RS, ele dirige uma carreta em rotas nacionais e internacionais. Conta que durante as viagens em que leva o filho Lucas, de 11 anos, sempre procura ensiná-lo a juntar as sobras de alimentos ou garrafas plásticas em saquinhos para depois depositá-las nos locais adequados, em postos de combustíveis ou nas empresas onde vai carregar ou descarregar. “Essas coisas devem ser ensinadas desde cedo”, afirma, mesmo reconhecendo que no trecho poucas pessoas se preocupam com a limpeza e a preservação ambiental. “Já que tudo está uma bagunça, de que adianta eu ficar juntando lixinho aqui e acolá, dizem”. Ghisleni também critica a falta de fiscalização para os caminhões ‘fumacentos’ que rodam nas rodovias, principalmente numa época em que todos estão empenhados numa campanha de ajudar a limpar e a conservar as estradas, postos de combustíveis, ruas e cidades. Ele ressalta também que tudo isso é resultado de uma boa criação e educação familiar.

O chileno José Rafael Castañera lembra que em seu país a inspeção de caminhões é semestral e o veículo tem de estar em dia para obter autorização para trafegar
O chileno José Rafael Castañera lembra que em seu país a inspeção de caminhões é semestral e o veículo tem de estar em dia para obter autorização para trafegar

O chileno José Rafael Herrera Castañera, 47 anos e 20 de estrada – natural de San Felipe, localidade distante 80 quilômetros de Santiago – conta que, por lei, é obrigado a fazer uma inspeção geral do caminhão a cada seis meses, a um custo de US$ 80,00. Nessa inspeção são verificados diversos itens, entre os quais a emissão de fumaça pelo escapamento. Se algum dos itens verificados não estiver de conformidade, a autorização para trafegar não é liberada e o caminhão precisará passar por nova inspeção. Se mais uma vez os problemas não tiverem sido resolvidos, será necessário o pagamento da taxa inicial. Com isso, as autoridades chilenas cuidam do meio ambiente ao mesmo tempo em que previnem acidentes nas estradas em razão da falta de manutenção do veículo, conforme explica. Cabe ao condutor a tarefa de manter limpas as rodovias e pontos da paradas, jogando o lixo nos locais adequados e mantendo o seu caminhão sempre em condições, sem vazamentos de óleo ou qualquer outro inconveniente que seja prejudicial a outras pessoas. Segundo ele, são os turistas que mais sujam as estradas, jogando restos de comida, lixo e garrafas pelas janelas dos veículos. Garante que os motoristas de caminhão são mais conscientes, pois, afinal, eles vivem nas estradas e todos gostam de ver um ambiente bonito e saudável. Além disso, há a preocupação com o futuro do planeta Terra, para que seus filhos e netos tenham uma vida melhor, com acesso à natureza, ao verde e a todos os encantos que as pessoas veem ao viajar pelas estradas, sobretudo as brasileiras.

Patrício Martinez Vicuña considera que manter o caminhão regulado, sem fumaça preta e vazamentos de óleo, é dever de todo motorista
Patrício Martinez Vicuña considera que manter o caminhão regulado, sem fumaça preta e vazamentos de óleo, é dever de todo motorista

Outro carreteiro chileno, Patrí­cio Martinez Vicuña, 50 anos e 32 de profissão, natural de Santiago e dono de um Pegaso 74 espanhol, acoplado (Romeu e Julieta) – considera que é um dever do motorista de caminhão manter o seu veículo nas melhores condições possíveis, evitando fumaça no escapamento ou qualquer tipo de vazamento que vá causar danos às pessoas ou ao meio ambiente. Firma que também não joga lixo pela janela e cuida da cabine da mesma maneira que cuida de sua casa e também das rodovias e postos de combustíveis. Essa é a contribuição que o motorista de caminhão pode dar em termos de sustentabilidade do planeta, afirma, ao mesmo tempo em que igualmente critica os turistas pela sujeira nas estradas, estacionamentos, restaurantes e mesmo nas rodovias, onde são jogados papéis, garrafas vazias, cascas de frutas, latas e todos os tipos de lixo. Segundo ele, os motoristas mais jovens também não são muito cuidadosos nesse aspecto, sendo necessário um pouco mais de educação e amadurecimento para os estradeiros e turistas em geral.