Por João Geraldo

Uma estimativa aponta que nos Estados Unidos existem 3,5 milhões de caminhões pesados e extrapesados e se somados com os modelos menores a frota ultrapassa os 26,5 milhões de unidades. Os números indicam também que 77% das comunidades do país dependem de entregas feitas por caminhões, percentual que define a importância do setor do transporte para a população norte-americana.

Com tantos caminhões transportando mercadorias, o problema maior do setor é a falta de motoristas, pois o atual contingente de 3,4 milhões ( 3,1 milhões de empresas e outros 300 mil autônomos) tem sido insuficiente para atender a demanda do mercado. A informação foi dada por um executivo da ATA – American Trucking Associations (entidade que representa 37 mil transportadoras e 50 associadas estaduais de transportadoras), durante sua visita em São Paulo para participar do Fórum Volvo de Segurança no Trânsito, ocasião que apresentaram as ações da entidade para ajudar a reduzir os acidentes de trânsito nos EUA envolvendo caminhões.

De acordo com Ray Kuntz, presidente do conselho de administração da ATA, tem havido melhora na atitude da segurança no País, mas faltam motoristas qualificados. Em levantamento feito pela empresa em 2004 havia um déficit de 20 mil profissionais em todo o país e caso a situação não seja revertida, em 2014 faltarão 110 mil carreteiros qualificados.
Dono de transportadora, Ray diz que sua empresa tem uma escola para treinar motoristas, cujo investimento anual beira os dois milhões de dólares, para treinar 200 profissionais. Disse que sua empresa investe também em outros quase dois milhões em segurança, mas que tem retorno do investimento. “Motorista nos Estados Unidos só precisa saber ler e falar inglês (requisito federal), mas na minha escola aprendem até como subir e descer estradas em montanhas com neve. Isso num período de quatro a cinco semanas de curso”, explica.

Mesmo após o curso o motorista não está ainda preparado para a estrada e por isso existe um treinamento secundário, no qual o profissional recebe um reforço com 50 horas na sala de aula e outras 100 horas práticas. “Existe uma preocupação sobre quem vamos botar na cabine do caminhão, por isso temos este processo e acabamos por contratar apenas cerca de 8% dos motoristas treinados”, diz Ray.

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Na sua opinião, segurança é atitude e uma das coisas mais importantes no seu negócio é ter o profissional certo no caminhão, tanto de saúde física, quanto psicológica. Ele cita que mesmo após o motorista ter sido aprovado é preciso acompanhar seu comportamento e isso já levou a casos de dispensas de profissionais que tinham sido treinados.

“São falhas no comportamento, sendo a principal delas a direção agressiva, seguida pela ocorrência de pequenos acidentes. Outro ponto é que as empresas costumam fazer revisão de segurança também do motorista, o qual, independente da idade, pode dirigir até ser capaz. Quando ficam com mais idade normalmente são eliminados pelos testes físicos. Ray diz que em relação à idade, o índice de acidentes é alto com os profissionais de idades até 21 anos. Dos 21 aos 65 há uma queda e após esta idade o índice sobe. Lembra ainda que nos EUA é permitido dirigir com 16 anos de idade.

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Na sua empresa os motoristas podem dirigir apenas 11 horas e nos EUA as horas de volante são muito claras, porque o carreteiro têm de registrar tudo num diário de bordo, embora haja uma tendência de o registro passar a ser eletrônico. Ele alerta que existe fiscalização para essa questão de horas dirigidas e que a multa para o motorista é de mil dólares, no caso de irregularidade.

O salário médio de um motoristas nos EUA é de 40 a 45 mil dólares por ano. Os mais experientes chegam a receber mais de 50 mil/ano.
Ray lembra que a maior parte dos donos de transportadora paga taxas para o autônomo quando o caminhão dele está quebrado. Isso é uma condição do mercado, porque senão ninguém quer trabalhar para as empresas, explicou. Na sua transportadora existe treinamento também para autônomos, mas não é para todos.

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Outro dado citado por ele é que do total de carreteiros em atividade hoje nos EUA, cerca de 5% são do sexo feminino e que ele tem mais de 40 casais, cujos filhos já estão casados. ” A mulher dirige tão bem quanto o homem”, acrescentou. Mas os casais com filhos também estão sendo convidados a sair de suas casas e a conhecer o País na cabine de um caminhão.

Aliás, o crescimento da caixa de câmbio automatizada para caminhões da classe 8 (extrapesados) naquele país se deve à adesão das mulheres ao segmento, aos motoristas que entram no mercado sem a experiência tida como ideal e também à economia de combustível que o equipamento proporciona. Diante das exigências dos transportadores e dos caminhões com as novas tecnologias, já há falta de carreteiros também no Brasil.

Boa parte dos Estados norte-americanos mantêm exigências em relação aos motoristas de caminhão como testes de vista, habilidade e outros, porém, na parte de saúde a vigilância é constante. A preocupação em treinar motoristas se deve ao fato do alto custo dos acidentes envolvendo caminhões, porém não existe nada estabelecido pelo governo em termos de treinamento para motoristas após ele tirar sua licença para dirigir.

David Osiecki, vice-presidente de operações e segurança pessoal e patrimonial da ATA, lembra que os prejuízos estimados em um acidente com fatalidade custam acima de três milhões de dólares, daí uma das preocupações com o treinamento do motorista. “Para a maioria das transportadoras, um único acidente pode representar o fim do negócio”, declarou. Atualmente existem nos EUA mais de 600 mil transportadores registrados, sendo que 97% deles operam com frota inferior a 20 caminhões.