Por Nilza Vaz Guimarães

O diesel vendido nos postos de combustíveis nem sempre é de boa qualidade. A avaliação é do vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Contêineres do Estado da Bahia – Setconteiners e diretor presidente da José Rubem Transportes e Equipamentos Ltda, José Rubem Moreira de Souza Filho. E baseando-se nessa premissa, o empresário, que tem uma frota de 30 cavalos mecânicos e 65 semi-reboques e roda aproximadamente 6 mil km por mês, instalou um tanque de diesel na sede de sua matriz, em Simões Filho/BA. “Desta maneira, tenho certeza de abastecer meus veículos com um bom diesel, tendo o menor custo”, acrescenta o empresário, que garante que após a instalação do tanque, os custos com este insumo diminuiu.

De acordo com ele, seus carreteiros pernoitam em postos de abastecimento, mas sentem a falta de um local para descanso e banheiros limpos. Para o empresário, enquanto uns postos fecham, outros abrem, e o que deve ser levado em conta é que os investidores devem pensar um pouco mais no profissional da estrada e atendê-lo melhor, criando assim uma infra-estrutura para o conforto e satisfação do mesmo”, conclui.

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Para Eugênio José dos Santos, a distância entre os locais de abastecimento nas estradas é grande, mas tem percebido que estão construindo novos postos

Na opinião da empresária Joana Andrade Soares, da Transbahia Transportes Ltda, a qualidade do combustível nos postos ao longo das estradas é satisfatória, mas mesmo assim a empresa – que está no mercado há 33 anos transportando combustíveis e derivados de petróleo – tem tanque próprio na garagem das duas filiais, uma em Jequié e outra em Itaquara, ambas no Estado da Bahia. A matriz se localiza em Candeias/BA, mas conta com pontos de apoio nas cidades baianas de Luiz Eduardo Magalhães, Itabuna e Juazeiro. Em Pernambuco, a empresa também tem um ponto de apoio em Ipojuca.

Além de abastecer a frota na empresa, Joana tem parceria com postos de bandeiras Petrobahia e BR. “Garantir a qualidade do produto abastecendo na empresa, ganha-se tempo e a operação fica mais barata”, explica a empresária. A frota da Transbahia é formada por 74 veículos próprios, das marcas Scania, Iveco, Volkswagen, Ford e Mercedes-Benz, roda aproximadamente 550 mil km por mês e é dirigida pelos próprios empregados da transportadora. “A empresa conta com 81 motoristas capacitados, treinados e reciclados periodicamente”, acrescenta Joana. Na sua opinião, o número de postos de combustível nas estradas é suficiente, mas estão diminuindo por conta da insegurança do local onde estão instalados. “O ideal seria que nos postos de rodovias, tanto federais quanto estaduais, tivessem banheiros grátis, estacionamento, segurança e alimentação barata e de qualidade para os carreteiros”, afirma.

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O paraibano Nivaldo Pereira não viaja mais para as regiões Sul e Sudeste, porque considera o preço do diesel muito alto e do frete muito baixo

Conforme o empresário Rogério Souza, a quantidade de postos de combustível ao longo das estradas não é satisfatória. “A distância entre um posto e outro é muito grande, e muitos não mantém estrutura alguma. Temos percebido que está diminuindo o número de postos nas estradas, e os que estão funcionando não contam com uma boa infra-estrutura de atendimento”, afirma Rogério, sócio diretor da Bahia XPress Organizações Logísticas Ltda, que está no mercado há dois anos e já conta com duas filiais, uma em Fortaleza/CE e outra em Feira de Santana/BA, além da matriz em Simões Filho/BA.

Atuando no transporte de bebidas, alimentos e grãos, a empresa tem oito semi-reboques e um cavalo mecânico e 25 motoristas no quadro de funcionários. “Além de trabalharmos com agregados e autônomos, prestamos serviço especializado de mão-de-obra. Expedimos por mês uma média de 500 cargas para Salvador e outras cidades da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Esse volume é apenas com motoristas autônomos”, informa o empresário. Ele explica que o abastecimento de toda a frota é feito através de carta frete, onde a empresa negocia um valor melhor para o preço do diesel. “Nossa frota roda em média 128 mil km por mês, e os motoristas abastecem nos mesmos postos onde pernoitam”, conta Rogério, que também alega falta de infra-estrutura para o conforto do carreteiro.

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Manuel Bispo, que transporta produtos químicos na rota Bahia -São Paulo e vice-versa reclama da falta de postos de apoio aos carreteiros nas proximidades de Salvador

A empresária e diretora da Supply Logistics Ltda, Hiyo Jinny Lin, instalou um tanque de combustível na sede da empresa, em Salvador/BA, para abastecer sua frota de 53 caminhões (carga seca, graneleiro, tanque, baú, sider, porta container) da marca Volkswagen, modelos 18.310 e 19.320. “Empregamos 55 motoristas, e ter um tanque nas instalações da empresa gera um menor custo e facilidade operacional”, afirma. Além dos motoristas empregados, a Supply opera com 35 motoristas autônomos e transporta, há 6 anos, carga perigosa, seca, líquida, granel e refrigerada. “Por transportarmos carga refrigerada, sentimos muita falta nos postos de combustíveis nas estradas com pontos de eletricidade. Outra questão importante que deveria ser estudada é a existência de uma área segregada para cargas perigosas e refrigeradas”, conclui.

Para o pernambucano Eugênio José dos Santos, 49 anos e 18 anos de estrada, que atualmente roda apenas dentro do estado da Bahia transportando produtos alimentícios, a distância entre os postos de abastecimento é muito grande, mas tem percebido que a cada dia são construídos mais postos às margens das rodovias. “Tanto nas estradas federais quanto nas estaduais existem mais postos sendo construídos do que sendo desativados”, calcula. Para o carreteiro, o atendimento nos postos é satisfatório, pois além de abastecer seu veículo, é bem atendido pelos frentistas.

Eugênio geralmente dorme na cabine do caminhão, mas às vezes opta por pousadas localizadas nos postos. “Nos postos a gente pode dormir tranqüilo, há segurança”, disse. Ele prefere abastecer sempre nos postos de bandeira Petrobrás, pois acredita que a qualidade do combustível na rede seja boa. Por outro lado, diz que nunca comprou diesel falsificado, mas reclama do preço. “O valor à vista é um, a crédito é outro e pode variar de R$ 2,40 a R$ 2,69 por litro, dependendo da localização do posto. Imagine só quanta diferença faz no total, quando encho o tanque, cerca de 270 litros?”, indaga o carreteiro.

Vivendo na Bahia há 31 anos, o carreteiro paraibano Nivaldo Alves Pereira, de 52 anos de idade e 34 de volante não viaja mais para as regiões Sul e Sudeste do Brasil. Diz que “não dá mais para rodar para São Paulo, porque o diesel é alto e o frete muito baixo”, reclama Pereira. Na sua opinião, o litro do óleo diesel na bomba deveria custar R$1,00. “O valor do diesel é mais alto que o álcool. Nas redondezas da Refinaria Landulfo Alves, em Mataripe, o diesel custa R$ 2,25 o litro”, enquanto que em outras cidades o carreteiro encontra por R$ 1,92. Agora, Pereira prefere transportar para o Rio Grande do Norte, onde o frete é o mesmo do Sul do País, embora o combustível também seja caro por lá. “Mas, tem menos ladeira, o percurso é menor e a estrada é mais leve”, explica o carreteiro, que já comprou óleo adulterado no Ceará. De acordo com ele, foi um transtorno, “não andei 100 km e o meu caminhão começou a dar problemas”, lamentou.

Geralmente, Pereira abastece em postos com bandeiras Petrobrás, Shell e Ipiranga. “Mas, como na BR 116 tem muito posto sendo construído, e a maioria deles não têm bandeira, quando meu caminhão está sem óleo, tenho que abastecer em qualquer um. Hoje, são tantas marcas que a gente nem guarda os nomes”, comenta.

Um lugar bom para se construir um posto, informa o carreteiro, é entre a cidade de Euclides da Cunha e a divisa da Bahia e Pernambuco. “São 216 km entre Euclides e a fronteira, na BR-116. É uma estrada deserta, sem segurança e sem nenhum posto de abastecimento”, acrescenta.
Com a carta frete, o carreteiro baiano Manuel Bispo, que hoje tem 47 anos e dirige desde os 18 anos, abastece seu caminhão de acordo com a indicação da transportadora. “Praticamente só abasteço nos postos de bandeira BR, por ser de melhor qualidade. É o diesel mais caro, mas é o melhor e rende mais”, garante o carreteiro, que também abasteceu com óleo adulterado. “A quantidade de água que é colocada no diesel não é brincadeira”, explica.

Bispo transporta produtos químicos de Salvador para São Paulo e vice-versa e reclama da falta de postos de apoio ao carreteiro nas proximidades de Salvador, na BR-324. “Os postos não oferecem as mínimas condições necessárias para os motoristas. Existem alguns que tem apenas um banheiro em funcionamento e é imundo, sem condições de uso. É muito difícil para todos nós carreteiros”, conclui.