Por Evilazio de Oliveira

No momento em que o carreteiro recebe o caminhão novo, na concessionária, é inevitável a pressa na liberação dos documentos, emplacamento e a saída para a estrada, de imediato. Afinal, caminhão parado não rende frete. Também é preciso pensar nas prestações, quase sempre altas, que vencem todos os meses. São poucos os estradeiros que nessa hora se preocupam com os termos da garantia, nas revisões periódicas e manutenção do caminhão, que apesar de ser novo, também merece cuidados. Há quem se encante com a conversa do vendedor, que só fala maravilhas, sem prestar muita atenção para a assistência pós-venda. Mesmo assim, pelo menos as primeiras revisões são feitas conforme o manual. Depois, tudo vai depender da atenção e do interesse das concessionárias em cativar o cliente, segundo depoimento de compradores de caminhões novos e que estão no trecho.

Para Magnos Alberto Knorst, que possui quatro caminhões, o cliente deve ser respeitado e bem atendido na concessionária, caso contrario a solução é comunicar a montadora e trocar de ponto
Para Magnos Alberto Knorst, que possui quatro caminhões, o cliente deve ser respeitado e bem atendido na concessionária, caso contrario a solução é comunicar a montadora e trocar de ponto

Magnos Alberto Knorst, 44 anos e 10 no setor de transportes, tem opinião de que se a concessionária não atender bem o cliente no pós-venda troca-se de revenda e comunica o fato à montadora”. Lembra que o cliente precisa ser bem atendido e respeitado. Ele é dono de quatro caminhões, três deles adquiridos novos. O mais recente é um Mercedes-Benz Axor 2009, comprado em agosto do ano passado na Veisa Veículos Ltda., em Santa Maria/RS. Como ele mora em Uruguaiana/RS, muitas vezes precisa viajar para outras localidades para a revisão de seus caminhões, como é o caso de um Ford Cargo que adquiriu em Sapucaia do Sul/RS, na Grande Porto Alegre. No entanto, não impede de manter seus caminhões sempre sob os cuidados do pessoal técnico das concessionárias, “isso para que o veículo tenha um histórico e se mantenha valorizado”.

Jairo Achiles Panosso não tem queixa sobre atendimento nas concessionárias, apenas lamenta que os clientes não sejam comunicados das promoções
Jairo Achiles Panosso não tem queixa sobre atendimento nas concessionárias, apenas lamenta que os clientes não sejam comunicados das promoções

Knorst reconhece que pode pagar um pouco mais caro por essa assistência, mas tem a garantia de peças originais e está protegendo o seu capital e seu investimento, principalmente na hora da troca ou da venda. “Tenho um caminhão com histórico”, diz. Ele conta que um motorista foi buscar o Mercedes-Benz em Santa Maria, recebeu toda a documentação, manual de instruções e ainda passou um dia recebendo instruções técnicas sobre como melhor dirigir o veículo e conhecer todas as novidades tecnológicas. Já fez a primeira revisão para a troca de óleo e filtros e está tudo muito bom, garante.

Natural de Frederico Wesphalen/RS, Jairo Achiles Panosso, 55 anos e 31 de estrada, é dono de 11 caminhões que estão rodando no transporte internacional. O último pesado zero que comprou foi um Scania 380 trucado, na Suvesa, em Eldorado do Sul/RS, há cerca de um ano e meio. É um veículo 2008 modelo 2009, que até os 100 mil quilômetros fez todas as revisões e eventuais trocas de peças na concessionária. Mas, da mesma maneira como faz com os demais caminhões da sua frota, prefere levar em oficinas conhecidas em Ijuí e Passo Fundo, aonde mão-de-obra e peças equivalem às autorizadas e o serviço é garantido.

Apesar de afirmar não ver grandes vantagens na rede, a não ser as peças genuínas, José Paulo Fassina garante que fará as revisões de seu caminhão novo na rede autorizada
Apesar de afirmar não ver grandes vantagens na rede, a não ser as peças genuínas, José Paulo Fassina garante que fará as revisões de seu caminhão novo na rede autorizada

Panosso não tem queixa do atendimento nas concessionárias, apenas lamenta que os clientes não sejam comunicados com maior frequência sobre as promoções, revisões ou até mesmo na venda de peças e de caminhões. Ressalta que na hora da venda é só alegria, depois há certo abandono por parte das concessionárias. Na verdade, diz, não há uma preocupação com um relacionamento pós-venda com o cliente. Ele não tem uma programação para as revisões preventivas, todavia sempre está em contato com os motoristas para saber de qualquer anormalidade e procurar consertar antes que estrague mais e o prejuízo seja maior, atrasando a entrega da carga, por exemplo.

Pablo Zinelli diz que após seis meses de uso seu caminhão apresentou um pequeno problema e a concessionária não resolveu, além de ter reduzido a garantia do veículo
Pablo Zinelli diz que após seis meses de uso seu caminhão apresentou um pequeno problema e a concessionária não resolveu, além de ter reduzido a garantia do veículo

José Paulo Fassina, 53 anos e 35 de estrada – natural de Anta Gorda/RS – comprou o seu primeiro zero quilômetro há pouco mais de um mês. Com financiamento do Procaminhoneiro ele adquiriu um Volvo FM370 ano 2010, com garantia de fábrica por um ano. Não fez nenhum pacote especial para assistência técnica e precisou pagar o óleo e filtro na primeira revisão. Apenas a mão-de-obra foi cortesia. Também já precisou utilizar a assistência 0800 para esclarecer uma pequena dúvida em relação “a uma luzinha no painel, que não apagava” e garante que foi muito bem atendido. Nessa fase inicial de trabalho com o caminhão novo, Fassina tem rodado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, porém, vai começar a viajar para a Argentina por causa dos fretes melhores. Confessa que pretende continuar com as revisões e manutenção na rede autorizada, mas diz que não vê grande vantagem, a não ser a certeza do pessoal especializado e das peças genuínas.

Relacionamento pós-venda e falta de agilidade são problemas que o empresário Wendell Krassmann, que diz já ter perdido cliente por conta disso, aponta em relação às concessionárias
Relacionamento pós-venda e falta de agilidade são problemas que o empresário Wendell Krassmann, que diz já ter perdido cliente por conta disso, aponta em relação às concessionárias

Fassina – que é dono de outros quatro caminhões de outras marcas – confessa que ainda está se adaptando à nova maneira de dirigir, pois a caixa de câmbio é automatizada, além de outras novidades, que admite que está se acostumando rapidamente. Cuida da manutenção preventiva das partes essenciais, troca de óleo na época certa, revisão periódica do sistema de alimentação, freios, embreagem e cubos de rodas. Garante que está sempre atento por questões de segurança e econômicas, afinal, o caminhão não pode ficar parado, acentua. Empresário em Uruguaiana/RS e investindo em transportes há cerca de três anos, Pablo Zinelli, 31, conta dos dissabores que teve depois da compra de um Ford Cargo, 2009, na Konrad Sul, em Santa Maria/RS. Lembra que o caminhão é excelente, econômico. Estava feliz, porém, com seis meses de uso houve um problema com uma borracha do intercooler, “uma borracha que custa R$ 10,00 e eles (a concessionária) não quiseram trocar, sob a alegação que precisaria estar totalmente inutilizada”. Zinelli diz que isso não podia acontecer, pois, se estragasse numa subida das cordilheiras numa viagem ao Chile poderia haver um desastre. Reclama, também, da garantia que seria para dois anos de uso e foi cortada para apenas um ano, sem maiores explicações. Lembra que teve um problema com os injetores e precisou pagar pelo conserto porque estaria fora da garantia. Apesar de todas as revisões previstas e de despesas extras, admite que alguns serviços precisam ser feitos fora da concessionária em razão do atendimento, e até mesmo por economia. Agora ele comprou um Iveco 2010 na Bivel, em Canoas/RS, porque teve preço e garantias atraentes e adiantou que espera ter uma melhor assistência pós-venda. Reclama, também, que na maioria das vezes o comprador sai da concessionária e não tem mais respaldo para nada. Garante que cuida muito bem dos seus caminhões, fazendo revisões periódicas e indagando os motoristas sobre eventuais problemas.

Nota fiscal errada, que causou problema de emplacamento e falta de manual do veículo são situações que foram vividas por Robson José Utezig na compra de um caminhão novo
Nota fiscal errada, que causou problema de emplacamento e falta de manual do veículo são situações que foram vividas por Robson José Utezig na compra de um caminhão novo

Para o proprietário da Rodokrass – Transportes Nacionais e Internacionais Ltda., de Uruguaiana/RS, Wendell Krassmann, 27 anos e três no setor, a principal crítica à atuação das concessionárias está na assistência técnica, no relacionamento pós-venda e na falta de agilidade. Para ele, tudo emperra na burocracia e na perda de tempo. Conta que em julho do ano passado teve um problema mecânico com um Mercedes-Benz Axor novo, na garantia, e teve de esperar sete dias pela peça que precisou sair de São Paulo/SP. Com isso a entrega da carga atrasou e ele perdeu um cliente importante. Pergunta se essa peça não poderia ser fornecida por outra concessionária, emergencialmente, já que todas pertencem à mesma marca. Desgostoso com o atendimento, além de considerar caro o preço da assistência, em março passado ele comprou um caminhão de outra marca, em concessionária em Uruguaiana. Garante que faz as trocas de óleo, filtros e revisões de acordo com as orientações técnicas, porém, sempre precisa pagar, uma vez que a garantia só cobre motor, diferencial e caixa. “No final, nem vale a pena”, salienta, lembrando que para uma troca de óleo muitas vezes o caminhão precisa ficar o dia inteiro parado. “Caminhão parado é prejuízo, lembra, citando também as inevitáveis esperas a que são submetidos na aduana nas viagens internacionais. Acredita que os termos da garantia deveriam ser mais claros e abrangentes, simplificando o atendimento nas oficinas e evitando a perda de tempo para o carreteiro.

Depois de receber o Iveco Cursor 330 na concessionária, em Canoas/RS, Robson José Utezig, 52 anos e 25 de estrada, começou a ter problemas com as notas fiscais, que foram entregues erradas. Somente na quarta nota foi feita a correção dos erros para que o Detran aceitasse o documento para o emplacamento. Não recebeu o Manual de Instruções sob a alegação de que como o caminhão era um lançamento, o manual ainda não havia sido expedido pela montadora. Quando lhe entregaram o caminhão, o responsável apenas lhe mostrou as alavancas de controle de luz e limpador de para brisas. Robson Utezig, natural de Santo Cristo/RS, e dono de quatro caminhões, enquanto esperava pelo emplacamento, mandou instalar um rastreador no caminhão novo. Agora, sem saber se foi por erro na instalação ou “defeito de fábrica” as luzes do painel não se apagam e a bateria descarrega. Está há mais de 40 dias parado esperando para levar o caminão para uma revisão na concessionária, mas já sabe que mesmo sem usar o veículo, vai gastar um bom dinheiro.