Por Alessandra Sales  Fotos Fernando Favoretto

Depois de surgir no México e nos Estados Unidos, em 2008, a gripe A causada pelo vírus H1N1 fez muitas vítimas em 2009 nos países da América do Sul, incluindo o Brasil, causando uma mudança de hábitos na sociedade em geral, como forma de se proteger da doença. Os motoristas de caminhão não fugiram à regra, principalmente aqueles que cruzam a fronteira, no transporte internacional.

Preocupado em tomar logo a vacina, Flávio Latarullo lembra que, no ano passado, quando procurava saber sobre a Gripe A oauvia informações diferentes
Preocupado em tomar logo a vacina, Flávio Latarullo lembra que, no ano passado, quando procurava saber sobre a Gripe A oauvia informações diferentes

Dados recentes do Ministério da Saúde revelaram que no período entre abril e dezembro do ano passado foram registrados 42.989 casos graves e 2.051 óbitos. Como medida para tentar evitar uma nova epidemia prevista para o Inverno deste ano, o Ministério da Saúde divulgou a campanha nacional de vacinação, em vigor desde março nos postos de saúde. A meta é imunizar 91 milhões de brasileiros considerados do grupo de risco, até o final de maio. A ação inclui gestantes, crianças com idades entre seis meses e um ano e 11 meses, pessoas com doenças crônicas, jovens de 20 a 29 anos, adultos de 30 a 39 e idosos.

Após perder um amigo, que contraiu a doença, João Francisco da Silva garante que redobrou os cuidados e procura ficar informado sobre o assunto
Após perder um amigo, que contraiu a doença, João Francisco da Silva garante que redobrou os cuidados e procura ficar informado sobre o assunto

Ciente do calendário da campanha e dos grupos envolvidos, o motorista Flávio Latarullo, 27, de Ibiúna/SP, sentia-se ansioso para tomar a vacina e seguir viagem tranquilo, na ocasião que foi consultado pela reportagem da Revista O Carreteiro. Acostumado a permanecer longe de casa por vários dias, transportando pedras, Latarullo admitiu ter medo de esquecer a data de vacinação. “Não posso perder o prazo. No começo, quando surgiu a nova gripe eu ficava perdido. Perguntava para um e para outro e sempre ouvia coisas diferentes. Hoje sei o que devo fazer para me prevenir: lavar sempre as mãos, usar álcool em gel e evitar ambiente fechado com pessoas gripadas”, explanou. Ressaltou que manteria os mesmos cuidados aplicados na primeira epidemia, mesmo se não estivesse no grupo de risco. “Não posso ficar doente e largar o volante”, comentou.

O argentino Ricardo Acunha diz que estava ciente da necessidade de se prevenir contra a Gripe A, porém desconhecia que era preciso tomar a vacina
O argentino Ricardo Acunha diz que estava ciente da necessidade de se prevenir contra a Gripe A, porém desconhecia que era preciso tomar a vacina

Às vesperas de completar 40 anos de idade e 20 de estrada, João Francisco da Silva, de Uruguaiana/RS, afirmou que perdeu um amigo de apenas 36 anos infectado pelo vírus H1N1. Lembra que bastou uma semana apenas de internação e o óbito foi constatado pelos médicos. “A gente acompanha muitas informações pela mídia, mas quando vivenciamos de perto a situação assusta. Por isso, redobro meus cuidados sempre que posso, até porque não conheço ninguém que queira ficar doente”, enfatizou.

Enquanto para alguns a divulgação da campanha está em alta, para outros ainda é um fator desconhecido, caso do argentino Ricardo Acunha, de 39 anos. “Eu sabia da prevenção da gripe, mas desconhecia que era preciso tomar vacina”, admitiu. Disse que iria se informar e procurar um posto de saúde o mais rápido possível. “Preciso aproveitar a chance que tenho e agradecer por não ter de pagar para tomar a vacina, pelo menos por enquanto”, comemorou.

As pessoas com mais de 40 anos de idade deveriam ser as primeiras a receberem a vacina para serem imunizadas, opina Cláudio Gonçalo da Silva
As pessoas com mais de 40 anos de idade deveriam ser as primeiras a receberem a vacina para serem imunizadas, opina Cláudio Gonçalo da Silva

Sem a mesma sorte, Cláudio Gonçalo da Silva, 50, de Campinas/SP, não se conformou com o fato de não ser incluído no grupo de risco. “Será que acima de 39 anos a gente se torna imune ao vírus?”, indagou. Em sua opinião, as pessoas com mais de 40 anos deveriam ser as primeiras a serem vacinadas e, consequentemente, imunizadas. Embora conteste a decisão do Ministério da Saúde, Silva se mostrou interessado a pagar a vacina, contanto que o valor não interfira no orçamento mensal. “O carreteiro já ganha tão pouco e ainda tem de pagar para não ficar doente”, lamenta. O motorista lembrou que desde as primeiras mortes ocorridas no ano passado, nunca mais deixou de redobrar a atenção com a saúde e com todos ao seu redor.

Adolfo Wurfel, de 44 anos, disse que o custo da vacina não estava em seu orçamento, mas vai pagar porque se trata de uma necessidade
Adolfo Wurfel, de 44 anos, disse que o custo da vacina não estava em seu orçamento, mas vai pagar porque se trata de uma necessidade

Opinião contrária mostrou o gaúcho Adolfo Wurfel, 44, da cidade de Ijuí, ao explicar que ficou relaxado com os assuntos ligados à gripe A. “Por mais campanhas e prevenções divulgadas, o brasileiro é muito tranquilo e deixa sempre as coisas para a última hora”, opinou. Declarou, ainda, que se tiver de pagar a vacina não pensará duas vezes. “Não é fácil lidar com um novo gasto, ainda mais quando se planeja um orçamento mensal, mas não adianta virar as costas para uma necessidade como essa”, concluiu.

O autônomo lembra que em 2009 ninguém podia dar um espirro que gerava desconfiança, porém sua filha de 20 anos contraiu o vírus
O autônomo lembra que em 2009 ninguém podia dar um espirro que gerava desconfiança, porém sua filha de 20 anos contraiu o vírus

O também gaúcho Jorge Luis, 51, autônomo de Porto Alegre, disse também não ter se intimidado com a gripe A. “Me lembro que ninguém podia dar um espirro que já era constatado gripe suína”, relata. O que o motorista não esperava é que sua filha, de 20 anos de idade, contraísse o vírus H1N1. “Logo no começo ela apresentou sintomas de um resfriado normal, mas o médico atestou a nova gripe”, lembra. Jorge Luiz agradeceu por não ter contraído a doença e garantiu que mesmo assim a sua rotina continuou a mesma de sempre. “Não é mais novidade que motorista de caminhão não se cuide, o negócio é seguir adiante”, afirmou.

Um kit de higiene, que inclui álcool em gel e sabonete líquido, nunca falta na cabine de seu caminhão, afirma Renécio Castelan
Um kit de higiene, que inclui álcool em gel e sabonete líquido, nunca falta na cabine de seu caminhão, afirma Renécio Castelan

Quem não concorda com a afirmação é o transportador Renécio Castelan, natural de Getúlio Vargas/RS, que aos 49 anos não admite faltar em sua cabine de caminhão o “kit de higiene”, que inclui álcool em gel, máscara e sabonete líquido. De acordo com ele, o último item citado é fundamental para a utilização dos banheiros nos postos de serviços. Quando questionado sobre a vacinação, o gaúcho demonstrou preocupação, uma vez que já passou da faixa etária permitida para se vacinar. “Se puder pagar, eu pago. Apertando daqui e dali até posso conseguir, só gostaria de saber como ficam os que não têm condições?”, pergunta. Para ele, a categoria precisa estar atenta às informações e se prevenir da maneira que conseguir. “Perdi um colega novo, não quero que isso aconteça novamente. Não é por acaso que empresas têm investido na divulgação dos perigos da nova gripe”, finalizou.

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Impedido de usar banheiro de empresa por causa do combate ao vírus, José Carlos Celestino admite que é preciso os carreteiros estarem conscientes

O carreteiro José Carlos Celestino, 54, de Ijuí/RS, diz já ter sido impedido de usar o banheiro de uma empresa por conta de um procedimento de combate ao vírus. “A situação foi tão crítica, que as empresas também disponibilizavam álcool em gel para os motoristas. Antes de tudo é importante os carreteiros se conscientizarem”, alertou.

Aparecido Gregório Vides, 59, de São Paulo/SP, concorda com a afirmação e não mede esforços quando é a saúde que está em jogo. Na ocasião, o paulista declarou que estava a caminho de um posto médico para se vacinar, quando foi informado sobre o grupo de risco, do qual não fazia parte. “Eu não sabia desta divisão de idades, pois imaginei que a vacina fosse para todos. Vou me informar a respeito e, quem sabe, pagar para tomá-la”, conclui.

O que está em jogo é a saúde, por isso não se deve medir esforços, afirma Aparecido Gregório Vides, que admitiu pagar para ser vacinado
O que está em jogo é a saúde, por isso não se deve medir esforços, afirma Aparecido Gregório Vides, que admitiu pagar para ser vacinado

Vacinação no SUL

Em 2009, a incidência de casos da gripe A foi significativa em todo o Brasil, com destaque para a Região Sul devido a proximidade com as fronteiras da Argentina, país que registrou muitos casos do vírus H1N1. Preocupado com os motoristas de caminhão que fazem a rota internacional, o secretário da Saúde, Osmar Terra, juntamente ao Governo do Estado e entidades ligadas ao setor, interviu na decisão do Ministério da Saúde e conseguiu que trabalhadores do transporte internacional do porto seco de Uruguaiana – somados em todo o Estado em aproximadamente 17 mil profissionais – fossem vacinados. Para receber o medicamento era preciso que o motorista do porto seco de Uruguaiana apresentasse documento de nacionalidade brasileira.

A iniciativa contou com apoio da ABTI – Associação Brasileira dos Transportadores Internacionais-, Cootranscau, CTTI, Sindimercosul, Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do RS (Sdaergs), concessionária EADI-Sul e Mercovia. Até o final de março, cerca de 1.200 trabalhadores já tinham sido vacinados. Além de Uruguaiana, os portos dos municípios de São Borja, Jaguarão, Chuí, Aceguá, Sant`Anna do Livramento, Quaraí, Barra do Quaraí, Itaqui e Porto Xavier também foram autorizados a receber a campanha da Secretaria da Saúde do Estado.