Por Elizabete Vasconcelos

A principal rota para o escoamento da produção agrícola do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e também do vizinho Paraguai precisa ser duplicada com urgência. A obra na BR-277 – rodovia que corta o território paranaense e desemboca no Porto de Paranaguá – é pivô de um impasse entre as concessionárias que a administram e o governo estadual.

Uma das polêmicas começou em 2000, quando a duplicação de um trecho com 80 quilômetros (entre Cascavel e Medianeira) foi excluída do contrato original de concessão, ocorrida em 1997. Isso aconteceu em virtude dos prejuízos que a empresa que administra a via registrou em 18 meses, período em que a tarifa de pedágio foi reduzida pelo governo à metade.

O trecho é apontado por especialistas como um dos que precisa de reparos com mais urgência. Para se ter uma ideia, apenas no ano passado, 50 pessoas morreram no trajeto. Entretanto, a duplicação não é bem-vinda apenas neste percurso. De acordo com números da Secretaria de Estado de Transportes, dos 730 quilômetros de extensão da estrada, apenas 200 estão duplicados.

“Diversos fatores justificam a implantação de pista dupla em toda a extensão da rodovia. Entre eles estão o alto volume de tráfego, o baixo nível de serviço (comparação entre fluxo e infraestrutura) e a segurança”, argumenta Djalma Martins Pereira, professor do departamento de transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Diversos fatores, como o alto volume de tráfego, segurança e o baixo nível de serviços, entre outros, justificam a implantação de pista dupla na BR-277

Para o especialista, fazer com que a via seja duplicada é uma questão de negociação. “Acredito que o governo e as concessionárias possam entrar em um acordo e viabilizar o projeto”, destaca o professor, fazendo referência aos 140 processos judiciais que foram paralisados por 180 dias para que a iniciativa privada e o governo estadual possam resolver impasses sobre a redução nos valores do pedágio e a inclusão de obras viárias nos contratos de concessão. Entretanto, fazer uma obra como essa custa caro. De acordo com Evandro Viana, diretor-superintendente da EcoCataratas, uma das concessionárias que administra a BR-277, cada quilômetro de duplicação depende de um investimento que varia entre R$ 2,8 milhões e R$ 3,8 milhões. Segundo o executivo, mesmo não sendo de responsabilidade da concessionária, a EcoCataratas desenvolveu um projeto para duplicar 91 quilômetros da rodovia, trecho entre Medianeira até a chegada à Ferroeste – sistema ferroviário paranaense. Segundo ele, o projeto já está pronto, mas depende do diálogo com a esfera pública.

Viana destaca ainda que para fazer a obra no trecho serão necessários pelo menos quatro anos. Conforme suas explicações, o programa prevê a instalação de pista dupla em 22 quilômetros ao ano. “Seria ótimo fazer em um ano, mas não é possível”, destaca.

Mesmo com soluções que, ao que tudo indica, levarão certo tempo para serem finalizadas, José Richa Filho, secretário de transportes do Estado, garantiu, recentemente, que é prioridade do governo paranaense a duplicação da BR-277. Entretanto, admitiu que “o ideal seria duplicar toda a malha do Anel de Integração (que possui 2.493 km de extensão)”. Procurado pela reportagem da Revista O Carreteiro, o secretário afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que o Estado está negociando com as concessionárias, porém não forneceu detalhes sobre esta transação.

No setor de transporte, a duplicação é bem recebida. Gilberto Antonio Cantu, presidente do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná), garante que, sem dúvida, a obra na BR-277 trará benefícios ao transportador. “Será muito bom, tanto na redução de custo operacional quanto no aumento da segurança ao carreteiro e no maior conforto ao motorista em geral. Porém, como nosso pedágio é extremamente caro, tem que cuidar desta relação custo x benefício para que o transporte não sofra com o custo elevado em relação aos outros Estados”, alerta.

O que faz essa via ser tão importante:

Para ter dimensão da real necessidade de uma boa infraestrutura viária no local, é preciso conhecer alguns números. O primeiro deles é o volume de tráfego. No trecho entre Foz do Iguaçu e Céu Azul, por exemplo, passaram mais de três milhões de veículos no ano passado. Já em São Luis do Purunã, chegando ao litoral paranaense, o pedágio localizado na região contabilizou o fluxo de mais de oito milhões de veículos no mesmo período.

Quando o assunto é carga, durante o pico produtivo da safra, apenas do Paraguai, aproximadamente 400 caminhões cruzam a rodovia levando grãos ao Porto de Paranaguá. Além disso, boa parte da colheita do Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, Mato Grosso do Sul (outro importante produtor), além do Paraná – primeiro no ranking entre os Estados produtores de grãos do País – é enviada ao mercado externo por Paranaguá.

Projeções da Appa (Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina) indicam que, neste ano, 28,6 milhões de toneladas de grãos devem ser movimentados no complexo portuário (incluindo importação e exportação). Conforme os dados, 70% de todo o volume enviado ao exterior chega por rodovia. Com isso, a BR-277 recebe diariamente um pequeno exército de caminhões rumo ao porto paranaense.

Durante a safra, entre 1.500 e 1.800 caminhões carregados com grãos chegam diariamente ao porto. Além disso, em média 400 veículos vindos do Paraguai cruzam a rodovia para levar a soja do país até Paranaguá. Diante deste contingente, neste período é comum ver caminhões esperando para descarregar os grãos ao longo da rodovia. Em alguns dias do mês março deste ano, por exemplo, a fila de espera chegou a ter 38 quilômetros ao longo da rodovia BR-277. No restante do ano, a média de veículos com granéis cai para 700 veículos/dia.