O programa de renovação de frota de caminhões do México, que se desenvolve continuamente há dez anos, é bem diferente de ações semelhantes nos Estados Unidos e Europa, onde existem mecanismos de financiamento eficientes, além de incentivos. O Programa de Chatarrización (sucateamento) adotado pelo governo mexicano tem como propósito retirar de circulação e garantir a reciclagem de veículos pesados rodoviários e urbanos.

Os principais objetivos do programa são a redução da poluição e dos acidentes provocados por caminhões antigos malconservados. Para ter acesso aos benefícios do programa, o veículo deve ter mais de 10 anos e ser deixado em um dos centros de sucateamento credenciados pelo governo. Nestes locais ele recebe um certificado de destruição que permite adquirir um caminhão novo ou seminovo novo com até 6 anos de uso. O incentivo pago pelo veículo antigo garante a entrada para a compra financiada de outro. Os valores pagos para o sucateamento variam de 48 a 161 mil pesos mexicanos, atingindo até 15% do valor do novo veículo.

Em dez anos, o programa contabiliza mais de 35 mil veículos destruídos. A frota mexicana é composta por aproximadamente 377 mil caminhões, sendo 36% deles com mais de 20 anos de idade, a maior parte pertencente a pequenos transportadores. Entenda-se que mais de 80% das companhias de transporte são de autônomos (proprietários de 1 a 5 caminhões), responsáveis por 27% da frota. Sendo informais, não têm acesso a programas de financiamento. Do lado oposto está 1% das companhias de transporte grandes, as quais detêm 26% da frota.

Dessa forma, calcula-se que esse resultado permitiu poupar 9.630 milhões de pesos mexicanos (equivalente a R$ 1,7 bilhão) em benefícios ambientais, através da redução de poluentes, além de valor ainda não contabilizado em redução de acidentes de trânsito.

Apesar de aplicar incentivos governamentais, ao contrário de EUA e Europa, este programa apresenta aspectos interessantes, tais como levar em conta tipos de transportadores, por tamanho; permitir ajustes, como foi feito, para garantir sua continuidade; os resultados são monitorados e mensurados em benefícios ambientais. O programa usa de incentivos fiscais, mas é merecedor de atenção pelo fato de já ter demonstrado eficiência. Possui longevidade, passou por ajustes e apresenta resultados positivos. No caso do Brasil, esse assunto não é novo e está na pauta, com o envolvimento de 10 entidades. Mas sempre vale a pena observar experiências positivas que deram certo e até – se possível – aplicá-las localmente considerando as características peculiares do País.

 

Sérgio Gomes é ex-diretor de estratégia do Grupo Volvo na América Latina, especialista em Estratégia e Negócios e sócio-diretor da Sérgio Gomes Consulting Group.