Por Luiz Aparecido da Silva Fotos Orlei Silva

Mais uma vez a safra de grãos no Brasil é recorde, mas os bons números do PIB agrícola não se refletem no preço do frete e deixa os carreteiros frustrados. São diversos fatores que levaram os fretes a permanecerem nos mesmos patamares de anos anteriores, e em alguns casos a cair quase 50%, como acontece em percursos da região Oeste do Paraná para o Porto de Paranaguá. As principais causas são o fator câmbio, que em função do dólar baixo fez com que os agricultores optassem por deixar os grãos nos armazéns; as chuvas, que forçaram a paralisação das operações do Porto de Paranaguá por vários dias, e o excesso de carreteiros em uma mesma região durante a safra.

Estamos recebendo o mesmo valor do ano passado, reclama o mineiro Eduardo Valério que transporta soja do Mato Grosso para o Rio Grande do Sul
Estamos recebendo o mesmo valor do ano passado, reclama o mineiro Eduardo Valério que transporta soja do Mato Grosso para o Rio Grande do Sul

Com os grãos estocados nos armazéns, sobram caminhões a procura por frete e a consequência é a queda no valor por tonelada transportada. Do Mato Grosso para Paranaguá e para o Rio Grande do Sul, os valores permanecem os mesmos do ano passado. Eduardo Valério, de Uberlândia/MG, transporta soja de Vera/MT para Encantado/RS e recebe R$ 210,00 por tonelada. “Estamos recebendo o mesmo valor nos últimos cinco anos”, confirma. Ele informa que as estradas na região de Rondonópolis/MT estão muito ruins, destaca que rodovias de Goiás encontram-se péssimas e cita como exemplo de mal estado o trecho de Rio Verde a Bom Jesus. O frete permanece inalterado também em relação às últimas safras nos pequenos percursos. Rubens Moreira, de Cafelândia/PR, prefere transportar soja de sua cidade para Cascavel/PR, com distâncias girando de 30 a 50 quilômetros.

Rubens Moreira também reclama do valor inalterado do frete e cita como motivos o atraso da colheita e o grande número de caminhões na safra
Rubens Moreira também reclama do valor inalterado do frete e cita como motivos o atraso da colheita e o grande número de caminhões na safra

Ele diz que os agricultores retardaram a colheita em função das chuvas e isto fez com que sobrassem caminhões. Rubens também informa que a maior parte da safra já foi colhida, mas não foi transportada. Está estocada. “Não há boas perspectivas para quem optou por trabalhar em pequenas distâncias”, acentua Rubens. Mas há situações em que o frete caiu quase 50% em relação ao ano passado, como acontece da região Oeste do Paraná para o Porto de Paranaguá. No ano passado, o preço do frete era de R$ 105,00, diz Alexsandro Anderson, de Medianeira. No dia 29 de março, carregamos em Itaipulândia/PR para o Porto de Paranaguá por R$ 58,00 a tonelada. Este era o preço também de Medianeira e Cascavel. Ambas no Estado do Paraná. Já em Cantagalo, região central do Estado, pagava-se R$ 55,00 a tonelada.

Há situações em que o frete chegou a cair quase 50% a tonelada transportada, como no Oeste do Estado do Paraná, afirma Alexsandro Anderson
Há situações em que o frete chegou a cair quase 50% a tonelada transportada, como no Oeste do Estado do Paraná, afirma Alexsandro Anderson

As estradas ruins contribuem para o aumento dos custos para o carreteiro. Perde-se muito tempo na estrada, tem mais despesas com pneus furados, quebras e se gasta mais combustível. A situação da malha viária do Estado de Goiás é motivo de queixas de Nerildo Dias, de Dois Vizinhos/PR. Ele diz que em Goiás as estradas estão destruídas. “Está praticamente impossível de transitar”, diz. Em outros pontos do País, a situação das estradas é melhor, com destaque para as do Paraná, especialmente a BR 277. No entanto, o pedágio é considerado absurdo. Ezequiel Alves dos Santos, de Missal/PR, que transporta soja de Medianeira para Paranaguá, acha que gastar R$ 910,00 de pedágio com seu bitrem em uma única viagem é um absurdo. Se fizer duas viagens por semana, se gastará R$ 1.820,00 só em pedágio.

As estradas estão destruídas, observa Nerildo Dias, refererindo-se às rodovias do Estado de Goiás, às quais estão praticamente impossíveis de transitar, diz
As estradas estão destruídas, observa Nerildo Dias, refererindo-se às rodovias do Estado de Goiás, às quais estão praticamente impossíveis de transitar, diz

As filas, que em safras anteriores eram vilãs dos carreteiros, neste não aparecem como grandes problemas. Eduardo Valério e Valdeciro de Freitas dizem que só há filas no Porto de Paranaguá. Eles reclamam da cobrança de banho por parte dos postos. Os valores variam de R$ 3,00 a R$ 5,00. A queixa é geral. Valério considera um absurdo pagar para tomar banho. “Os postos precisam entender que se você não abastece hoje pode abastecer amanhã”, diz. Já Valdeciro de Freitas acha a cobrança de R$ 5,00 um abuso. Ele entende que tudo tem custos, por isso o preço de R$ 1 ou R$ 2,00 seria mais justo.

Para Valdeciro de Freitas, o valor cobrado pelo banho nas rodovias está muito alto. Na sua opinião, o justo deveria ser, no máximo, R$ 2,00 reais
Para Valdeciro de Freitas, o valor cobrado pelo banho nas rodovias está muito alto. Na sua opinião, o justo deveria ser, no máximo, R$ 2,00 reais

Quem optou por transportar para pequenas empresas praticamente não as enfrenta. Ezequiel Alves dos Santos diz que chegou a ficar 18 horas na fila em Paranaguá, mas com a implantação do Cadastro de Desembarque elas vão desaparecer. “Agora você carrega na região Oeste e ao receber a nota fiscal já é informado o dia e a hora para entrar no pátio de Paranaguá para descarregar. Normalmente, o tempo é de 24 horas e não adianta chegar antes. Isto fará com que você tenha maior tranquilidade na estrada”, diz Ezequiel, opinião compartilhada também por Alexsandro Anderson. Na opinião de Eduardo Valério e de Nerildo Dias, de Dois Vizinhos/PR, o Brasil precisa estabelecer uma política para o transporte e definir se continua com o sistema rodoviário ou se investe em ferrovias. Só assim será possível estabelecer um preço justo pelo frete. “Não se vê políticos falando de carreteiros.

O pedágio é um absurdo, diz Ezequiel Alves dos Santos, que transporta grãos em um bitrem e gasta R$ 910,00 de pedágio em viagem de Medianeira ao Porto de Paranaguá
O pedágio é um absurdo, diz Ezequiel Alves dos Santos, que transporta grãos em um bitrem e gasta R$ 910,00 de pedágio em viagem de Medianeira ao Porto de Paranaguá

Nós carregamos o Brasil nas costas, mas não temos reconhecimento. Não temos vóz, não temos ninguém por nós”, salienta Eduardo. Nerildo, por sua vez, fala que tudo é imposto ao carreteiro e muitas das vezes é surpreendido por obrigatoriedades que ele não tem conhecimento, como datas para aferir tacógrafos. “Com as dimensões continentais do Brasil, é necessário uma política de transportes. É necessário estabelecer preços justos para o frete. Ninguém vê que o carreteiro leva a safra para os portos e volta vazio, pagando pedágio como se estivesse carregado, Os políticos não conseguem ver que o carreteiro transporta tudo neste País. Se o sistema de transporte fosse o trem, duvido que os vagões voltassem vazios. São coisas que precisam ser discutidas”, acentua.