Por Evilazio de Oliveira

Apesar de a exigência ficar restrita a ônibus e motocicletas, as autoridades de trânsito recomendam que todos os veículos que trafegam nas estradas utilizem o farol aceso, com luz baixa, mesmo nos dias de grande luminosidade. De acordo com estudos técnicos, quando acesa, a luz baixa aumenta a visibilidade em 60% , além de ser vista a três quilômetros de distância, resultando em acentuada redução no número de acidentes graves. Os carreteiros aprovam a utilização, embora a maioria só ligue os faróis quando viajam para os países do Mercosul, onde é obrigatório.

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É uma medida de segurança importante, pois aumenta a visibilidade do veículo para outros condutores e até para pedestres, opina o chileno Abelardo Arava

Na opinião do chileno Abelardo Alvarado Arava, 56 anos de idade e 26 de volante, morando em Uruguaiana/RS, e trabalhando para uma empresa transportadora do Chile, é uma importante medida de segurança pelo aumento da visibilidade do veículo para outros condutores e até para pedestres. Lembra que apesar da obrigatoriedade nos demais países do Mercosul, e de defender a utilização, admite que trafegando nas estradas brasileiras só liga os faróis durante o dia quando chove, ou em situação de muita neblina.

Além de chamar atenção, os faróis ajudam a medir a distância e a velocidade dos veículos que trafegam em sentido contrário, diz Juan Leiva
Além de chamar atenção, os faróis ajudam a medir a distância e a velocidade dos veículos que trafegam em sentido contrário, diz Juan Leiva

Outro chileno, Juan Leiva, 56 anos, 38 de profissão, dirige na rota Santiago – Curitiba- São Paulo, também defende a utilização das luzes acesas durante o dia, em qualquer circunstância. Segundo ele, além de chamar atenção os faróis ajudam a medir a distância e a velocidade dos veículos que trafegam em sentido contrário, garantindo mais segurança nas ultrapassagens. Ele aproveita para reclamar de seus colegas, principalmente os brasileiros, que deixam as “luzes brancas de ré” ligadas diretamente com as luzes vermelhas do freio. Com isso, quando trafegam à noite e precisam frear, a luz branca – e muitas vezes fortíssima – incide diretamente na visão do condutor do veículo que trafega logo a atrás. Lembra que luzes brancas devem ser ligadas de forma independe e utilizadas apenas para a marcha à ré. “Acredito que os carreteiros devem ficar atentos para o uso certo dos faróis: luz baixa durante o dia ou à noite, ao cruzar com outros veículos”. Juan recomenda também cuidados com as luzes nos períodos de chuva ou neblina.

Apesar de acreditar que as luzes dão mais segurança se acesas durante o dia, Luciano Trindade só acende os faróis fora do Brasil porque é obrigatório
Apesar de acreditar que as luzes dão mais segurança se acesas durante o dia, Luciano Trindade só acende os faróis fora do Brasil porque é obrigatório

Dirigindo uma carreta pelas estradas do Chile, Argentina e Brasil, até os Estados de São Paulo e Mato Grosso, Luciano Guedes Trindade, 28 anos e seis de volante, concorda que os faróis acesos durante o dia são muitos úteis para aumentar a visibilidade dos veículos de cores escuras, ou mesmo quando estão distantes. Ele tem uma chave especial no painel que liga os faróis automaticamente sempre que o motor é ligado. Mas só é utilizada quando viaja para a Argentina ou Chile, devido a exigência da lei, incluindo as Três Marias (três luzes verdes sobre a cabine) e toda a sinalização do caminhão e da carreta. Na Argentina a multa é de 946 pesos (cerca de R$ 460,00). Como no Brasil não é lei, Luciano desliga a chave e só liga os faróis durante o dia em caso de chuva, neblina ou quando o tempo está muito fechado.

Para Marcos Gazzen, é uma atitude que depende da consciência de cada motorista, embora ele afirme não ver necessidade de acender os faróis em dias claros
Para Marcos Gazzen, é uma atitude que depende da consciência de cada motorista, embora ele afirme não ver necessidade de acender os faróis em dias claros

O carreteiro Marcos Antônio Gazzen, 30 anos e seis de estrada, natural de Uruguaiana/RS, também trabalha no transporte internacional e acredita que apenas nos dias de chuva ou com neblina os faróis devem ser ligados. Pensa que depende da consciência de cada motorista, mas afirma não ver necessidade em dias claros, com sol, porém, fora do Brasil ele cumpre a determinação da lei.

Tem muita gente na estrada mal da vista, que não consegue ler uma nota fiscal. Isso sim merece atenção das autoridades, sugere Mauro Zanella
Tem muita gente na estrada mal da vista, que não consegue ler uma nota fiscal. Isso sim merece atenção das autoridades, sugere Mauro Zanella

Mais radical, o estradeiro Mauro Vandre Zanella, 34 anos e 16 de profissão, afirma que se o motorista não tem condições de ver um caminhão ou automóvel na estrada, não é o farol aceso que vai fazer a diferença. Na sua opinião, tem muita gente no trecho que “anda mal da vista”, com dificuldades até para ler uma nota fiscal ou assinar algum documento. “Isso sim merece mais atenção das autoridades”, afirma. Quando viaja para fora do Brasil acende os faróis porque é obrigado, mas não por acreditar na eficiência. “A não ser com chuva ou neblina, o que é outra situação”, diz.

Embora não seja costume no Brasil, não custa nada ligar as luzes do caminhão durante o dia, diz Silmar de Lima Silva, que trabalha em rotas internacionais
Embora não seja costume no Brasil, não custa nada ligar as luzes do caminhão durante o dia, diz Silmar de Lima Silva, que trabalha em rotas internacionais

O carreteiro Silmar de Lima Silva, natural de Santa Maria/RS, tem 33 anos e pouco mais de um ano e meio de estrada, trabalha no transporte internacional e considera muito importante o uso dos faróis acesos durante o dia, tanto por caminhões, ônibus ou automóveis que trafegam nas estradas. Salienta que dá mais visibilidade e segurança, principalmente nas ultrapassagens. Lembra que no Brasil não é costume dos motoristas, mas acredita que é uma questão de bom senso, pois se dá mais segurança, não custa nada ligar as luzes ao pegar a estrada, mesmo num dia ensolarado.

Otimista, Paulo Ricardo Thedy Luciano acredita que os carreteiros brasileiros vão aderir ao costume, independente de não ser uma obrigatoriedade
Otimista, Paulo Ricardo Thedy Luciano acredita que os carreteiros brasileiros vão aderir ao costume, independente de não ser uma obrigatoriedade

Paulo Ricardo Thedy Luciano é natural de Porto Alegre/RS, tem 47 anos de idade e 18 anos de profissão. Transporta frutas do Chile para São Paulo e garante ser favorável ao uso de faróis acesos durante o dia. “Dá mais visibilidade aos veículos e chama a atenção dos condutores”, justifica. Otimista, acredita que no Brasil os estradeiros vão aderir ao costume, independente da obrigatoriedade ou não.

O inspetor Nilson Cunha, da PRF, lembra que está sendo recomendado que todos os veículos trafeguem nas rodovias com os faróis ligados
O inspetor Nilson Cunha, da PRF, lembra que está sendo recomendado que todos os veículos trafeguem nas rodovias com os faróis ligados

O chefe da 13º Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, em Uruguaiana/RS, inspetor Nilson Cunha, 34 anos e sete como policial rodoviário, lembra que está sendo recomendado que todos os veículos trafeguem nas rodovias com os faróis ligados, usando a luz baixa, durante o dia. Segundo ele, mesmo durante o dia, os faróis ligados facilitam que o veículo seja visto com mais facilidade por outros condutores e pedestres que utilizam a via. Lembra que a exigência nesse sentido é para ônibus e motocicletas.

Cunha destaca que se trata de um item a mais de segurança, por isso deve ser observado com atenção por todos os condutores, embora a maioria dos motoristas do transporte internacional utilize o farol aceso durante o dia por ser uma exigência em países do Mercosul. Segundo o inspetor Cunha, entre 40 e 50% dos acidentes nas estradas são causados pela falta de atenção e está comprovado que os faróis acesos durante o dia atraem mais a atenção dos motoristas e contribuem para a redução de acidentes.

CONTRAN RECOMENDA

A utilização de farol aceso nas rodovias durante o dia, embora não obrigatório é recomendado pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito), conforme a Resolução 18/98, que diz o seguinte: “considerando que as cores e as formas dos veículos modernos contribuem para mascará-los no meio ambiente, dificultando a sua visualização a uma distância efetivamente segura para qualquer ação preventiva, mesmo em condições de boa luminosidade, “resolve recomendar às autoridades de trânsito com circunscrição sobre as vias terrestres, que por meio de campanhas educativas, motivem seus usuários a manter o farol baixo aceso durante o dia, nas rodovias”

O engenheiro José Tadeu Braz, diretor da BrazHuman Corp – Engenharia Consultiva em Trânsito, de São Paulo/SP, – é autor de uma ampla pesquisa sobre o assunto, na qual defende a realização de campanhas educativas no trânsito como contribuição para a redução nos índices de acidentes, tão alarmantes no Brasil, e na conseqüente redução de custos com o aparato de saúde pública, além de melhorar a imagem do poder público perante a população. Defende a utilização do farol aceso nas 24 horas, como medida de segurança, inclusive no trânsito urbano.

Segundo ele, o farol baixo aceso aumenta a visibilidade em 60% dos acidentes que ocorrem durante o dia e em retas; é visto a três quilômetros de distância. Lembra que desde o advento do Código de Trânsito Brasileiro, a utilização do farol baixo durante o dia já está prevista em túneis providos de iluminação pública e aos veículos de transporte coletivo regular de passageiros, quando circularem em faixas próprias a eles destinadas, como também aos ciclomotores, que deverão utilizar-se do farol de luz baixa durante o dia e a noite. Além disso, “o Contran recomenda também o uso de farol baixo durante o dia para os veículos que circulam por rodovias”, lembra o engenheiro José Tadeu Braz.