Por Evilazio Oliveira

Dos 12 postos aduaneiros existentes nas fronteiras entre o Estado do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, os de Uruguaiana/RS e Paso de los Libres/AR e São Borja/RS e Santo Tomé/AR são os que concentram a maior passagem de caminhões entre os principais parceiros comerciais do Mercosul, Brasil, Argentina e Chile. Nessas fronteiras – divididas pelo rio Uruguai – passam diariamente centenas de caminhões nos dois sentidos, sendo cerca de 650 em Uruguaiana e 300 em São Borja, números que tem sofrido redução em razão da crise econômica que afeta a economia brasileira e argentina, sobretudo no setor automotivo, responsável por parte significativa desse comércio.

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A intenção é ser ágil e liberar os carreteiros em poucas horas, explica José Luiz Vazzoler, da empresa que administra o Centro Unificado na fronteira

Embora com características diferentes, as aduanas de Uruguaiana e de São Borja são, inegavelmente, responsáveis pela grande parte do transporte rodoviário entre os países membros do Mercosul, conforme destaca o gerente geral da Mercovia S.A. – empresa que administra o CUF (Centro Unificado de Fronteira) entre São Borja/RS e Santo Tomé/AR -, o argentino José Luís Vazzoler, 58 anos de idade e na empresa desde l998, quando começou como gerente geral na construção da ponte internacional sobre o rio Uruguai, ligando Brasil e Argentina.

Ele explica que, na verdade, o CUF que está em operação desde 1997, constitui-se na primeira experiência Parceria Pública Privada (PPP) entre capitais argentinos, brasileiros e a iniciativa privada através da Mercovia S.A., empresa que administra esse primeiro centro unificado de fronteira. Enquanto em Uruguaiana a aduana tem duas cabeceiras – uma em cada lado da fronteira – o CUF, localizado em território argentino, funciona de forma uniforme, é unificado e facilita todas as operações.

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Os caminhões estacionam no pátio e as operações de desembaraço são feitas de forma organizada, num mesmo local, comenta o chefe operacional André Munari

Ainda de acordo com José Luiz Vazzoler, por ele passam 28% do total do intercâmbio comercial entre os dois países, sendo 65% do volume de cargas relacionados à indústria automobilística. Em média, são feitas 200 liberações de caminhões por dia e, conforme explica, a intenção é dar o máximo de agilidade, eficiência e segurança aos carreteiros, garantindo as liberações em poucas horas, embora haja casos que exijam mais tempo. “Dessa forma não é cobrada estadia nas primeiras 24h de estacionamento no pátio, na certeza que a diária não será totalmente utilizada”, afirma.

Todo o trabalho é integrado e facilita as operações. Também conta com laboratório para o exame de alguns produtos perecíveis, que antes precisavam ser enviados para Porto Alegre, de ônibus. A intenção, segundo Vazzoler, é tornar o porto cada vez mais ágil, evitando erros cometidos em outras unidades do País e, com isso firmar cada vez mais o intercâmbio através do Mercosul. “Aqui tudo funciona com perfeita transparência”, garante.

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O diretor do Centro Unificado de Fronteira, Alcir Jordani, destaca que a tendência é a eliminação das aduanas com armazéns e depósitos para o transbordo de cargas

Um dos grandes diferenciais no CUF de São Borja é que ele foi montado de forma sequencial, lembra o chefe da área operacional, André Munari, 39 anos de idade e oito de profissão. Segundo ele, tudo funciona de forma muito organizada, sem perda de tempo. Os caminhões estacionam no pátio e todas as operações de desembaraço são feitas de forma organizada e num mesmo local físico. Lembra que as cidades de São Borja/RS e de Santo Tomé, Argentina, ficam a 10 quilômetros de distância, respectivamente. Daí a importância de tudo ser resolvido num único lugar. Nessa unidade trabalham cerca de 800 pessoas, em todas as áreas, as quais incluem despachantes aduaneiros, fazendários, casa de câmbio, duas agências bancárias, enfermaria, assistência médica e todas as atividades envolvidas no transporte internacional de cargas e no conforto do carreteiro. O pátio de estacionamento tem capacidade para abrigar cerca de mil caminhões. A unidade inclui, também, uma praça de pedágios.

Na opinião do diretor comercial do CUF, Alcir Jordani, 39 anos de idade e há 14 atuando no setor, a tendência no futuro é a utilização cada vez maior de entregas expressas, porta-a- orta, eliminando aduanas com armazém e depósitos para a o transbordo de cargas, fator que obviamente encarece a operação. É o que acontece em Uruguaiana, um porto utilizado muito no transbordo de mercadorias, com o aproveitamento de antigos galpões que serviam para silagem de arroz, hoje transformados em depósitos de transportadoras. Esse modelo deve acabar, conforme prevê Alcir Jordani.

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O carreteiro chileno Tomás Abello Santibañez prefere cruzar a fronteira pela Aduana de São Borja e classifica a de Uruguaiana como pior e complicada

O motorista chileno Tomás Abello Santibañez, 49 anos de idade, 29 de profissão e há 12 anos no transporte internacional, viaja principalmente para o Brasil. Atualmente ele dirige um Renault 2005, “uma carreta grande”, trazendo mercadorias para os Estados de São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro. Ao falar sobre as aduanas por onde costuma passar, classifica a de Uruguaiana/RS, na divisa com a Argentina, como a pior e a mais complicada por causa das longas esperas, burocracia e constantes greves dos funcionários federais.

Santibañez critica também a lentidão os trabalhos dos despachantes aduaneiros e da fiscalização ser feita nos dois lados da fronteira. Por isso, prefere sempre a travessia pela aduana integrada em São Borja, onde tudo está centralizado num único lugar e a liberação do caminhão é muito rápida. Mesmo assim, numa viagem recente, precisou esperar por quase uma semana enquanto o caminhão e a carga eram totalmente vistoriados para um novo cadastro na concessionária. Apesar do tempo perdido e de todas as despesas com alimentação terem corrido por sua conta, não reclama e acredita que nas próximas viagens tudo será muito rápido, com o caminhão devidamente cadastrado no sistema aduaneiro.

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Moacir Fontoura Escobar prefere São Borja porque além da agilidade para liberação da carga ainda pode visitar a família que mora na cidade

Para o carreteiro Moacir Fontoura Escobar, 35 anos de idade e 10 de profissão, natural de São Borja/RS e atualmente trabalhando no transporte de autopeças entre São Paulo, Curitiba e Buenos Aires, é muito mais vantajoso fazer a travessia pela aduana integrada de São Borja do que por Uruguaiana. Primeiro, justifica, porque pode visitar a família na passagem, pela agilidade da liberação da carga e, consequentemente, na quantidade de viagens que faz a cada mês “apesar de nos últimos tempos ter diminuído bastante”, acentua. Em Uruguaiana, segundo diz, se chegar na quinta-feira de manhã só vai ter o caminhão liberado na segunda de manhã. “É muito tempo perdido”, conclui.

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Se a passagem fosse por Uruguaiana a situação seria bem mais difícil, comenta o carreteiro Eneier da Silva Antunes, que a faz a rota São Paulo, Curitiba e Rosário

Eneier da Silva Antunes, natural de Itaqui/RS e residindo em São Borja/RS, gosta de passar pela aduana integrada pela rapidez na liberação do caminhão e pela possibilidade de visitar a filha Júlia, de cinco anos. Aos 36 anos de idade e 10 de profissão, ele dirige entre São Paulo ou Curitiba e Rosário ou Buenos Aires, no “engate”, ou seja, não tem um caminhão fixo, trocando na fronteira quando o semirreboque é atrelado a outro cavalo-mecânico. Agora, no entanto, com a drástica redução no volume de cargas e dos vencimentos ao final do mês, está optando por “tocar direto” para ganhar um pouco mais. E agradece por fazer os despachos aduaneiros em São Borja, “onde não se perde tempo”. Se a passagem fosse por Uruguaiana, daí sim a situação ficava preta, destaca.

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Tudo funciona mais rápido e com eficiência. Os banheiros são limpos e as refeições no restaurante muito boas, apesar de serem caras, comenta o carreteiro Carlos Vaz

Já o estradeiro Carlos Vaz, natural de Uruguaiana/RS, 36 anos de idade e 10 de boleia, atualmente conduz caminhões novos de Curitiba/PR para Tacna, no Peru. De lá volta para o Brasil de ônibus ou, preferencialmente, de carona para economizar nas diárias. Gosta muito da passagem pela aduana de São Borja, “onde tudo funciona mais rápido e com maior eficiência, além de os banheiros serem limpos e as refeições no restaurante muito boas, apesar de relativamente caras.” É muito melhor do que Uruguaiana, garante, além de ser um lugar mais seguro e sem o assédio de prostitutas, traficante ou vendedores ambulantes. Uma das melhores aduanas que conheço, sintetiza.