Por João Geraldo

Apesar do crescimento da safra de grãos em relação a 2014, as vendas de caminhões no Estado do Mato Grosso – maior produtor de grãos do País – encontram-se em um de seus piores momentos dos últimos anos . A queda nas vendas no primeiro trimestre de 2015, segundo profissionais da área de vendas chega a ser de 50%. Entre as razões apontadas para a retração do mercado estão as taxas de juros do Finame – tidas como altas – e a burocracia para se conseguir financiamento, embora haja quem defenda que atualmente existam mais caminhões do que carga para ser transportada. Isso tanto em razão do grande volume de veículos, vendidos a partir de oito anos atrás, quanto pelo ingresso de muita gente nova no segmento do transporte rodoviário de cargas. De acordo com Jonatas Pereira, assistente de vendas da Torino Veículos, concessionário Iveco com unidades em Cuiabá e Rondonópolis, a média de vendas de caminhões de janeiro a dezembro de 2014 chegou a ser de 24 a 25 caminhões por mês, mas este ano caiu muito. “Em 2014, o mercado geral (todas as marcas) tinha vendido 205 unidades entre janeiro e fevereiro, mas este ano chegaram a apenas 30 unidades dentro do Estado do Mato Grosso no mesmo período”, contou.

Em sua opinião, as novas regras do Finame tiveram influência na queda das vendas de caminhões extrapesados e isso aconteceu principalmente em razão do valor da entrada. Carnaval e movimento dos motoristas de caminhão no final de fevereiro passado também entram na conta. “Acredito que o ano não começou ainda, os clientes estão esperando uma luz no fim do túnel, uma melhora, mas ninguém sabe ao certo o quê”, acrescentou Pereira, na ocasião, em meados de março. Ele acrescentou que em tempos “normais” o foco na região é o grande frotista, mas atualmente os negócios estão voltados ao “picadinho” (vendas avulsas), porque era o que ainda estava gerando alguns negócios.

Marcelo Mendes de Maio, consultor de vendas da Rodobens Caminhões Cuiabá, concessionária Mercedes-Benz na região, destacou que as vendas de caminhões extrapesados da marca tiveram queda em torno de 50% no primeiro trimestre deste ano. Segundo ele, as transportadoras e o autônomo encontravam-se parados e as vendas que aconteciam eram para quem usa o caminhão para carga própria e outros tipos de aplicação, menos o frotista. “A taxa do Finame tem prejudicado as vendas. Antes se financiava até cem por cento do veículo, agora são apenas setenta e o restante é por conta do comprador. Ficou mais difícil”, disse o consultor.

Uma das causas da retração do mercado seria que as vendas de caminhões nos últimos anos foram maiores que o crescimento da produção de grãos e hoje tem mais veículo que carga
Uma das causas da retração do mercado seria que as vendas de caminhões nos últimos anos foram maiores que o crescimento da produção de grãos e hoje tem mais veículo que carga

Ele destacou também, na ocasião, que estava sobrando caminhões, porque quando a taxa de juros estava baixa muitos transportadores aproveitaram da condição para aumentar a frota ao invés de renovar, e ficaram com excedente de caminhões. “Agora ele está vendendo os usados”, concluiu. Otimista, Mendes de Maio apostava numa possível melhora do mercado a partir de abril, isso contando também com vendas de caminhões pesados para o transporte de madeira. “A madeira está em áreas planas, por isso usam caminhão rodoviário, exceto em certas regiões onde é preciso o caminhão adequado a esse tipo de operação. No final, o mesmo veículo é usado também para o transporte de grãos”, explica.

A agropecuária no Centro-Oeste também gera a vendas de cavalos-mecânicos para câmaras frigoríficas e caminhões plataformas para receber implemento romeu-julieta. “Há uma luz no fim do túnel, porque de Lucas do Rio Verde até o Sul do Pará é uma região em crescimento e recebe muito investimento. E o dinheiro que é investido na região já está na própria região”, acrescenta de Maio. De acordo com ele, os modelos Mercedes-Benz extrapesados equipados como motores de 440 e 460cv são os mais vendidos na região. Os semipesados 2430 e 2426, além do Atron, para o transporte de gado, também têm bastante saída.

Marca relativamente nova no País, a DAF também sofreu queda de vendas na região, em 85% nos emplacamentos, segundo Newton Fábio Paes, gerente de vendas da Caramori Caminhões, concessionária da marca instalada em Cuiabá.

Ele lembra que o Estado do Mato Grosso gira em torno do agronegócio e muita gente que havia comprado caminhões em anos anteriores tirou o pé este ano. “A colheita já começou, estamos nos meses que a coisa acontece, mas a situação está muito longe de ser como em outros anos”, constata Paes, adicionando que o preço do diesel subiu muito e o valor do frete não acompanhou.

Na ocasião ele disse que havia expectativa de os negócios realizados no mês de março salvarem as perdas ocorridas em janeiro e fevereiro. Destacou também que o fato de a marca não ter ainda um banco próprio para operar tem feito muita diferença para a realização de negócios. “Se tivéssemos um seria outra realidade, porque nosso produto é competitivo e chegou para brigar com o que tem de melhor no mercado brasileiro”, finaliza.

Para Maicon Gregório, gerente de vendas da Mônaco Diesel, Concessionária Volkswagen/MAN em Rondonópolis, o mercado de cavalos-mecânicos encontrava-se fraco desde setembro do ano passado. Do seu ponto de vista foram vendidos muitos caminhões em anos anteriores, por isso ele acredita que vai demorar ainda cerca de três anos para “espalhar” os veículos que estão no mercado. Ele prossegue dizendo que a safra teria de crescer cerca de 10% ao ano, acompanhar as vendas, pois se vendeu muito caminhão a partir de 2008. “Além disso, entrou muita gente nova no segmento e desequilibrou o mercado”, opina. Em relação às vendas este ano, ele diz que caíram cerca de quarenta por cento, e o que tem se vendido mais são modelos na faixa de oito a 15 toneladas de PBT. “Esses caminhões ficam em estoque e sempre tem pronta entrega disponível, sendo o modelo 8.160 o carro-chefe de vendas da marca”, justifica. Gregório se diz otimista com o extrapesado MAN em relação ao mercado de cavalos-mecânicos na região e afirma que o segmento tem sido a “menina dos olhos”. “O produto MAN já está maduro para o mercado. Tem transportador que já rodou mais de um milhão de quilômetros e sente segurança”, relata, dizendo que infelizmente o financiamento é dificultado pelas altas taxas de juros e a burocracia. Ele acrescenta que hoje tem muita gente com um pé atrás para comprar caminhão porque acredita que a taxa de juros ainda pode baixar. Em relação ao Constellation com motor de 420cv, Maicon Gregório comenta que o veículo tem sido bastante procurado e aponta o preço como um dos fatores, além do modelo atender nichos que ainda estão comprando caminhões.

Na ocasião, o gerente de vendas da Mônaco Diesel disse também que o setor agropecuário estava aquecido naquele momento, apesar de que o segmento estava comprando mais caminhões pequenos – para várias aplicações – do que cavalos-mecânicos. “Não vamos chegar ao mesmo patamar de 2014, mas também não vamos ficar parados, pois sentimos que, aos poucos, os empresários vão começar a comprar caminhões, mas esse movimento é bem devagar”, finaliza.