Por João Geraldo

Sexta maior nação do planeta em área terrestre – depois de Rússia, Canadá, China, Estados Unidos e Brasil – formada por seis Estados e dois territórios, a Austrália conta com uma malha rodoviária de 338 mil quilômetros de estradas asfaltadas e frota de 445 mil caminhões rígidos, mais 72 mil veículos de carga articulados, além de outros tipos, conforme dados de 2006. Trata-se de um país caracterizado pelo transporte de longa distância, em rotas na maioria das vezes planas que viabilizam a aplicação de grandes composições, como o road train.

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Basta entrar numa rodovia para perceber que o mercado local de veículos pesados tem forte influência do padrão norte-americano, em que a preferência recai sobre modelos com capô. Por conta disso, caminhões Peterbilt, Kenworth e Mack, além de outros modelos da indústria dos Estados Unidos são comuns nas estradas do país. Somando com as marcas de outros países, a Austrália conta com um grupo de 16 marcas de caminhões na faixa acima de 16 toneladas de PBT. Em 2007, considerado um ano bom, o mercado absorveu 13 mil unidades.

Neste cenário, onde o transporte rodoviário de longa distância e motores de alta potência têm grande importância, a Volvo produz caminhões também da marca Mack, que pertence ao grupo sueco. Com fábrica na Austrália desde 1972, embora esteja presente no país há mais tempo, as duas marcas dividem a mesma linha de montagem na planta instalada em Wacol, Costa Oeste do continente australiano.

Peter Hertinge comanda o desafio de produzir duas marcas de caminhões na mesma fábrica
Peter Hertinge comanda o desafio de produzir duas marcas de caminhões na mesma fábrica

Peter Hertinge, presidente da Volvo Commercial Vehicles Austrália, diz que os caminhões produzidos pela empresa que dirige estão bem posicionados no transporte de longas distâncias, no qual a demanda é por veículos confortáveis, seguros e com equipamentos que possam facilitar a vida do motorista. Ele cita que a Volvo levou um novo conceito para a Austrália, quando lançou naquele mercado a caixa de câmbio automatizada I-Shift e os motores de 14 e 16 litros, no modelo FH, que, segundo afirmou, agradou muito aos clientes. “A Austrália é um mercado competitivo, mas nossos produtos levam a carga com eficiência de um ponto ao outro nas longas distâncias, com conforto e segurança, além de respeitarem o meio ambiente”, acrescentou. Cerca de 80% dos caminhões Volvo (FH e FM) saem da fábrica com caixa automatizada, sendo que o índice maior – de quase 100% – é na linha FH.

Uma das primeiras ações da empresa para administrar as duas marcas no mercado australiano e não haver confronto foi definir que a Volvo (que produz caminhões somente com cabine avançada – na faixa de potência de 240 a 660cv – ficaria concentrada no segmento de longa distância, enquanto a Mack com os modelos “bicudos” na faixa de 260 a 620 cv com as aplicações mais específicas. O executivo explicou que todos os motores utilizados nos modelos Volvo são da própria marca e vêm da Suécia, enquanto os Mack são equipados com propulsores da própria marca ou Cummins, importados dos Estados Unidos.

Volvo (esquerda) e Mack são montados na mesma linha de produção
Volvo (esquerda) e Mack são montados na mesma linha de produção

“Esta estratégia nos permitiu perceber que na Austrália existe bastante influência da tradição e valores com outras marcas. Os clientes alinhados com produtos europeus preferem o trem-de-força da mesma marca, já os de outras marcas trocam mais componentes nos veículos”, explicou Hertinge. Ele explica que nas aplicações mais pesadas o modelo FH 16 de 660cv – lançado no país em fevereiro de 2008 – tem vantagem no mercado, além de não ter concorrente local. Porém, lembra que na Europa, o mesmo veículo transporta menos peso e em melhores condições climáticas.

As cargas na Austrália, de 55 ou de 105 a 130 toneladas, exigem muito do equipamento e neste aspecto, o Volvo com motor de 16 litros aquece menos que os demais. E por operar uma marca européia e outra norte-americana, a empresa conta com as duas tecnologias mais atuais para atender a norma de emissões Euro 4 no país, a SCR (com catalisador) e a EGR, com recirculação dos gases, nos Mack. Quanto às grandes composições que rodam nas estradas do País, tracionadas por potentes cavalos-mecânicos, como o Volvo FH 660 e o Mack 620, Peter Hertinge é enfático: “todo mundo fala dos rodotrens na Austrália, mas o volume não é tão grande assim”, finaliza.

UM MARCO NA HISTÓRIA

Mona Edstrom Frohm, gerente geral da fábrica de Wacol, conta que desde a inauguração da planta na Austrália, o primeiro investimento ocorreu em 1991, quando foi instalado um sistema para longarinas (chassi) dos caminhões. Depois disso, somente em 1996 houve um incremento nas instalações de pintura, e o ano de 2002 ficou como um marco na história da empresa, pois foi quando houve a integração das duas marcas.

Sergio Kunzel diz que com a crise, as vendas caíram na Austrália
Sergio Kunzel diz que com a crise, as vendas caíram na Austrália

A fábrica de Wacol tem área de 74.490m² e mais de quinhentos funcionários, incluindo escritórios e produção, e capacidade para montar 16 caminhões por dia, das duas marcas. O recorde da fábrica aconteceu em 2007, ano em que a produção atingiu 2.708 unidades (1.257 Volvo e 1.451 Mack). No ano passado, houve um recuo para 2.087 unidades, (sendo 1.223 Volvo e 864 Mack) e as vendas totalizaram 1.884 veículos (1.115 Volvo e 769 Mack). Sergio Kunzel, gerente da engenharia de produção da Volvo Austrália, explica que a diferença entre produzidos e vendidos basicamente ficou no estoque, mas lembra que naquele continente também houve uma desaceleração no final do ano passado, por conta da crise financeira. “Além disso, os volumes da Mack caíram muito devido a problemas na introdução do novo modelo”, explica. O mercado total na Austrália ficou em 11.772 caminhões.

Mack e Volvo tem 10% de peças intercambiáveis, lembra Mona Edstrom
Mack e Volvo tem 10% de peças intercambiáveis, lembra Mona Edstrom

Desde a inauguração, a empresa já montou mais de 38 mil caminhões na Austrália. Mona Edstrom esclarece que a produção não opera pelo sistema de CKD e que a fábrica compra as peças que precisa para montar os veículos das duas marcas, as quais têm 10% de peças intercambiáveis. Ela acrescenta que em quase 90% dos pedidos para a marca Volvo os clientes solicitam customização do caminhão, sendo que chega quase a 100% no caso da Mack. “Após ser feito o pedido, as peças demoram para chegar à fábrica aqui na Austrália. Da Europa são 13 semanas, dos Estados Unidos outras 17. Se for da própria Austrália são apenas três semanas”, explica. No caso da entrega do caminhão, Mona diz que o prazo a partir do pedido são oito dias até o cliente receber o produto. Além do mercado australiano, a fábrica atende também a vizinha Nova Zelândia, país cujas vendas totais em 2008 foram de 1.772 caminhões. Deste total, 195 saíram da fábrica da Wacol, sendo 116 da marca Volvo e 79 da Mack. A fábrica monta as linhas Volvo FM e FH, enquanto da Mack disponibiliza os modelos Trident Granite, Titan, Metroliner e Superliner e tem a expectativa de passar a receber peças da China, o que reduziria o prazo de entrega dos veículos de oito para seis dias