Por João Geraldo

Pode-se dizer que a evolução do transporte rodoviário de carga ganhou mais força no País a partir do início da década de 1970 e teve como elemento importante a parceria entre os transportadores e fabricantes de caminhões aqui instalados. Sob o risco de perder vendas, as montadoras passaram a ouvir mais o cliente e lhe oferecer o veículo mais apropriado para sua operação, como meio para a obtenção de maior rendimento. Para atender a demanda do mercado e oferecer produtos cada vez mais eficientes, a indústria teve sempre a tecnologia como grande aliada e graças a ela a atividade caminha cada vez mais para a especialização.

São os clientes, com suas necessidades, que movem a empresa a fazer modificações e atualizações dos veículos, inclusive nos aspectos legais para atender as exigências da lei, explica Celso Mendonça, gerente de desenvolvimento de novos negócios da Scania no Brasil. “O cliente tem expressiva participação nesse processo e sempre terá. Nosso mais recente exemplo de parceria com cliente é o lançamento do cavalo-mecânico 8X2”, acrescenta o engenheiro. Mendonça se referiu ao Grupo G 10, de Maringá/PR, que adaptou cavalos-mecânicos 6X2 para 8X2 em oficinas independentes, e como a alternativa se mostrou rentável, a empresa procurou a Scania para desenvolver a solução de fábrica.

São os clientes que movem a empresa a fazer modificações e atualizações nos caminhões, diz Celso Mendonça, da Scania
São os clientes que movem a empresa a fazer modificações e atualizações nos caminhões, diz Celso Mendonça, da Scania

O diretor de engenharia de produto da Iveco, Darwin Viegas, acrescenta que a opinião dos clientes é fundamental para a empresa aprimorar cada vez mais os produtos da marca. “O feedback que eles nos passam permite fazer as melhorias necessárias para tornar os veículos aptos para atender qualquer tipo de demanda”, explica. Ele destaca que devido à importância do transporte rodoviário de carga no Brasil, a indústria de caminhões acompanhou a demanda crescente ao longo dos anos e não foi diferente com a Iveco para oferecer evoluções tecnológicas que transformassem a atividade em mais econômica para o transportador e, ao mesmo tempo, mais segura e confortável para o motorista.

Para se manterem fortes no segmento de veículos pesados, os fabricantes de caminhões procuraram investir em Centros de Desenvolvimento Tecnológicos para aprimorar seus produtos conforme as necessidades do mercado. Joerg Radtke, gerente sênior de marketing de produto caminhões, explica que muitas inovações foram e são desenvolvidas no CTD dentro da fábrica de São Bernardo do Campo. Ela cita, como tecnologias de motores que buscam melhorar a economia de combustível atendendo as mais exigentes normas ambientais. “O Atego 2430, por exemplo, foi a síntese da engenharia alemã aplicada às condições brasileiras, com câmbio automatizado e motor com maior torque da categoria, que asseguram economia de combustível e conforto para o motorista”, diz o executivo.

O feedback passado pelos transportadores nos permite fazer as melhorias necessárias, destaca Darwin Viegas, da Iveco
O feedback passado pelos transportadores nos permite fazer as melhorias necessárias, destaca Darwin Viegas, da Iveco

A opinião do transportador é uma das questões mais fundamentais para o aprimoramento dos caminhões conforme o mercado brasileiro, afirma Luis Antonio Gambim, diretor comercial da DAF. Ele adiciona que testes e retorno dos clientes faz parte do procedimento da empresa e destaca como exemplo o lançamento do primeiro caminhão pesado da marca no Brasil, o XF 105. “Foram realizados mais de dois milhões de quilômetros de testes em diversas condições de operações, carga e estradas no País”, exemplifica. Ainda segundo Gambim, a empresa considera este retorno em todos os seus projetos e não está sendo diferente para a linha CF, o próximo lançamento da marca no Brasil.

O vice-presidente de vendas, pós-vendas e marketing da MAN Latin America, Ricardo Alouche, cita também a importância da montadora trabalhar junto com os transportadores para encontrar as opções cada vez mais eficientes ao mercado. “Isso nos faz conhecer melhor a operação do cliente e, consequentemente, lhe oferecer o que há de mais adequado à sua realidade”, lembrando que a empresa tem em seu DNA o conceito “sob medida”, o qual reforça o contato direto com os clientes. “Este é um dos pilares que colocaram a MAN Latin America no topo do ranking das vendas de caminhões no Brasil por 12 anos consecutivos”, acrescenta.

 Joerg Radtke, da Mercedes-Benz, foca nas inovações que tornaram os veículos da marca eficientes e mais confortáveis
Joerg Radtke, da Mercedes-Benz, foca nas inovações que tornaram os veículos da marca eficientes e mais confortáveis

“As cargas evoluíram, os caminhões também e hoje os clientes fazem mais conta. Neste contexto, a missão do fabricante de veículos pesados é baixar o custo, operacional do cliente”, diz Álvaro Menoncin, gerente de engenharia de vendas da Volvo do Brasil. Ele destaca a eletrônica embarcada nos caminhões como um marco importante na evolução dos caminhões, mas tem opinião de que a grande evolução foi a caixa automatizada. “No início, o frotista não queria caminhão automatizado, hoje em dia quem não tem não se instala no mercado”, opina Menoncin. Ele acrescenta que atualmente a caixa I-Shift representa 80% do mercado da marca no continente.

Outro ponto importante é destacado por João Pimentel, diretor de operações de caminhões da Ford para a America do Sul. Ele lembra que no passado os caminhões saiam de fábrica na versão “toco” e eram transformados para 6X2 ou 6X4, mas o processo comprometia a qualidade do veículo. “Hoje, essas opções saem de fábrica, sem necessidade de fazer conversões externas. A suspensão a ar também é outro diferencial que veio da necessidade de transportar cargas sensíveis”, comenta.

A opinião do transportador é uma questão fundamental para o aprimoramento dos caminhões, afirma Luis Gambim, da DAF
A opinião do transportador é uma questão fundamental para o aprimoramento dos caminhões, afirma Luis Gambim, da DAF

O tamanho do modal do transporte rodoviário no País tornou o caminhão mais importante na atividade, exigindo que os produtos sejam cada vez mais coerentes com a aplicação, cita Celso Mendonça da Scania. “Todas as alterações ou atualizações executadas nos modelos são de extrema importância para o modal, caso contrário não teria a representatividade que tem hoje”, afirma, lembrando que atualmente se carrega até quatro vezes mais do que antes num mesmo caminhão, consumindo menos combustível e com mais segurança.

Do ponto de vista dos custos da operação e da sustentabilidade, Darwin Viegas, da Iveco, aponta o motor como o “coração” dos caminhões. Ele diz que a evolução dos sistemas de propulsão deu um salto gigantesco nas últimas décadas, com a adoção das legislações que regulam as emissões de gases de veículos automotores. “De um lado, isso deixou o setor de transporte em maior sintonia com o meio ambiente e, de outro, fez os caminhões atuais a consumirem menos combustível em comparação aos de 20 ou 30 anos atrás.

Trabalhar junto com os transportadores é importante para podermos lhes oferecer o que há de mais adequado à sua realidade, diz Ricardo Alouche, da MAN
Trabalhar junto com os transportadores é importante para podermos lhes oferecer o que há de mais adequado à sua realidade, diz Ricardo Alouche, da MAN

“Todas as tecnologias aplicadas aos produtos Mercedes-Benz buscam valorizar o principal protagonista do caminhão: o motorista”, exemplifica Joerg Radtke. Ele destaca que os itens de segurança para o condutor apresentaram notável evolução através dos anos e relaciona o freio ABS e outros itens de segurança como o assistente ativo de frenagem e o controle de faixa de rolagem, itens disponíveis no modelo Actros. “Estes recursos aumentaram significativamente a segurança dos carreteiros, auxiliando-os em uma condução segura”, conclui. A tecnologia de segurança, entre outras também importantes, é destacada também por Luiz Antonio Gambim, da DAF. Ele relaciona o freio motor como item de grande relevância no veículo e o aponta como sendo uma solução que traz um conjunto de benefícios ao transportador, tais como redução do consumo de combustível, de lona de freio, do desgaste dos pneus e também do motor. “Tudo isso resulta em mais lucratividade para o transportador”, justifica.

O vice-presidente de vendas e pós-vendas da MAN Latin America, Ricardo Alouche vai além e afirma que o transportador também está mais especializado e teve de fazer mudanças na forma de operar. “Os custos se elevaram e ele teve de buscar alternativas usando veículos cada vez mais adequados para tentar equalizar esta despesa”, diz Alouche, acrescentando que as montadoras também foram buscar alternativas, como a utilização de materiais mais nobres – com o objetivo de reduzir peso – e novas tecnologias que proporcionassem mais segurança e ganhos para o meio ambiente.

A missão do fabricante de caminhões pesados é baixar o custo operacional, porque hoje os transportadores fazem mais contas, explica Álvaro Menoncin, da Volvo
A missão do fabricante de caminhões pesados é baixar o custo operacional, porque hoje os transportadores fazem mais contas, explica Álvaro Menoncin, da Volvo

“Os veículos serão cada vez mais seguros”, diz Álvaro Menoncin, da Volvo, relacionando todo o pacote de itens voltados à segurança já existentes e que ainda serão implantados, como as estradas inteligentes assessorando os motoristas e os veículos autônomos previstos para os próximos anos. Mesmo assim, ele adverte que o mercado ainda precisa de todo tipo de caminhão e que hoje em dia não existe ainda uma solução milagrosa. “Hoje em dia a engenharia do fabricante de caminhão tem de trabalhar em parceria com o transportador. O mercado está muito profissional, os clientes interagindo e tem espaço para todo mundo, pois cada um adquire o veículo que melhor se adapta ao seu negócio”, assegura.

Hoje os caminhões saem de fábrica adequados e sem haver necessidade de fazer conversões externas como antigamente, lembra João Pimentel, da Ford
Hoje os caminhões saem de fábrica adequados e sem haver necessidade de fazer conversões externas como antigamente, lembra João Pimentel, da Ford

Para cada aplicação temos um trem de potência específico, uma cabine com conforto adequado e esse conhecimento vem por meio dos workshops e pesquisa que realizamos com clientes em potencial. As palavras são de João Pimentel, da Ford. “Esta contribuição dos transportadores é contínua, pois eles sabem o que precisam e nós, montadoras, escutamos e atendemos da melhor forma possível, trazendo cada vez mais novidades para o segmento”, conclui.