Por Alessandra Sales

Tradicionalmente, quando um novo ano se aproxima é comum as pessoas acreditarem que tudo será melhor do que antes. Mais que isso, que os problemas serão menores e as chances para o desenvolvimento pessoal e profissional irão contribuir para a realização de projetos e, no caso de muitos autônomos, a concretização do sonho de trocar de caminhão. Apesar de que mesmo com as condições oferecidas atualmente pelo programa de financiamento do Procaminhoneiro, para muitos esta ainda é uma realidade distante, enquanto outros, que não conseguem conciliar uma prestação mensal com o orçamento, preferem a compra à vista.

Crente de que a situação vai melhorar em 2010, Nilton José Soares mantém os pés no chão e quer evitar entrar em dívida com a compra de um novo caminhão
Crente de que a situação vai melhorar em 2010, Nilton José Soares mantém os pés no chão e quer evitar entrar em dívida com a compra de um novo caminhão

Quem defende essa opinião é o autônomo Nilton José Soares, 65 anos, da cidade de Canelinhas/SC, mesmo crente de que a situação irá melhorar no ano de 2010 em comparação a 2009. Ele deixa claro que não pensa em trocar seu caminhão, a menos que o compre à vista, até porque prefere evitar o financiamento, por acreditar que não passa simplesmente de uma oferta. Com mais de 40 anos de estrada, transportando embarcação para todo o Brasil, Soares diz que não pretende começar o ano com a responsabilidade de uma dívida em seu nome. Ele já teve quatro caminhões e atualmente tem apenas um, sinal de que as coisas não andam bem. “Vamos torcer para que em 2010 possamos falar apenas de resultados positivos no setor, porque a dificuldade maior é trocar o veículo velho por um novo”, finaliza.

Os problemas enfrentados com o caminhão durante 2009 fazem o autônomo Geraldo Tavares Alves sonhar com a troca por outro modelo menos rodado
Os problemas enfrentados com o caminhão durante 2009 fazem o autônomo Geraldo Tavares Alves sonhar com a troca por outro modelo menos rodado

Contrário aos argumentos de José Soares, há quem pretenda começar o ano ao volante de um caminhão novo. É o caso do autônomo Geraldo Tavares Alves, 65 anos, de São José da Laje/AL, que disse ter enfrentado muitos problemas mecânicos com seu caminhão, principalmente no motor e no câmbio, por isso pretende trocá-lo por um modelo mais novo. Experiente, com 44 anos de estrada, ele transporta carga geral e tem consciência de que aqueles que enfrentam um frete atrás do outro não podem ficar parados esperando o conserto do caminhão. “É melhor aguardar os negócios melhorarem em 2010 para comprar um novo veículo, e se Deus quiser será em breve”, confia.

Por conta de uma possível melhora no frete, que seria boa para toda a categoria, Amauri Lopes acredita que poderá trocar o atual caminhão
Por conta de uma possível melhora no frete, que seria boa para toda a categoria, Amauri Lopes acredita que poderá trocar o atual caminhão

Geraldo Tavares destaca também a importância de aumentar a segurança nas estradas que, em sua opinião, encontra-se muito defasada. “Em 2007 fui assaltado e levaram meu caminhão. Tive a sorte de encontrá-lo, mas a carga não foi recuperada”, lembra. Outro carreteiro que também vive a expectativa de trocar o cargueiro, mesmo tendo de pagar prestações de financiamento por alguns anos, é o motorista autônomo de Londrina, Amauri Lopes, de 49 anos de idade. Seus planos são para depois que terminar de pagar o caminhão que comprou recentemente parcelado em dois anos. “Quem sabe depois de terminar de pagar eu consiga trocá-lo novamente”, brinca. De acordo com ele, o ano de 2010 deverá ser bom para a categoria, com melhoria nos fretes, fator determinante que faltou em 2009 para aumentar a lucratividade do carreteiro.

Umberto Silva defende que para a situação ficar boa para todos a segurança nas rodovias também tem de melhorar, para que o carreteiro possa viajar mais tranquilo
Umberto Silva defende que para a situação ficar boa para todos a segurança nas rodovias também tem de melhorar, para que o carreteiro possa viajar mais tranquilo

Transportador de mudanças, Lopes explica que a situação tem sido difícil para todo mundo. “Não dependo do caminhão para sobreviver, até porque se fosse o caso morreria de fome”, assume. “Para ele, as pessoas precisam deixar de falar o que não é real, porque a realidade da estrada é outra”, contesta, afirmando que, infelizmente, a classe, ainda é muito desunida e que muitos só querem aparecer na mídia.

O mineiro de Itapagipe, Carlos Umberto da Silva, 36 anos, também enfrentou dificuldades durante o ano de 2009 e mesmo assim espera novas oportunidades profissionais no ano de 2010 e, como os outros, também pensa em trocar seu caminhão. Acostumado a transportar produtos eletrônicos na rota Belém do Pará – São Paulo, também reclama de desunião da categoria e da falta de segurança nas estradas. “Não adianta gerar uma expectativa para compra de um novo caminhão se não temos a confiança de concluir uma viagem segura, devido a tantos assaltos costumeiros que ocorrem nas rodovias”, destaca.

Éderson de Souza lembra que a situação ficou melhor no final de 2009, mas alerta que nesta época sempre há um resultado positivo, por conta das festividades de final de ano
Éderson de Souza lembra que a situação ficou melhor no final de 2009, mas alerta que nesta época sempre há um resultado positivo, por conta das festividades de final de ano

Outro carreteiro de Itapagipe/MG, com mais de dez anos de estrada, é Éderson Alves de Souza, 35 anos, que também atua no transporte de produtos eletrônicos e relata que 2009 foi complicado em razão da crise que começou em meados de outubro de 2008. Admite que no final deste ano houve uma melhora considerável, por conta das festividades do Natal e Ano Novo, embora saiba que esse resultado é comum neste período de festas. Éderson vê boas perspectivas para a profissão em 2010 e acredita que os resultados positivos podem justificar o crescimento de aquisições de caminhões. “Agora é esperar que 2010 seja um ano satisfatório para todos e, quem sabe, o motorista possa pensar em investir mais na compra do caminhão novo”, finaliza.