Carreteiro com mais de 20 anos na estrada, Gerson era do tipo machão para quem lugar de mulher é na cozinha. Sempre nervoso, com tolerância zero, os colegas o apelidaram de “cara amarrada”, mas não ousavam a brincar com ele. Falavam apenas o necessário, e mesmo assim quando o próprio puxava o assunto. O que se comentava entre os conhecidos é que apesar de ser competente no trabalho, e de fazer viagens longas que o mantinha afastado da família por quase um mês, quando estava em casa não queria saber de fazer nada, como todo machão que se preza.

Sua rotina era conhecida quando chegava em casa: sentava no sofá, ligava a televisão e ali passava o dia inteiro. Era atendido e servido na maior mordomia. A esposa e os fi lhos aceitavam a situação, afi nal, a profissão de motorista de caminhão não é nada fácil. Casado há 25 anos com Juçara, pôde contar sempre com a dedicação, carinho e apoio da companheira. Ela cuidava de todos os detalhes da casa, como a educação dos filhos, da saúde e compromissos da casa, além da aparência do marido.

A cada viagem, Juçara se preocupava com o Gerson e lhe fazia recomendações sobre alimentação. Aliás, a esposa se preocupava também com a forma como o marido se vestia e por conta disso estava sempre impecável. Camisetas e camisas limpas, bem passadas sempre com aparência de nova. Esse era também um dos assuntos nas rodas de motoristas.

Em uma de suas viagens, Gerson encostou em um grande posto de estrada para passar a noite. Tomou um banho, jantou e depois subiu na boléia para descansar. Os colegas, como de costume, estavam reunidos jogando conversa fora, apesar do frio na região. Eles até tentaram chamá-lo, por educação, para participar da prosa, mas como sempre, ele recusou disse que estava exausto e foi dormir. Na verdade, ele não era de muitos amigos.

Logo após pegar no sono, Gerson acordou com mal-estar. Bebeu um copo d´água, esperou algum tempo, mas a situação começou a piorar. Alguma coisa não tinha caído bem no seu estômago e precisava urgente de um banheiro. Desesperado, abriu a porta do caminhão e seguiu rapidamente para o banheiro. Porém na pressa que a situação delicada exigia nem lembrou de tirar o pijama, que, aliás, foi um prato cheio para os colegas ao vê-lo vestido como um verdadeiro palhaço de circo dentro de um pijama de bolinhas.

Quando retornou, não sabia o que fazer para evitar passar perto do grupo. Pensou em dar a volta e entrar pelo outro lado, mas decidiu argumentar, explicar, mas de nada adiantou. Era só risada do seu pijama. Nervoso e meio sem jeito, entrou no caminhão e bateu a porta para uma longa noite de idas e vindas do banheiro. Depois desse episódio, Gerson fi cou conhecido no grupo como “Machão de pijama”. Claro que apenas entre eles, pois até hoje ninguém teve coragem de chamá-lo assim.