Por Elizabete Vasconcelos

Desde o dia 1º de janeiro, o setor de transportes vive um momento de mudanças significativas. Nesta data, todos os caminhões produzidos no País passaram a atender novas regras ambientais, que exigem menores níveis de emissões. Com isso, além de novas tecnologias agregadas aos veículos, para atender a legislação do Proconve P-7, outra novidade surge no segmento: a utilização de um combustível com menos enxofre. Trata-se do diesel S-50, que está sendo ofertado em mais de 4 mil postos de combustíveis em todo o território nacional.

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O diesel S-50, tem menos partículas de enxofre por milhão, e chega aos postos mais caro que o S-1800

Para que esse número de estabelecimentos ofertando o produto fosse possível, a ANP (Agência Nacional de Petróleo), determinou – por meio da resolução 62/2011 – que além dos 1.100 postos que já disponibilizavam o produto, outros 3.100 pontos passariam a comercializar o novo diesel. Os postos foram escolhidos supondo uma autonomia mínima de 100 quilômetros para os veículos pesados, conforme informou a assessoria de Imprensa da Agência. “O universo abrangeu os postos em que o número de bicos para abastecer motores a diesel fosse superior ao de bicos para veículos com motores do ciclo Otto (gasolina e etanol)”, disse em comunicado. Com a obrigatoriedade, os postos indicados para a venda do diesel S-50 flagrados pela fiscalização da ANP sem o produto estarão sujeitos a multa que varia de R$ 5 mil a R$ 2 milhões, segundo a lei 9.847/99.

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Tecnologia SCR provoca reação química e transforma gases poluentes em vapor de água

No entanto, o Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo), diz que o prazo dado pelo órgão para adequação dos postos foi muito curto, tendo em vista que apenas para viabilizar a instalação de um novo tanque de combustível é necessário que o projeto seja autorizado por, pelo menos, três órgãos: Prefeitura, ANP e Cetesb. Com isso, segundo o presidente da entidade, José Alberto Paiva Gouveia, há projetos que podem levar até um ano para serem concluídos. Gouveia destaca ainda que para se ter um tanque, uma bomba e um filtro para disponibilizar o produto são necessários recursos financeiros de aproximadamente R$ 80 mil. “Não somos contra a entrada de um novo combustível no mercado, entretanto, precisamos de condições para viabilizar isso. Não é só impor regras”, protesta.

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Resolução da ANP prevê mais 3.100 pontos de comercialização do novo diesel, além dos 1.100 que já oferecem o combustível

Ricardo Hashimoto, diretor de rodovia da Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes), acrescenta ainda que a decisão da ANP, no início de dezembro, pegou a todos de surpresa, porque incluiu estabelecimentos que não pretendiam vender o produto e deixou de fora outros que tinham a intenção. “Sem falar que a decisão criou a desconfortável situação de obrigar um posto a comprar um produto, sem haver a compulsoriedade das companhias fornecerem o combustível. O problema é particularmente grave, quando envolve postos independentes (bandeira branca) ou postos pequenos, já que estes não são prioridades para as grandes companhias distribuidoras”, argumenta.

Atualmente, a distribuição para as revendas é realizada por 14 polos de suprimento da Petrobras e 49 bases de armazenagem e distribuição. Segundo a estatal, a expectativa é que o mercado brasileiro consuma este ano cerca de 6 bilhões de litros do diesel S-50, o dobro do consumido em 2011. Entretanto, de acordo com a Gerência de Imprensa e Comunicação Institucional da companhia, “o consumo estimado dependerá das vendas de novos veículos com nova motorização. Portanto, o aumento da demanda pelo S-50 seguirá o crescimento da frota de veículos com tecnologia para atender as regras do Proconve P-7”. Por enquanto, a demanda tem sido baixa. De acordo com Hashimoto, isso se deve, principalmente, ao elevado preço do diesel. “Em média, o preço do litro do diesel S-50 tem chegado a ser cerca de R$ 0,12 mais caro que o S-1800. Ele custa R$ 0,06 a mais nas refinarias e possui uma logística de transporte também mais cara, já que demanda de cuidados redobrados para evitar contaminação e envolve quantidades menores, o que inviabiliza o uso das redes atuais de dutos e implica que todo transporte seja feito por via rodoviária. “É importante lembrar também, que boa parte dos novos veículos (os que incorporam o sistema SCR), precisa utilizar também do ARLA32 que custa cerca de R$ 4 a R$ 5, o litro”, destaca.

O ARLA32 é um agente líquido, que contém ureia, armazenado em tanque próprio no caminhão, injetado no sistema de escapamento do veículo. Quando submetido à alta temperatura, a ureia em sua composição se transforma em amônia e se mistura aos gases do escape. Essa mistura é transportada até o catalisador, onde reage com óxidos de nitrogênio (NOx) transformando-os em nitrogênio e vapor de água, substâncias inertes que existem naturalmente no meio ambiente. Para o representante da Fecombustíveis, “como ainda são poucos os veículos novos que estão no mercado, a demanda pelo produto tem ficado restrita a curiosos ou àqueles que só utilizam diesel aditivado. Isso porque alguns estabelecimentos trocaram o diesel aditivado pelo S-50, pois não dispunham de tancagem ociosa, e o novo combustível é bastante suscetível à contaminação, exigindo tanques, bombas e sistema de filtragem segregados”.

Nordeste tem mais diesel S-50
A região Nordeste é a com maior número de postos adaptados à oferta do diesel S-50, com destaques para os Estados do Ceará e Pernambuco. Na resolução da ANP, constam que 1.680 postos da região oferecem o combustível. Este resultado deve-se, principalmente, ao fato que desde 1º de maio de 2009 o S-50 passou a ser comercializado como único tipo de óleo diesel rodoviário nas regiões metropolitanas de Fortaleza/CE, Recife/PE e Belém/PA (na região Norte). No período entre 2009 e 2011, o diesel S-50 substituiu o diesel S-500 nas frotas de ônibus das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, além dos municípios de Belo Horizonte/MG, Porto Alegre/RS e Salvador/BA.

Em relação ao restante da lista de postos com o novo combustível, a posição do Sudeste chama a atenção, pois apesar de ter a maior malha rodoviária do País figura em segundo lugar em número de postos entre as que possuem estabelecimentos obrigados a oferecer o S-50, aproximadamente. São, no total, 840 postos em 26.778 quilômetros de estradas (EV).