Texto Daniela Giopato

Se por um lado fabricantes de caminhões estão comemorando os resultados obtidos durante 2011, com vendas que ultrapassaram as previsões anunciadas no início do ano, carreteiros se mostram pouco satisfeitos com o desempenho obtido no exercício. As principais reclamações estão relacionadas à falta de carga e valores de frete defasados, fatores que, segundo eles, dificultaram a troca de caminhão, quitação de dívidas e compra de imóvel, entre outros objetivos traçados para serem alcançados ao longo dos doze meses do ano. A expectativa agora é que em 2012 a demanda de trabalho e de faturamento aumente.

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Dono de um caminhão fabricado em 1984, Antônio Amorim Medeiros tinha intenção de trocá-lo em 2011, mas não conseguiu realizar seu projeto

Natural do Rio de Janeiro, mas, atualmente morando em Jaboatão dos Guararapes/PE, Anderson Alex Beltrão da Silva, 36 anos de idade e 14 de profissão, acredita que um dos principais problemas enfrentados esse ano, e que dificultaram a concretização de alguns projetos, foi a falta de coerência nos valores dos fretes. Ele dá o exemplo dos valores de uma viagem que costuma fazer entre Pernambuco e São Paulo, em trecho de cerca de 2.800 quilômetros. “Como é possível em uma viagem de ida (partindo de Pernambuco) receber R$ 3.500 e na volta o valor no mesmo trecho ser o dobro e às vezes até mais, com o mesmo tipo de carga. Afinal, a quilometragem, a quantidade de praças de pedágio e consumo de combustível são praticamente os mesmos”, questiona.

Anderson reconhece que em certo ponto o ano de 2011 foi positivo, principalmente porque deixou de ser empregado e conseguiu comprar o seu caminhão. “Mesmo com algumas dificuldades, ser dono do próprio negócio é bem melhor do que ser empregado, principalmente porque tenho autonomia para escolher as melhores cargas. Eu decido se o frete compensa ou não”, comemora. Para 2012 o que ele mais deseja é o aumento do valor do frete e a duplicação de algumas BRs como a 116 (serra do Mutum), 251 (entre Salinas e Montes Claros) e 135 (próximo a Montes Claros). “O valor do frete não sofreu reajuste porém, o preço das nossas despesas como combustível e pedágio foram reajustadas. E cerca de 60% de todo o meu faturamento vai para o pagamento desses itens, além do financiamento e manutenção”, relata.

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Falta de coerência nos valores do frete foi o principal problema que impediu a concretização de alguns projetos em 2011, relata Anderson Alex Beltrão

Antonio Amorim Medeiros, 18 anos de profissão, de Governador Dix-Sept Rosado/RN, tem um caminhão Mercedes-Benz 1113, ano 84, e no início de 2011 tinha a intenção de trocá-lo. Segundo ele, diante do valor do frete defasado, mais as dificuldades para conseguir financiamento e juros altos ele não conseguiu atingir seu objetivo. “Nesse ano realmente as coisas foram complicadas. A conta do combustível e pedágio só aumentaram, e o frete permaneceu o mesmo. Atualmente sobra para mim, no máximo, 40% do valor contratado”, contabiliza. Reclama também do não cumprimento da lei que trata do Vale Pedágio, diz que se as empresas realmente pagassem o pedágio ele poderia economizar até R$ 200,00 nas viagens entre São Paulo e Recife. “Esse ano os dirigentes comemoram o fim da carta-frete, mas até hoje o vale pedágio continua sendo incorporado ao valor do frete e ninguém faz nada”, denuncia.

Para o próximo ano, Antonio quer trocar de caminhão, para ter mais opção de carga e economia de combustível, principalmente. “Não consegui poupar, mas acredito que 2012 será um ano melhor. Quero um caminhão fabricado pelo menos em 2005”. O filho Douglas de Medeiro, 18 anos, ajuda o pai, porém, diz que por enquanto não pens

Além do problema do valor do frete, Acácio da Silva Souza destaca a cobrança de pedágio em estradas em péssimas condições no Estado da Bahia
Além do problema do valor do frete, Acácio da Silva Souza destaca a cobrança de pedágio em estradas em péssimas condições no Estado da Bahia

Acácio da Silva Souza, de Caiteis/PE, mora em São Paulo e está há 25 anos na profissão, viaja sempre para Norte e Nordeste. Para ele, o ano não foi bom, principalmente quando compara com 2010. Acredita que um dos fatores que desacelerou um pouco a economia foi à troca de comando do País. “O comércio está inseguro e ninguém compra, consequentemente as cargas diminuem, os preços não sofrem reajustes e ficamos mais tempo parados”. Reclama que o valor frete no final de 2010 era maior do que este ano.

As praças de pedágio implantadas em locais que não oferecem segurança é outro assunto que incomoda Acácio. “Na Rio-Bahia, entre Divisa Alegre e Salvador, as estradas estão péssimas e ainda temos de pagar R$ 8,00 para utilizá-la, é um absurdo. Diferente de São Paulo, onde pagamos mas temos estradas seguras, com boa estrutura”, compara.

O descumprimento da lei do Vale-pedágio também aumenta as despesas de viagem, já que o dinheiro sai do bolso do carreteiro, lembra Reni Luiz Webber
O descumprimento da lei do Vale-pedágio também aumenta as despesas de viagem, já que o dinheiro sai do bolso do carreteiro, lembra Reni Luiz Webber

Apesar de todas as reclamações, as expectativas para 2012 são boas. Acredita que o mercado vai acelerar novamente e o valor do frete melhorar. Entre os objetivos a serem atingidos no próximo ano estão pagar as dívidas e trocar a carroceria. “Claro que penso em trocar de caminhão também, mas, por enquanto, a parte mecânica está boa, pois faço revisão regularmente. A única coisa que está me incomodando é mesmo o estado da carroceria”, afirma. Outra coisa que Acácio deseja para 2012 é que os motoristas sejam mais unidos e briguem por questões que melhorem as condições da profissão.

Aguinaldo Aparecido comenta que o ano foi fraco, porque os preços do combustível e do pedágio subiram, mas o valor do frete continuou sendo o mesmo
Aguinaldo Aparecido comenta que o ano foi fraco, porque os preços do combustível e do pedágio subiram, mas o valor do frete continuou sendo o mesmo

Para Reni Luiz Webber Manus, 29 anos de profissão, que sempre viaja ao lado da esposa Ivani Tomaz, 2011 também deixou a desejar, principalmente em relação à carga e frete. Na ocasião da reportagem, Reni havia descarregado há três dias e aguardava para retornar para Manaus/AM. “Está faltando carga para a região, como é um frete que compensa ficou bastante competitivo, mesmo sendo 40 dias de viagem”, explica.

O não cumprimento da lei do Vale Pedágio também está na sua lista de reclamações, e diz que poderia economizar entre R$ 500,00 e 600,00. A expectativa para 2012 gira em torno de uma melhora no valor do frete para o Amazonas por conta da Copa do Mundo de 2014, já que no local está sendo construído um estádio e possivelmente a demanda de carga e até de emprego deve aumentar.

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Empregado e comissionado, Cícero dos Santos acredita que devido às obras de infraestrutura da Copa de 2014, as coisas vão melhorar para os motoristas

Outro carreteiro que também faz a rota para Manaus é Cícero dos Santos, 47 anos, 26 de profissão, do Rio de Janeiro, porém para ele o ano foi bom e se não fosse um problema familiar teria realizado a meta estabelecida no início de 2011 de comprar a sua casa e sair do aluguel. “Trabalhei bastante esse ano e como sou empregado ganho por comissão. Tenho fé que em 2012 as coisas vão ser ainda melhores, principalmente pelas obras que estão sendo realizadas para a Copa de 2014, e finalmente vamos ter a nossa casa”, afirma

Tem opinião de que algumas situações precisam melhorar para tornar mais fácil o dia a dia dos carreteiros, caso das restrições de horário de circulação de caminhões na cidade de São Paulo. Pensa que os governantes estipulam horários para andarmos na cidade, mas não oferecem lugares seguros para estacionar os veículos. “Na minha opinião, deveria ser construídos pátios em locais próximos de São Paulo, como Campinas, Sorocaba, para podermos aguardar com segurança”, sugere. Outro ponto destacado por Cícero – que na ocasião estava acompanhado da esposa Roseli Andrade Santos – refere-se à conservação das rodovias que, em alguns casos, ainda apresentam muitos problemas de estrutura.

Para o cegonheiro Antonio Santos da Silva foi um ano especial, seu faturamento cresceu 40% e ele conseguiu atualizar em 10 anos seu caminhão
Para o cegonheiro Antonio Santos da Silva foi um ano especial, seu faturamento cresceu 40% e ele conseguiu atualizar em 10 anos seu caminhão

Há cinco anos na profissão, Aguinaldo Aparecido Dionízio, diz que 2011 foi um ano fraco quando comparado a 2010, principalmente em relação ao valor do frete e o volume de carga. Explica que o valor pago no começo de 2010 é o mesmo praticado no final do ano, porém, despesas como combustível, pedágio aumentaram. “Acredito que a troca de comando do País foi um fator que contribuiu para a insegurança do mercado, mas em 2012 as coisas vão voltar ao normal”. Aguinaldo conta que o ritmo acelerado de 2010 o levou a pensar em trocar o seu caminhão ano 89 por um modelo zero quilômetro. Porém, desanimou logo nos primeiros meses do ano e agora a renovação deve ficar para 2012. “A coragem de assumir uma nova divida diminuiu. Se as coisas melhorarem volto a estudar as possibilidades. Afinal, o meu caminhão está ficando pouco competitivo em relação ao consumo de combustível e para pegar carga”, afirma.

Daniel Alison Matter, de Ijui/RS, que está há 15 anos na profissão e transporta por todo o País, explica que carga não faltou, mas o problema foi o aumento de custo que o frete não acompanhou. Em 2011 ele conseguiu aumentar um eixo no seu caminhão e trocar a carreta que paga com muita dificuldade. “No ano passado conseguia tirar 50% líquido, hoje apenas 35%. E para o ano que vem não estou com muitas esperanças, já que trabalho basicamente com o transporte de açúcar e a previsão é de safra baixa. Se conseguir me manter no mercado será ótimo”, explica.

Um dos seus planos é trocar de caminhão, mas vê como item de grande importância a mudança na política de transporte, pois modelos de financiamento como o Procaminhoneiro, por exemplo, não atende de maneira satisfatória as necessidades dos autônomos. “Além disso, é importante que se estabeleça uma tabela mais justa de frete, pois muitas vezes percorremos a mesma distância com cargas parecidas e recebemos valores muito diferentes. Porém as despesas são fixas e aí vem o prejuízo”, reclama. Ele tem um caminhão ano 1992 e acredita que para se manter competitivo precisa atualizá-lo em pelo menos 10 anos. “O Brasil precisa de uma política séria de renovação de frota. Todos sairiam ganhando, porque veículo mais novo polui menos, e para nós seria sinônimo de economia de combustível e de manutenção”, opina.

O valor líquido do frete, que era de 50% em 2010 caiu para 35% em 2011, comenta Daniel Alison, que conseguiu instalar um eixo a mais no seu caminhão
O valor líquido do frete, que era de 50% em 2010 caiu para 35% em 2011, comenta Daniel Alison, que conseguiu instalar um eixo a mais no seu caminhão

Diferente da maioria dos colegas de estrada está o cegonheiro Antônio Santos da Silva, de Vitória da Conquista/BA. Feliz da vida, ele conta que os incentivos dados pelo governo para facilitar a compra de automóveis aumentaram a demanda de trabalho e seu faturamento chegou a crescer cerca de 40% em relação a 2010. “Foi um ano especial, atualizei o meu caminhão em 10 anos e estou quase fechando uma vaga. Acredito que o ano foi ruim para os colegas que transportam carga seca, mas espero que 2012 seja tão bom quanto foi este ano”, conclui