Por Valdir dos Santos

O número de caminhões em circulação no País aumenta a cada dia com o crescente mercado de novos somados aos antigos que continuam em operação. Com isso, a oferta de transporte fica maior que a demanda de cargas, que não cresce na mesma proporção. Esse excesso de oferta achata o valor do frete, prejudicando mais os autônomos, cuja renda não lhes permite trocar o caminhão velho por um mais novo.

Esta situação é comprovada nas estatísticas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que mostram a frota mais velha nas mãos dos transportadores autônomos. Em agosto de 2008, o Registro Nacional do Transportador Rodoviário de Cargas (RNTRC) acusava a existência de 1.813.757 veículos de carga (caminhões, cavalos- mecânicos, reboques e semi-reboques), com idade média de 16,2 anos.

Em janeiro de 2006, quando foi divulgado o primeiro levantamento do RNTRC, o total era de 1.434.888, ou seja, 26,1% a menos, e a idade média era de 14,7 anos.

Esse aumento da frota em 32 meses não se refere apenas à venda de 231.694 caminhões novos (dados da Anfavea) mais 88.800 reboques e semi-reboques (números da ANFIR), mas também ao acréscimo de registros que não haviam sido feitos antes.

Se em janeiro de 2006 a idade média da frota era de 14,7 anos, a dos autônomos, que representavam 56,6% do total, era de 19,1 anos. Em agosto deste ano, a idade média em geral subiu para 16,2 anos com a contribuição dos veículos dos autônomos, que avançaram para 21 anos em média, apesar de a participação ter diminuído um pouquinho, para 56,2%.

A frota das empresas, por outro lado, aumentou a participação de 42,9% para 43,3% e a idade média aumentou apenas um ano nesse período, de nove para dez anos. A frota das cooperativas, que representava 0,5% do total, encolheu para 0,41% e a idade média, que era de 11 anos, aumentou para 13,4 anos. (Veja as tabelas).

Aumento da frota em 32 meses
Transportador Nº de veículos Participação %
jan/2006 ago/2008 jan/2006 ago/2008
Autônomo 811.816 1.019.780 56,6 56,22
Empresa 615.481 786.493 42,9 43,36
Cooperativa 7.591 7.484 0,5 0,41
Total 1.434.888 1.813.757 100,00 99,99
Envelhecimento acelerado
Transportador Idade Média
jan/2006 ago/2008
Autônomo 19,1 21,0
Empresa 9,1 10,0
Cooperativa 11,4 13,2
Total da frota 14,7 16,2

Fonte: ANTT

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O professor Márcio de Almeida D’Agosto, do Centro de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não vê saídas em curto prazo para a situação dos autônomos, que estão vendo sua frota ficar cada vez mais velha e aumentar a distância do caminhão novo.

“O motivo não é só a falta de sucateamento dos caminhões antigos e o aumento da venda de novos, que fazem aumentar a oferta de transporte achatando o frete do autônomo”. O buraco é mais embaixo, acrescenta ele, ao criticar o desequilíbrio entre os modais. “Enquanto prevalecer os 60% do rodoviário sobre apenas 20 e poucos por cento do ferroviário e 10% do aquaviário, os caminhões continuarão fazendo viagens de longa distância e transportando carga típica de trens e navios e ganhando pouco”. Para D’Agosto, o caminhão deve fazer as pontas das grandes viagens e ser mais bem remunerado. Ele cita países de extensão territorial semelhantes a do Brasil como Índia, China, EUA e Canadá, onde há equilíbrio entre modais e não falta carga para ninguém.

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O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo ele, deve contribuir para melhorar a logística de cargas, devido aos investimentos que estão programados para a infra-estrutura dos transportes, como portos, ferrovias e estradas. D’Agosto defende mais facilidades de acesso aos financiamentos para os autônomos na compra de veículos novos e semi-novos, com juros menores que os de mercado, com apoio de instituições financeiras do governo, como o BNDES, cujas tentativas anteriores não deram certo.

Além disso, os veículos muito velhos devem ser retirados de circulação, mas este é o ‘calcanhar de Aquiles’ da situação, porque não depende apenas do governo. As montadoras deveriam receber as sucatas como parte do pagamento de um caminhão novo, como já fazem em outros países. “Mas, enquanto o mercado estiver aquecido, com filas de espera para comprar caminhão, as fábricas não irão oferecer esse tipo de incentivo”, opina D’Agosto.

O ideal para baixar a idade média seria conjugar essas duas medidas: acelerar a venda de novos e eliminar os caminhões velhos, que são pouco produtivos, porque quebram mais, atrapalhando o trânsito nas ruas e estradas, consomem mais combustível e lubrificante, são mais vulneráveis a acidentes e mais poluidores.