Por Daniela Giopato

Combustível, alimentação, manutenção do caminhão, chapa, pedágios, são algumas das despesas que compõem a contabilidade do autônomo, e que juntas representam cerca de 70% do valor do frete contratado. O desfalque maior, entretanto, é causado pelo óleo diesel, devido ao alto valor que representa na planilha de custos do motorista e dependendo da condição das estradas, do veículo, da região e das características do caminhão, pode consumir entre 40 e até 60% do valor recebido. Os carreteiros explicam que este gasto poderia ser reduzido, já que alguns postos oferecem diesel com preços para lá de atrativos. Porém, defendem que esta prática não vale a pena, porque na maioria das vezes o produto oferecido é “batizado” e pode causar problemas graves em alguns componentes do caminhão e comprometer ainda mais o orçamento no final do mês.

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José Antonio carrega um caderno onde faz anotações de todas as suas viagens e também constata que o diesel é a sua maior despesa

O autônomo José Antônio Samure, 51 anos, cinco de estrada, de Leopoldina/ MG, faz a rota Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e desde o seu início na profissão faz uma planilha dos custos de cada viagem realizada. Segundo ele, o combustível sempre é a principal despesa. “Certa vez acertei um frete entre Rio de Janeiro e São Paulo. Foram 468km e 100 litros de combustível, com uma média de 4,68 por litro. Na ocasião carregava 13 mil quilos de telha de amianto. O frete foi de R$ 450,00. Descontando R$ 25,00 com agenciamento, R$ 5,00 de caixinha para descarga, R$ 88,00 com pedágio, R$ 22,00 de refeição e R$ 180 de diesel, me sobraram R$ 130,00 líquidos. É pouco, mas pelo menos não fiquei no prejuízo”, conta, mostrando as anotações no caderno de controle das viagens.

Apesar de ser a despesa mais alta – no exemplo citado o diesel representou 40% do valor do frete recebido -, José faz questão de dizer que sempre abastece com combustível de qualidade, mesmo que isso signifique gastar um pouco a mais. “Escolho o posto pelos benefícios que ele pode trazer, tais como um diesel de qualidade, rampa para lubrificação de cruzeta e estacionamento seguro”, enfatiza.

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O caminhão de Pedro Galvão quase parou na estrada após ele ter abastecido com diesel adulterado e hoje ele toma muito cuidado

Estas exigências foram reforçadas por uma experiência vivida pelo carreteiro durante uma viagem entre Araçariguama/SP e Porto Real/RJ, após ter abastecido em um posto sem referência alguma. “Comecei a sentir um cheiro estranho, parecido com de óleo de cozinha queimado e de repente o motor começou a falhar. Achei estranho porque o caminhão estava com a manutenção em dia e daí tive certeza de que havia sido enganado”.

Pedro Galvão Vieira, 50 anos de idade e 31 de profissão, de São Sebastião do Paraíso/MG, também passou por uma experiência que garante não querer repetir, conforme conta. “Uma vez, sem saber, abasteci com diesel adulterado. Como resultado o motor perdeu força e quase fiquei parado na estrada. E hoje em dia esta situação é muito perigosa devido a falta de segurança nas rodovias”, afirma.

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Apesar de também reclamar do alto preço do combustível, Roque Gonçalves evita os preços atrativos oferecidos por alguns postos

Apesar de prezar pela qualidade do produto que utiliza, o carreteiro não se conforma com o preço alto do diesel em algumas regiões do País, nas quais pode chegar a ser de até 60% do valor frete. “Já recebi R$ 3.500,00 por uma viagem e tive R$ 2.400,00 de despesa e o grande responsável, como sempre, foi o preço do diesel. É um absurdo!”, reclama. Para ter a garantia de abastecer com um bom combustível e ainda conseguir um prazo maior para pagar, Pedro abastece sempre nos mesmos postos.

A mesma opinião sobre o alto preço do diesel é compartilhada pelo seu colega Roque Gonçalves de Oliveira, 53 de idade e 34 de profissão, também de São Sebastião do Paraíso/MG. Ele acrescenta que os transportadores não levam em conta a despesa com combustível na hora de fechar o preço do frete. Em relação aos valores baixos encontrados em alguns postos, tem opinião de que apesar de serem atrativos existe o risco de o diesel estar misturado com água e prejudicar a bomba injetora e o motor. “Neste caso, a despesa fica bem alta e ainda há o risco de ficar parado na estrada”, destaca.

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A principal despesa no orçamento de Eduardo Gama também é o diesel, mas ele prefere se manter fiel aos estabelecimentos conhecidos por ele

Eduardo Gama, de São Paulo/SP, 39 anos de idade e 18 na estrada, faz a rota São Paulo/Nordeste, num total de seis mil quilômetros ida e volta. É uma viagem que rende cerca de R$ 6.000,00 brutos, dos quais sobram líquidos apenas entre R$ 2.000,00 e R$ 2.500,00. “O gasto principal é com o diesel. É ele que pesa no orçamento. Meu irmão trabalha nos Estados Unidos e lá o combustível representa 18% do frete, mas aqui no Brasil esse valor sobe para 40%, e até 60% dependendo das condições da estrada”, explica.

Apesar de encontrar vários postos com oferta de combustível com preço abaixo da média, Eduardo diz se manter fiel aos estabelecimentos conhecidos porque tem certeza da qualidade do produto vendido. Exceção à regra somente, lembra o carreteiro, se a transportadora traçar a rota e determinar os postos de parada. Porém, como outros motoristas, a precaução de Eduardo se deve ao fato de ter abastecido com diesel adulterado durante uma viagem e desde então passou a dar mais valor à qualidade no lugar do preço. “O caminhão parece que sente na hora e começa a falhar. Sem contar na despesa com manutenção, que é alta”, alerta.

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Osvaldo Renato lembra de uma palestra na estrada onde foi alertado que o barato pode sair caro e passou a ficar alerta com a qualidade do diesel

Há 20 anos na estrada, Osvaldo Renato da Silva, Canoas/RS, 42 anos de idade, percorre cerca de 1.200 km entre São Paulo e Porto Alegre, trecho em que gasta 600 litros de diesel, que significa R$ 1.080,00 na planilha de custo, isso quando consegue abastecer por R$ 1,80 o litro, que lembra ser raro. “O frete é de R$ 2.600 contando a volta, mas tirando as despesas fixas me sobram apenas R$ 1.000,00. O que nos mata hoje é o diesel. Mas o que fazer?”, questiona. Osvaldo lembra de uma palestra do Amigos na Estrada que explicava que as vezes o barato sai caro e reforça que não abastece com diesel sem qualidade para depois não ter de enfrentar problemas com a bomba, o motor e os filtros.

Já Cláudio Luiz Rodrigues, 35 anos, 10 de profissão, de Joinville/SC, que trabalha como empregado, e não sofre, portanto, o peso do combustível no orçamento, procura sempre um posto onde a oferta do diesel é mais barata, porém com qualidade. Diz que é para “ajudar o patrão”, embora ele também já tenha sido vítima de diesel adulterado e enfrentou problema com os filtros. “Nunca mais pisei nesse posto. Depois desse dia passei a ser mais cuidadoso na escolha do estabelecimento que vou abastecer”, conclui.

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Mais da metade do valor do frete é queimado com combustível e outras despesas fixas, lembra João Fernandes, que faz a rota São Paulo – Nordeste

João Fernandes, de São Lourenço do Oeste/SC, tem 10 anos de profissão e faz a linha São Paulo – Nordeste, num total de três mil quilômetros de estrada. “É um absurdo eu receber cerca de seis mil reais de frete e após ter descontado as despesas fixas me sobrar pouco mais de R$ 2.000,00. Realmente, o custo do combustível é muito alto. Minha sorte é que no Nordeste conseguimos encontrar diesel com preços acessíveis, como R$ 1,70 o litro. Se o carreteiro não se virar de alguma forma será obrigado a parar”.

João lembra que há seis anos abasteceu com diesel adulterado e teve problema com o caminhão, que na época era novo. “Algumas transportadoras determinam os postos para abastecimento, mas nessa situação eu não aceito carregar. Prefiro procurar os locais que eu conheço, onde estou acostumado a parar, justamente para não ter despesas maiores”.

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Diante do valor baixo do frete, é o preço que determina onde Roberval Dias vai abastecer. Ele diz que esta prática ainda não lhe causou problemas

Diferente de todos os seus colegas, Roberval Dias Feitosa, 45 anos e 20 de profissão, que viaja por todo o Brasil, com maior freqüência no trecho Curitiba – Rio de Janeiro, afirma que o critério para escolher o posto é preço do diesel. “Alguns têm preços muito atrativos, e com o frete baixo temos que encontrar uma saída sozinhos. Até hoje não enfrentei problemas, mas tenho consciência que se um dia colocar um diesel adulterado posso danificar algumas peças do caminhão. Tenho de me virar de alguma forma, senão sou obrigado a deixar o caminhão e isso não posso fazer, pois ele é a minha única fonte de renda”, finaliza.