Por Evilazio Oliveira

O transporte rodoviário de produtos perigosos no Brasil tem uma legislação própria, inclusive com exigências rigorosas para os locais de estacionamento, obrigados a uma série de medidas de segurança. Apesar da importância estratégica desse tipo de transporte e dos riscos que determinadas cargas apresentam, não existe um controle efetivo sobre essa atividade. Falta estrutura adequada para os pontos de estacionamento principalmente de pernoite nas rodovias e, também, de eventuais caminhões que trafeguem sem as necessárias condições de segurança. E nem mesmo existem informações sobre o número de caminhões que trafegam no Brasil transportando produtos perigosos. A ABTLP (Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos) tem cerca de 20 mil associados, o que não reflete a realidade do País, pois, obviamente, muitos transportadores não são associados.

Para o diretor comercial da Roglio Logística, de Canoas/RS, David Vaz, 39 anos e 20 no setor de transportes de produtos perigosos, a maioria das empresas são sérias e atuam dentro da lei, mantendo veículos em boas condições de segurança e motoristas com boa capacitação profissional. Aponta, no entanto, falhas na infraestrutura das estradas, sobretudo em relação aos locais de paradas que não obedecem as determinações legais.

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Para David Vaz, a concorrência eleva o padrão de qualidade da empresa, mas os locais de paradas não obedecem as determinações legais

No caso da Roglio, empresa que há 44 anos atua no transporte de produtos líquidos e com 60 caminhões próprios e 30 agregados, são estabelecidos locais pré-vistoriados e aprovados
para o pernoite dos veículos. Fazendo a rota Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Bahia, os seus motoristas praticamente sabem onde vão parar para abastecer, fazer as refeições ou pernoitar. Podem rodar até às 22h, com uma pequena margem de segurança. Depois disso, o veículo será bloqueado por uma central de segurança. A frota tem idade média de sete anos e a equipe de motoristas, “selecionada a dedo” tem baixa rotatividade. Para isso a empresa oferece uma série de benefícios, extensivo aos familiares, com a intenção de tornar o ambiente de trabalho e o convívio com os colegas o mais agradável possível. Na empresa também são realizados cursos periódicos de reciclagem. De acordo com David Vaz, a empresa tem um rigoroso padrão de qualidade. “Afinal, precisamos competir com uma concorrência muito qualificada”, diz.

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Para não ter o caminhão bloqueado caso não encontre local de parada, Alceu Behenck normalmente estaciona antes do horário previsto

Na opinião do tanqueiro Alceu da Rosa Behenck, 45 anos, 21 de profissão, e há 12 anos no transporte de cargas perigosas, uma das principais vantagens dessa atividade é não ter ninguém empurrando em relação ao horário. “Rodamos a 80 km/h e até às 22h e depois só às 5h da manhã”. Natural de Sapucaia do Sul/RS e motorista de um bitrem da Bessega & Marson Ltda., de Canoas/RS, ele carrega no Polo Petroquímico de Triunfo/RS e transporta para São Paulo e vários outros Estados do País. Lembra, no entanto, que normalmente estaciona o caminhão antes do horário previsto para não ser “bloqueado”, caso aconteça de não encontrar um posto ou lugar seguro para passar a noite.

“Pode acontecer do dono do posto só permitir o pernoite no caso de abastecer, o que nem sempre é necessário. Então se corre o risco do veículo ser bloqueado ainda na estrada, o que seria um problema”, ressalta. Com relação ao caminhão, garante que tudo precisa estar “na mais perfeita ordem”. Ao sair da empresa faz uma vistoria geral, inclusive na documentação, pois antes de carregar é preciso se submeter a um check-list rigoroso e a mínima irregularidade impede a entra do veículo no pátio da empresa embarcadora.

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Ficar parado em postos por vários dias aguardando carga é a principal reclamação de Luiz Volnei, que diz estar com o caminhão sempre em dia

Acerca desse assunto, Luiz Volnei dos Santos, 43 anos, 23 de estrada e cinco como tanqueiro – lembra que além de ficar atento às condições do caminhão, com tudo funcionando e de acordo com a lei, é preciso fazer cursos semestrais de reciclagem de itens básicos de segurança. E, também, zelar pelo patrimônio da empresa, principalmente quando ficam vários dias em estacionamentos de postos de combustíveis a espera de cargas, fato frequente. Essa é a principal reclamação de Volnei. Quanto às dificuldades para encontrar lugar para estacionar, já está acostumado e sabe que não existem locais adequados em nenhuma rodovia. E quanto às blitze da Polícia Rodoviária, também não se incomoda, pois sempre está com caminhão e documentação em dia. “Essa é uma das vantagens de trabalhar em empresa grande e bem organizada”, destaca.

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É impossível estacionar e ficar afastado dos demais caminhões devido à carga perigosa. Não existem locais adequado, lembra Jonas Mironiuk

O vice-presidente do Sindicam (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens de Uruguaiana), José Aldo Regazzon, é dono de quatro caminhões, que na maioria das viagens entre Buenos Aires/AR e Uruguaiana, ou Porto Alegre, transportam produtos químicos. Lembra que no trecho da BR-290, em São Gabriel e Rosário do Sul, locais estratégicos de paradas, os postos não permitem o estacionamento de caminhões com cargas perigosas. Certa ocasião estacionou o caminhão numa área do pedágio de Charqueadas/RS, na BR-290, e quando se preparava para dormir um policial rodoviário bateu à janela avisando que ele não poderia pernoitar naquele local. Atônito, ficou sem saber o que fazer, a não ser tocar viagem.

O motorista Jonas Rodrigues Mironiuk, natural de Alegrete/RS, tem 56 anos, 30 de direção e 28 trabalhando com cargas químicas. Já trabalhou por dois anos como motorista de ônibus e na sua opinião, o principal problema para esse tipo de transporte é a falta de locais adequados para estacionar durante a noite. “A maioria dos donos de postos só permite a entrada nos pátios para quem é cliente. E, mesmo assim, é difícil achar um local isolado dos demais caminhões”, diz. Mironiuk acrescenta que muitas vezes estaciona num local isolado para dormir e na manhã seguinte está rodeado de caminhões que chegaram durante a noite. Ele destaca que é impossível ficar afastado dos demais em razão da carga perigosa e lembra que não existem locais adequados para estacionar, e que depende do motorista ter sorte de encontrar um ponto que, ao menos, dê um pouco mais de segurança para todos.

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Os estacionamentos estão sempre cheios em razão do grande número de caminhões que existe nas rodovias, destaca Leonardo Ferreira dos Santos

Em relação às estradas, Mironiuk comenta que as rodovias existentes atualmente não suportam mais o volume de veículos em circulação. São antigas, com traçados feitos para uma época e um determinado volume de carros e caminhões, mas hoje em dia estão totalmente ultrapassadas, sem sinalização e sem segurança, fazendo com que os profissionais – principalmente os tanqueiros – dirijam com atenção redobrada. Ele também não reclama dos patrulheiros rodoviários nas eventuais paradas para fiscalização de documentos e do caminhão. Garante que tudo está sempre em ordem, “caso contrário, as empresas não permitem a entrada no pátio nem mesmo para carregar”.

Para o estradeiro Leonardo Ferreira dos Santos, 31 anos, 10 de profissão e há dois meses no transporte de produtos químicos, o inconveniente da atividade é ficar nos postos de combustíveis à espera de cargas, quando além de não ganhar a comissão por viagem ainda tem despesas extras com alimentação e até pelo uso do banheiro. Como os demais colegas, ele procura estacionar em local afastado, mas nem sempre é fácil. “Os estacionamentos estão sempre cheios em razão do grande número de caminhões que estão rodando nas estradas, e como não há áreas específicas para cargas perigosas, a situação é difícil”, ressalta. Mesmo assim, diz que nunca teve problemas com a Polícia Rodoviária em questões de estacionamento, documentação ou vistoria do caminhão.

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André Bernart vê vantagem em não viajar à noite, mas enfrenta o problema da falta de estacionamentos para caminhões que transportam cargas perigosas

Em relação às estradas, Mironiuk comenta que as rodovias existentes atualmente não suportam mais o volume de veículos em circulação. São antigas, com traçados feitos para uma época e um determinado volume de carros e caminhões, mas hoje em dia estão totalmente ultrapassadas, sem sinalização e sem segurança, fazendo com que os profissionais – principalmente os tanqueiros – dirijam com atenção redobrada. Ele também não reclama dos patrulheiros rodoviários nas eventuais paradas para fiscalização de documentos e do caminhão. Garante que tudo está sempre em ordem, “caso contrário, as empresas não permitem a entrada no pátio nem mesmo para carregar”.

Para o estradeiro Leonardo Ferreira dos Santos, 31 anos, 10 de profissão e há dois meses no transporte de produtos químicos, o inconveniente da atividade é ficar nos postos de combustíveis à espera de cargas, quando além de não ganhar a comissão por viagem ainda tem despesas extras com alimentação e até pelo uso do banheiro. Como os demais colegas, ele procura estacionar em local afastado, mas nem sempre é fácil. “Os estacionamentos estão sempre cheios em razão do grande número de caminhões que estão rodando nas estradas, e como não há áreas específicas para cargas perigosas, a situação é difícil”, ressalta. Mesmo assim, diz que nunca teve problemas com a Polícia Rodoviária em questões de estacionamento, documentação ou vistoria do caminhão.

O paranaense de Cascavel, André Bernart, 52 anos de idade e 23 de boleia e há três no transporte de cargas químicas, afirma que os cursos que fez para esse tipo de trabalho acrescentaram muito na sua experiência profissional. Reconhece que aprendeu muito e continua aprendendo com as reciclagens periódicas que faz na empresa. Afinal, o controle nas petroquímicas é muito grande e é preciso estar sempre muito atento aos equipamentos obrigatórios no caminhão, nos documentos e até na maneira de dirigir.

Garante que nas poucas vezes em que foi parado pela Polícia Rodoviária não teve problemas, porque caminhão e documentos estão sempre em ordem. “E os policiais rodoviários sabem disso, sabem que empresa grande é organizada”, diz. Também reforça a vantagem de trafegar sem carga horária, obedecendo a velocidade limite de 80 km/h e não viajar durante à noite. Como seus colegas, lembra que o problema de sempre é a dificuldade para encontrar locais adequados para o pernoite. Lembra que quando viaja para lugares conhecidos dá para se programar, porém muitas vezes é uma dificuldade achar um lugar seguro para passar a noite. “E, mesmo assim, por medida de segurança ainda precisamos parar a uma distância razoável de outros veículos, mas não existem pontos específicos para o estacionamento de caminhões com cargas perigosas em nenhuma estrada do Brasil. É, a difícil vida de motorista de caminhão”, desabafa.