Por Evilazio de Oliveira

A utilização de cartões pré pagos para o pagamento de combustível, recebimento dos adiantamentos de viagens (em substituição à carta-frete) ou pagamento de pedágios – entre outras despesas de viagens – ainda não convenceu grande parte dos motoristas de caminhão. A transição entre o uso de cheques de empresas, trocados em postos conveniados e quase sempre submetidos à exigência do abastecimento de um determinado percentual sobre o valor do documento; da assinatura da nota ou mesmo do pagamento em dinheiro vivo – parece estar ocorrendo de uma maneira muito lenta. Isso, pelo menos, entre autônomos e empresas de menor porte.

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Embora saiba das mudanças nas operações na estrada, Mateus Mayer afirma que não gosta de utilizar cartões para qualquer tipo de despesa

O carreteiro autônomo Mateus Mayer, 31 anos e 10 de estrada, natural de Giruá/RS, conta que desistiu de trabalhar no transporte internacional por causa da burocracia com documentos e liberação de cargas em aduanas, além da “perseguição” dos policiais rodoviários argentinos em relação aos motoristas brasileiros. Há três meses ele trabalha só na região Sul do País e confessa que não gosta nem um pouco de utilizar cartões para o pagamento de qualquer tipo de despesa. Prefere dinheiro vivo, embora saiba que as coisas estão mudando.

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As despesas do dia a dia Norlei Kappes paga em dinheiro, mas o abastecimento do caminhão, inclusive no exterior, é feito em postos conveniados com a empresa

No momento em que falava com a reportagem da Revista O Carreteiro, Mayer negociava a possibilidade de trocar uma carta-frete por algum dinheiro, embora lembrasse que possui dois cartões, um para pedágio e outro para abastecer. Porém evita utilizá-los. Como não se acertou com o gerente do posto na quantidade de combustível que precisava abastecer para retirar em dinheiro a quantia que necessitava, ele desistiu e seguiu em frente para tentar a troca em outro posto. Sabe que a carta-frete também é ilegal, porém, “fazer o quê?”. Mas, utilizar os cartões, só em último caso, embora muitas empresas estejam exigindo, conforme admite. Na ocasião ele estava viajando com a mulher e um filho pequeno, todos ansiosos para chegar em casa.

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Vicente Augusto carrega cheque da empresa para abastecer em postos conveniados. Para o pedágio tem chip no caminhão que libera as cancelas

Natural de Bento Gonçalves/RS, o estradeiro Norlei Roberto Kappes, 38 anos de idade e 20 de estrada, transporta móveis para o Chile. Quando trafega por estradas brasileiras pedagiadas utiliza um sistema de pagamento mensal, através de um chip instalado no para-brisas do caminhão. No exterior, paga em dinheiro. Como todas as viagens são programadas, ele só abastece nos postos conveniados com a sua empresa, assinando a nota, sem problemas. O mesmo acontece na Argentina ou Chile, abastecendo sempre nos mesmos locais e assinando notas. Para as despesas do dia a dia nas viagens, também paga em dinheiro vivo.

Kappes tem dois cartões para utilizar em viagens, ambos vencidos, e que ainda não se preocupou na renovação porque não são necessários. Ele só utiliza cartão do banco da sua conta particular, o qual fica com a esposa, já que está habituado a permanecer até 20 dias fora de casa. “A empresa dá assistência, mas para uma emergência é bom estar prevenido”, afirma. Garante que não tem nada contra o uso de cartões para o pagamento de pedágios ou de combustíveis, apenas – pelo menos por enquanto – são dispensáveis.

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José Wellington Feitosa também troca cheques em postos de serviço conveniados e afirma que está muito bom e só usa cartão de sua conta bancária particular

Outro estradeiro que também não utiliza cartões, mesmo reconhecendo as vantagens em termos de segurança e facilidades, é o cearense Vicente Augusto Albuquerque Júnior, 32 anos de idade e 12 de profissão. Ele dirige uma carreta transportando veículos novos e usados de São Paulo para o Nordeste e afirma que não utiliza nenhum tipo de cartão nas viagens. Nos pedágios, tem passe livre através de um chip que libera as cancelas, para abastecimento e demais despesas leva cheques da empresa, para serem trocados em postos conveniados. Diz que se precisar de mais dinheiro liga para a empresa e o depósito é feito de imediato, conforme explica. Ao final da viagem é feita a prestação de contas, com a apresentação de notas fiscais e comprovantes das despesas, tudo de uma maneira muito simples e eficiente, garante. O companheiro de viagem e colega de empresa, José Wellington Feitosa, 49 anos, 15 de profissão, que viaja com outra carreta, também só utiliza cartão se for para operações em sua conta bancária particular. Segundo ele, tudo está muito bom com a utilização dos cheques para troca nos postos conveniados e o pagamento dos pedágios com o chip instalado no para-brisas. Tudo muito bom, garante.

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Nas estradas brasileiras Márcio Cardoso utiliza cartão para pagamento de pedágio, mas afirma não ter ainda opinião formada sobre esta questão

Para o cegonheiro Márcio Cardoso Guilherme, 28 anos, seis de profissão, natural de Eldorado do Sul/RS, que faz a rota Gravataí/RS – Rosário (Argentina), o uso do cartão para o pagamento de pedágio fica restrito ao território nacional. Às vezes, quando viaja para Curitiba/PR ou São Paulo/SP, o cartão tem mais serventia. Costuma abastecer em postos conveniados e paga quase sempre com dinheiro vivo, da mesma maneira como paga os pedágios das estradas argentinas. Confessa que não tem opinião formada sobre o uso de cartões na estrada, se efetivamente possam valer a pena. Ressalta, todavia, que em termos de segurança é uma boa opção, evitando ao motorista ter de carregar dinheiro vivo, que pode ser perigoso.

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Ivis Bervian usa dois cartões na estrada para pagamento de pedágio e abastecimento do caminhão, mas carrega dinheiro para emergências

O carreteiro Ivis Bervian, natural de Cândido Godói/RS, tem 42 anos e sete de estrada, transporta produtos químicos de Belo Horizonte, São Paulo ou Curitiba para as indústrias papeleiras da Argentina e Uruguai. Ele utiliza dois cartões para o pagamento de pedágios e abastecimento do caminhão e afirma estar muito contente. Leva sempre uma reserva em dinheiro para despesas eventuais e pagamento de pedágios em território estrangeiro, porém, sempre que possível, utiliza os cartões. Acredita que no final do mês, ao receber a fatura, até possa ter feito economia em razão dos convênios que as administradoras têm com determinados postos. Enfim, está contente e acha que mais motoristas deveriam trabalhar com cartões para o pagamento de contas e recebimento dos fretes.

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O cartão particular de Antônio Zarzicki fica em casa com a esposa, mas na estrada utiliza cartões para pagamento de suas despesas e afirma que não tem como errar

Natural de Guarani das Missões/RS, o carreteiro Antônio Zarzicki, 60 anos de idade e 40 de profissão, transporta produtos químicos para países do Mercosul. Está há 11 anos e seis meses na empresa e diz estar muito feliz. Hoje ele mora em Manoel Viana, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, e muitas vezes fica longe de casa até 40 dias. Quando conversou com a reportagem da Revista, Zarzicki aguardava a liberação do caminhão na aduana para seguir viagem para a Argentina.

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O frentista Claiton Romário diz que apesar de haver certa resistência dos motoristas em relação aos cartões, a utilização tem crescido muito ultimamente

Costuma carregar em Belo Horizonte ou São Paulo e, no período em que está longe da esposa e dos filhos, todos adultos, utiliza o telefone para saber notícias. Liga todos os dias, de onde estiver. Utiliza telefone com três chips, um para cada país por onde passa, para se comunicar com a família e com a empresa. Gosta de tecnologia, por isso não se atrapalha com os vários cartões que dispõe para pedágio, abastecimento e o CTF, que controla tudo, conforme explica. “Não tem como errar”, afirma. E o cartão da conta particular fica em casa, com a mulher, para as despesas ou para algum imprevisto.

Enquanto confere o valor do abastecimento do caminhão, o gerente de pista do posto Mercosul 2, na BR-290, em Uruguaiana/RS, Claiton Romário de Oliveira Severo, 23 anos e há três no cargo, diz que não vê nenhum tipo de inconveniente no uso dos cartões nas viagens. Ele comenta que apesar de ter havido uma certa resistência inicial dos motoristas, a utilização tem crescido muito nos últimos tempos. Destaca que por motivo de segurança, as pessoas têm preferido os cartões e que poucos motoristas de caminhão pagam ainda em dinheiro vivo. Há os que assinam nota, pagam com cheques das empresas ou mesmo com carta-frete. O posto, cuja maior clientela é formada por estradeiros de “tiro longo”, aceita praticamente todos os tipos de cartões, sem restrições, apostando no crescimento cada vez maior desse mercado, enfatiza.