Por João Geraldo
A viagem teve como ponto de partida a Volvo Apavel, em Fortaleza/CE, no início da rodovia BR-116, ainda dentro no perímetro urbano. Logo pela manhã, um grupo de motoristas que estava no pátio da concessionária, aguardando atendimento para deixar ou retirar o caminhão da oficina, foi surpreendido pela chegada do presidente. A disposição do executivo de ir para a estrada chamou atenção dos carreteiros, antes, porém, eles queriam conversar com ele, se aproximar, matar a curiosidade e saber porque um alto representante de uma das maiores fabricantes de caminhões do mundo estava ali, sob o sol e calor acima de 35 graus, e com todo aquele espírito estradeiro.
A presença do jornalista Pedro Trucão intensificou ainda mais o ânimo dos carreteiros a se aproximarem de Roger Alm. “Estou há 30 anos na profissão e gosto muito do caminhão Volvo”, disse o motorista Francisco Carlos Santino Pereira, mais conhecido entre os amigos da estrada como Ceará. Em seu breve contato destacou a evolução dos caminhões da marca através dos anos e deu detalhes sobre sua preferência pela marca. Outros profissionais também fizeram comentários, deram opiniões e sugestões.
Antes de o presidente subir à cabine do Volvo FH 540 – atrelado a uma carreta bitrem de alumínio, com apenas um dos semirreboques carregado no peso de balança – para começar a viagem, Ceará apresentou a veia humorística do cearense, ao dizer a Roger Alm que merecia ganhar um caminhão de presente pela sua fidelidade de muitos anos à marca. “Podemos fazer negócio, desde que você nos dê o dinheiro”, respondeu Alm, em um português forçado – esfregando o dedo polegar no indicador – correspondendo à brincadeira do motorista.
A direção a ser seguida era Mossoró/RN, pela BR-116, com pista estreita e simples de mão dupla. O trânsito complicado motivou um comentário por parte do executivo sueco. “Para se ter mais segurança, todos os envolvidos no tráfego devem seguir as leis de trânsito, que foram feitas para os motoristas e pedestres”. A primeira parada aconteceu na pequena cidade de Russas, onde a rota passa a ser seguida pela BR-304, outra rodovia de pista simples e mão dupla, porém com asfalto em boas condições. Uma nova parada em posto de serviço na BR-304, no município de Aracati, onde o executivo conversou com vários motoristas, inclusive alguns que transportam cargas especiais para usinas eólicas.
A paisagem, até então formada em grande parte pelos cajueiros às margens da BR 101 – e também em bom trechos da BR -304 – começa, aos poucos, a ser substituída pelos moinhos de energia eólica – ao longe – e pelas bombas de varetas, mais conhecidas como cavalo de pau (bomba para sucção de petróleo). A quente região de Mossoró, as salineiras e seu calor peculiar estavam cada vez mais próximas. Antes uma parada em Posto de serviço em Aracati, zona rural, ainda no Estado do Ceará.
Retomada a viagem, também começam a compor a paisagem da estrada as carretas que transportam sal para outros Estados, uma carga de retorno, como dizem os carreteiros na região, com frete na média de R$ 135 reais a tonelada. Aliás, 95% de todo o sal produzido no Brasil (cerca de seis milhões de toneladas por ano, por mais de 70 salineiras) sai do Estado do Rio Grande do Norte, com destaque para a região do município de Mossoró.
A Henrique Lage Salineira Nordeste, segunda maior produtora de sal do Brasil, extrai um milhão de toneladas anualmente, dos quais 70% são direcionadas à indústria agropecuária. Esse total, explica Duílio Cesar de Oliveira, diretor comercial da salineira, atende 30% do segmento agropecuário. A empresa vende seu produto para 20 Estados e opera dentro das salineiras com frota própria de 20 cavalos mecânicos que inclui caminhões da marca Volvo.
De acordo com Oliveira, a operação nas salineiras encurta a vida dos caminhões. Os primeiros componentes a sentirem o efeito são o motor de partida e alternador, cujos sintomas começam a aparecer logo após os primeiros de seis meses de uso, com a corrosão das peças. A lataria, ele explica, dura no máximo dois anos. A ação não é tão intensa na frota de terceiros (mais de 100 carretas) que não permanecem o tempo todo operando nas salineiras. Outra carga oferecida é o Carago (gesso Salino) substância originária da extração do sal, utilizada para ser misturada ao cimento.
Novamente a bordo do FH, com as salineiras no retrovisor e o motorista Vânio Albino no comando do caminhão, a viagem prossegue pela BR-304. O destino é a litorânea cidade de Natal, a capital do Estado, 300 quilômetros à frente. Em boa parte do trajeto, a paisagem da rodovia (a caatinga) retrata a seca na região; rios sazonais secos; animais magros, com o couro enrijecido e vez ou outra uma carcaça de gado vítima da escassez de água e pastagem.
Quanto mais vai se aproximando do Litoral, mais verde vai se tornando a paisagem e mostrando mais vida vegetal e animal, embora o forte calor continue a persistir. Em Natal, fim da viagem na concessionária Gotemburgo. “Foi mais uma experiência valiosa para conhecer as estradas do Brasil. Notei que muitas delas precisam de melhorias para transportar as cargas do País. Também aprendi muito sobre a rotina dos motoristas de caminhão”, concluiu Roger Alm, que dormiu duas noites na cabine do Volvo FH.