Há anos, capacitar mulheres para dirigir caminhões deixou de ser novidade no setor do transporte rodoviário de cargas. Ao menos em Mato Grosso, onde desde 2003 o programa Guia Volante – iniciativa da Associação dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso (ATC) – promove treinamento e capacitação de motoristas para a condução de caminhões extrapesados.

Desempenho das mulheres como carreteiras tem conquistado a preferências de transportadoras no Mato Grosso
Desempenho das mulheres como carreteiras tem conquistado a preferências de transportadoras no Mato Grosso
5668t
Primeira turma feminina formada pela ATC aconteceu em junho deste ano

De acordo com o diretor executivo da entidade, Miguel Mendes, o interesse em formar mulheres para uma profissão dominada por homens deve-se ao bom desempenho delas em transportadoras de Rondonópolis/MT, cidade onde está sediada a ATC. “Mulheres que estão trabalhando junto às empresas de transporte da região têm obtido excelentes resultados, como alta produtividade, redução no consumo de combustível e baixo índice de sinistralidade”, justifica Mendes.

Por conta do desempenho positivo, a procura por motoristas do sexo feminino vem crescendo por parte das transportadoras filiadas à entidade. Para atender a demanda, a instituição traçou como meta formar 60 carreteiras no segundo semestre deste ano. Esta expectativa é 10 vezes maior do que o número de alunas formadas pelo curso durante todo o ano de 2010, quando apenas seis mulheres receberam o certificado.

Alunas do curso recebem treinamento prático e teórico com duração de uma semana cada
Alunas do curso recebem treinamento prático e teórico com duração de uma semana cada

A maioria das mulheres que se matricula não possui experiência na área de transportes e as poucas que conhecem as particularidades do segmento normalmente são esposas de carreteiros, companheiras assíduas de seus maridos nas viagens. Um exemplo disso é Isoleta de Souza Cunha, ex-aluna do programa e contratada no último mês de junho pela Transportadora Bergamaschi. Com 56 anos de idade, Isoleta explica que entrou para a carreira por acaso. “Saí para procurar emprego e fiquei sabendo que a ATC estava selecionando mulheres para o Guia Volante. Já tinha a CNH E, mas nunca havia trabalhado com transporte, minha única experiência tinha sido com meu marido, que há muitos anos é motorista de caminhão”, afirma Isoleta. De acordo com a carreteira, o convívio a preparou para o dia a dia na estrada, permitindo a ela aprender grande parte do que sabe sobre as rodovias.

5614t
Valdineuza Santos se formou em 2010, está empregada e diz que o curso a atualizou para o mercado de trabalho

Valdineuza Sousa Santos, de 33 anos de idade, está no segmento de transporte rodoviário de cargas há aproximadamente seis anos e hoje trabalha com uma carreta graneleira. Formada pelo Guia Volante em 2010, ela explica o motivo que a levou a fazer as aulas foi o fato de trabalhar em uma empresa do ramo do setor (Comando Transportes) filiada à ATC, que a encaminhou para fazer o curso. Diz que as aulas a deixaram atualizada com o mercado de trabalho e a ajudaram a entender melhor os cuidados que se deve ter com o caminhão e também sobre a documentação da carga e sua importância. “Aprendi bastante sobre a parte teórica e as funcionalidades do veículo, mas as aulas práticas também ajudaram”, avalia.

5626t
Carreteira profissional, Isoleta Cunha conseguiu emprego após completar o curso

O Programa Guia Volante tem inscrições abertas mensalmente para a formação de carreteiras e carreteiros, em grupos de 20 alunos, sem haver necessidade de ter apenas mulheres na turma. Com carga horária de 96 horas, o curso completo tem duração de duas semanas, dividido em aulas teóricas e práticas. Na primeira etapa, o aprendizado ocorre de segunda a sábado, das 7h30 as 17h30, com duas horas de intervalo para o almoço.

Neste período, os alunos recebem orientações sobre Direção Defensiva e Econômica, Noções Básicas em Conjunto de Freios e Elétrico, Uso Racional dos Pneus, Interpretação de Mapas Rodoviários, Matemática, Português, Legislação no Trânsito, Relações Interpessoais no Trabalho, Ergonomia (Prevenção de Doenças Ocupacionais), Saúde (Prevenção de DST/AIDS, Alcoolismo e Drogas), e Primeiros Socorros.

Na segunda semana – a de aula prática – o aprendizado aborda Técnicas Operacionais em Caminhões Extrapesados. Para isso, cada aluno tem a chance de dirigir um dos caminhões da entidade em um percurso que vai de 1.000 a 1.200 quilômetros. Após a conclusão do curso, os novos motoristas (de ambos os sexos) são encaminhados a processos seletivos de transportadoras. As mulheres não pagam valor algum de inscrição, enquanto para homens é cobrada uma taxa de R$ 50,00. Não há bolsas auxílio para os estudos. Para participar do Guia Volante é necessário possuir habilitação em qualquer categoria para frequentar as aulas teóricas, porém a parte prática exige CNH Categoria E.

Ao ser questionado se mulheres podem encontrar mais dificuldades do que homens para conduzir veículos pesados, Miguel Mendes esclarece que atualmente a tecnologia embarcada nos caminhões facilita muito a operacionalização. “Por isso, os desafios para pilotar um modelo são os mesmos para ambos os sexos”, acrescenta. Sobre os diferenciais entre homens e motoristas do sexo feminino ao volante Mendes é categórico. “As mulheres são mais cuidadosas, não arriscam nas ultrapassagens, respeitam sinalização horizontal e vertical das vias, dirigem de maneira mais defensiva, executam melhor seus roteiros de viagens, respeitam seus horários de descanso e não abusam do tempo de direção”, conclui.

* Com colaboração de Iara Aurora