Por Daniela Giopato

O mercado de frete do País movimenta anualmente cerca de 60 bilhões de reais, e desse total apenas R$ 16 bilhões são contabilizados deixando 73% do setor na informalidade. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e explica porque não é de hoje que bandeiras de cartões, bancos e empresas estão de olho nessa fatia de R$44 bilhões, que fica fora todos os anos dos livros fiscais.

Com o fim da carta-frete, anunciada em junho de 2010, através da Lei 12.249, que alterou disposições à Lei nº 11.442, de 2007, responsável por disciplinar o transporte rodoviário de cargas, muitas empresas especializadas em sistemas de pagamento eletrônico não perderam tempo e anunciaram seus produtos e soluções para atender a resolução 3.658 da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que regulamenta o pagamento do valor do frete referente à prestação dos serviços de transporte rodoviário de cargas, previsto no artigo 5º da Lei.

De acordo com a resolução, o valor pode ser pago por meio de depósito em conta bancária no nome do titular cadastrado ao RNTRC (Registro Nacional de Transportador Rodoviário de Cargas) ou através de inserção de créditos em cartão operado por uma administradora homologada pela ANTT. Todas as operações de transporte rodoviário deverão ser registradas junto à administradora de pagamentos eletrônicos e cada uma delas com um Código Identificador da Operação de Transporte.

Até o início de novembro, seis administradoras de meios de pagamento eletrônico de frete foram habilitadas. Porém, a ANTT ressalta que não há prazo para que as empresas interessadas em operar como administradora solicitem a habilitação junto à Agência, nos termos da resolução.

A maioria dos produtos disponibilizados para o pagamento do frete funcionam como cartões pré-pagos e sem qualquer custo para o motorista de caminhão, conforme determina a resolução. É o caso do Pamcard, solução eletrônica de pagamentos de fretes, combustíveis, pedágios e despesas de viagem, oferecido pela Pamcary. Trata-se de uma plataforma multibanco que permite transferir valores online, ter maior controle da operação e conhecer melhor sua necessidade de fluxo de caixa, custos por rota, filial ou período.

O valor do frete carregado no cartão pode ser utilizado para compras e pagamentos através da função débito pré-pago em toda rede Visa Electron. O carreteiro conta também com a possibilidade de realizar saques e consultas em todo o Brasil pelo auto-atendimento da rede BDN – Bradesco Dia e Noite. Para o presidente da Pamcary, Ricardo Miranda, o fato de o motorista passar a ter um contrato efetivo de prestação de serviço é uma vantagem já que consegue comprovar renda e passa a ser incluído socioeconomicamente no mercado.

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O cartão pré-pago dá liberdade para o motorista escolher o posto de serviço de sua preferência e o pagamento de outras despesas

“O motorista passa a ter liberdade de escolher o posto de combustível de sua preferência e fazer suas compras em todo território nacional pela rede Visa Electron. Passará a receber o frete com um cartão de débito pré-pago, protegido por senha”, comenta Miranda. Ele acrescenta que o calote era outra preocupação dos estradeiros, mas toda carga agora terá que ter um código identificador de transporte, o qual será gerado quando o transportador cadastrar a operação em uma administradora de pagamento de frete.

O Rodocred Frete, da empresa Rodocred, também está chegando ao mercado para substituir a carta-frete. É um cartão eletrônico de débito que pode ser utilizado em saques integrados com redes bancárias, transferências ou em lojas e postos da rede credenciada. O contratante (transportadora ou embarcadora) pode fazer uma gestão completa da operação, desde a programação das rotas, pontos de parada e conferência, além da emissão de todos os documentos obrigatórios à viagem e controle de custos. “O motorista conta ainda com preços diferenciados para consumo de diesel na Rede Credenciada Rodocred, e tem liberdade para consumo de outros produtos na nossa rede ampliada em parceria com a Unik”, explica o diretor comercial da empresa, Marcelo Nunes. O motorista pode sacar em qualquer caixa eletrônico da rede 24 horas ou então transferir – por DOC – o dinheiro do pagamento de frete para a sua conta em qualquer banco. Essa operação pode ser feita pelo site da empresa, onde ele pode ainda acompanhar seu extrato, sua agenda financeira e fazer o pagamento de contas.

Para Nunes, a expectativa da empresa é de atingir 20% do mercado com esse produto. “É um meio de pagamento inteligente, prático e seguro para o contratante e contratado, que garantem todas as etapas do pagamento do frete ao terceiro como adiantamento, crédito para o abastecimento, antecipação do Vale Pedágio, programação de valores para cobrir despesas e, por fim, quitação do frete”, explica.

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Novo sistema diminui a burocracia para o acerto do frete e dá mais tempo para o motorista cuidar do seu negócio

Também de olho no novo nicho de mercado, a NDDigital lançou recentemente o nddCargo, cartão que reúne funções e todas as operações envolvendo o transporte de carga. A função frete, por exemplo, permite que o carreteiro receba os valores de frete direto no cartão e tenha crédito para consumir em qualquer estabelecimento com a bandeira Visa. Além disso, é possível efetuar saques em toda rede 24 horas e rede Plus, receber o valor do pedágio e utilizá-lo em todas as praças do País.

Anderson Locatelli, diretor de mercado da NDDigital, informou que a partir de janeiro a empresa pretende disponibilizar também a função crédito, para que o motorista possa realizar e parcelar as suas compras também em toda rede Visa. Outra vantagem destacada é a possibilidade do carreteiro solicitar cartões adicionais para a família ou outros condutores e poder transferir valores de fretes através do portal com o nome de usuário e senha ou atendimento telefônico 0800. O nddCargo contempla também a prestação de serviços adicionais para otimizar a operação. Uma delas é a quitação de frete através do registro de passagem, que pode ser realizado dentro da empresa ou em um posto credenciado.

Outro sistema é o da Repom, o qual possibilita a contratação da viagem de forma eletrônica, permite ao motorista utilizar o débito em todos os estabelecimentos do País por meio da rede parceira, fazer remessas bancárias para uma conta de sua titularidade em qualquer banco, além de contar com os benefícios dos estabelecimentos especializados Repom. O carreteiro também conta com um cartão adicional para ser utilizado pela família em todo o Brasil.

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Há expectativa de que o novo modelo de pagamento de frete contribua para a renovação da frota no País

O presidente da Repom, Rubens Naves, explica que antes do início da viagem o carreteiro recebe um plano, com as indicações de uma rota segura e rápida, dos pedágios previstos e de estabelecimentos em que poderá contar com benefícios. “São mais de 700 estabelecimentos especializados, nos quais o motorista pode finalizar a viagem com a entrega da documentação sem a necessidade de ir até a filial da empresa contratante, ou seja, não gasta combustível para entregar a documentação, já que pode finalizar a viagem no ponto mais próximo especificado pela Repom. Nos postos credenciados, o preço do combustível é negociado conforme a região, para que o carreteiro consiga economizar ao máximo em sua viagem”, destaca .

Diante dos novos sistemas de pagamento, o presidente da NTC e da seção de cargas da CNT, Flávio Benatti, comenta que o motorista autônomo terá a possibilidade de comprovar a renda, ter acesso ao crédito para trocar o caminhão e contribuir para a renovação da frota circulante no País. Em sua opinião, o fim da carta-frete, somado ao RNTRC e outras questões que estão tramitando no Senado, o transporte rodoviário de carga deverá entrar em outro patamar e os carreteiros deverão acompanhar essas mudanças e se atualizarem.