Por Daniela Giopato

Com 401,6 km de extensão – e considerada um dos importantes eixos de ligação entre as capitais dos Estados de São Paulo e Paraná – a Régis Bittencourt passa a ser administrada pela OHL Brasil a partir de fevereiro de 2008. A empresa, que dos sete lotes leiloados ficou com cinco, por ter oferecido os preços mais baixos de pedágio, será a responsável pela manutenção e conservação do trecho.

Até agora, a estrada estava sob cuidados do Dnit – Departamento de Infra-estrutura no Transporte, que apesar de algumas obras de melhorias, como a duplicação em quase toda a extensão, não conseguiu reduzir o índice de acidentes na estrada.

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Os piores trechos da Regis Bittencourt, na opinião do carreteiro Paulo Miguel, estão nas Serras ”do 90” e “do Azeite”

Dados da Polícia Rodoviária Federal mostram que entre janeiro e dezembro de 2006 o número de ocorrências entre o km 268,9 e 568,9 (divisa com Paraná) foi de 3.069, uma média de 255 por mês. Entre janeiro e outubro de 2007 esse número chegou a 2.903, uma média de 290/mês. Nos dois últimos anos, a maioria dos acidentes na Régis Bittencourt foram provocados por batidas contra objetos fixos, colisões laterais, traseira, saídas da pista e tombamentos. E, os caminhões e carretas encabeçam a lista com mais de 3.500 acidentes no período.

Para a OHL Brasil, empresa com experiência em administração de rodovias por meio das concessionárias já em operação, como Autovias, Centrovias, Intervias e Vianorte, um programa de redução de acidentes que contempla aspectos de engenharia, além de programas educativos e de sensibilização, vai facilitar sua atuação no sentido de reduzir o número de ocorrências.

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Com a concessão, Anderson Luiz acredita que os usuários poderão contar com atendimento, estrutura e segurança na estrada

Os motoristas de caminhão, principais usuários da Regis Bittencourt, também acreditam que os acidentes irão diminuir com a concessão. Além disso, aguardam ansiosos pelas obras de melhorias e benefícios que, segundo eles, irão resultar em uma viagem mais tranquila, segura e até mais lucrativa, já que o custo com a manutenção também será reduzido. Usuário assíduo da Régis, por fazer a rota São Paulo – Buenos Aires, o carreteiro Paulo Miguel, 31 anos, oito de profissão, de Erechim/RS, diz que a rodovia está quebrada e cheia de buracos em quase toda a sua extensão. O pior trecho, opina, é o da Serra “do 90” (como popularmente é conhecida a Serra do Cafezal). “Sempre que passo pelo local tenho um custo com pneu, suspensão entre outros itens”, reclama. Para ele, se tapassem os buracos já ajudaria a amenizar o problema, mesmo não sendo esta a melhor solução.

Por isso Paulo Miguel acredita que a concessão vai beneficiar a todos que utilizam a rodovia que, segundo ele também se encontra mal sinalizada e abandonada. “Claro que junto com benefícios virão os pedágios, mas não sou contra, só não pode ser muito caro. Os motoristas já têm despesas demais no orçamento”.

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Para Gilmar José, duplicação da “Serra do 90” e manutenção de toda a Régis Bittencourt são as providências mais urgentes

Anderson Luiz Kern, 23 anos e quatro de profissão, de Lajeado/RS, transporta embalagens metálicas para o Nordeste, e diz que a situação da estrada entre São Paulo e Curitiba está cada vez pior. Na opinião dele, os trechos da “Serra do Azeite” e “do 90”, nos dois sentidos, são os mais perigosos e exigem redução de velocidade, para não danificar o caminhão e a carga. “Se acontece alguma coisa num desses dois pontos, o motorista não tem muita assistência. Contamos apenas com os guincheiros que ficam nas proximidades e cobram uma fortuna para rebocar o veículo”, relata.

Acredita que a concessão irá trazer vantagens para os usuários e valerá a pena pagar pedágio. “A diferença é grande quando chegamos em São Paulo e trafegamos por rodovias sob responsabilidade de concessionárias. Temos atendimento, infra-estrutura, segurança e estradas sem buracos. Consequentemente, trafegamos em velocidade normal, entregamos a carga no tempo certo e não gastamos muito com manutenção”, comenta.

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Cleber Augusto acredita que a concessão seja mesmo a única solução para resolver todos os problemas da Régis[
Para Gilmar José Schwvein Berger, 45 anos e 17 de profissão, também na rota internacional, uma das providências mais urgentes é a duplicação da “Serra do 90”. Ele também sugere uma manutenção em toda a extensão da rodovia, inclusive um recapeamento urgente, porque apesar da estrada ter sido duplicada, em pouco tempo de uso os buracos voltaram a aparecer. “De que adianta melhorias se não houver uma fiscalização eficiente. O asfalto não suporta o peso dos caminhões e cadê as balanças? Na Argentina as estradas são um tapete justamente porque o governo não permite o tráfego de veículos com peso acima do que o asfalto suporta”.

Gilmar lembra que a má conservação traz maior custo de manutenção ao final de cada viagem, além de atrasos nas entregas e consequentemente lucro menor. “O trecho da cidade de Registro/SP, por exemplo, eu sempre fiz em seis horas e hoje levo no mínimo nove”. Outro ponto abordado pelo carreteiro é a falta de segurança e de estrutura na rodovia. Em resumo, Gilmar se diz a favor da concessão, assim como já acontece na maioria das estradas de São Paulo. “É muito grande a diferença que sinto quando chego em São Paulo, as estradas são melhores, tem telefone a cada quilômetro, equipe de resgate e etc. Me sinto seguro, por isso não ligo de pagar pedágio, desde que o valor acompanhe o frete”.

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A redução do número de acidentes e de vítimas, após a concessão da rodovia é a esperança de Ricardo Damaceno

Péssima conservação, buracos e falta de sinalização. É assim que o gaúcho de Uruguaiana/RS Cleber Augusto de Lima Pereira, 15 anos de profissão e 35 de idade, define a rodovia Régis Bittencourt. Ele alerta que alguns trechos como a “Serra do Azeite” tem muito buraco, apesar de estar duplicado. “Quando sofremos um acidente não temos opção a não ser contratar os serviços de um dos guincheiros que cobram caro e não dão nota fiscal. E como explicar na empresa?” Em uma de suas viagens, Cleber conta que a embreagem quebrou e que utilizou os serviços dos guincheiros, mas pediu reembolso na empresa e a primeira pergunta foi sobre a nota fiscal.

A falta de policiamento e de sinalização é outra questão que incomoda Cleber. Ele cita que em alguns locais não dá para enxergar nada durante a noite, e é nesse momento que acontecem os acidentes e assaltos. “É rara a viagem em que não vejo ou fico sabendo de alguma ocorrência, mesmo que seja apenas de um pneu furado. É ai é que mora o perigo, pois não temos assistência e é raro um colega que pára e ajuda pois todos têm medo de serem roubados”.

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Uma estrada bem sinalizada e sem buracos ajuda a aumentar a segurança nos dias de chuva, lembra Edegar Barbosa

Já que o governo não mantém a estrada em boas condições, a concessão é a única saída que Cleber vê para resolver todos os problemas da Régis Bittencourt. “Espero que fique pelo menos parecida com as estradas de São Paulo, com mais infra-estrutura, ponto de apoio, segurança e sem os guincheiros, que por serem os únicos, acabam explorando quem deles precisa”.

Assim como a maioria de seus colegas, Ricardo Damaceno, de Capão da Canoa/RS, elegeu as “Serra do 90” e “do Azeite” como os piores trechos da Regis Bittencourt. “Os problemas são os buracos, a falta de sinalização e de canaletas para escorrer a água, na “Serra do Azeite” e pista dupla na “Serra do 90”. “Tudo isso ocasiona acidentes, a quebra de algum componente do caminhão e até mesmo a perda da carga”, adverte. Ele tem opinião de que a concessão veio em boa hora para melhorar as condições de tráfego na Régis. “Tenho esperança de que o número de vítimas de acidentes nessa rodovia vai diminuir”, torce.

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Satisfeito com a notícia da concessão, Vitor espera que as obras de melhoria na rodovia Régis Bittencourt comecem logo

Apontar um único problema na Régis é impossível, afirma o veterano Edegar Barbosa, de Ijui/RS. Para ele, trafegar a uma velocidade de 10km por hora em alguns trechos como na “Serra do 90” ou “do Azeite” é inaceitável, pois além do atraso na viagem existe ainda o perigo de ser assaltado. “Utilizo essa rodovia no máximo até às 23h. Não há nenhuma sinalização ou iluminação e é muito fácil cair em um buraco ou até mesmo ser roubado”.

Edegar se mostra ansioso e esperançoso com a concessão da Regis Bittencourt. Acredita que essa poderá ser uma das poucas formas de poder trafegar com segurança. A primeira providência seria acabar com os buracos e melhorar a sinalização, pois, segundo ele em dias de chuva ou durante a noite não há condições de tráfego.

Vitor Fisher Filho, de Santa Rosa, por sua vez, tem a opinião de que o mais urgente seria a duplicação da “Serra do 90”. “Nos finais de semana é quase impossível de andar, pois a fila de veículos é absurda. E são nessas ocasiões que acontecem os acidentes, em conseqüência das ultrapassagens”, opina. Já em relação à “Serra do Azeite”, Vitor Fisher reclama que a obra para escoamento da água foi mal feito. “O caminhão trepida muito, e em muitos casos resulta em perda de parte da carga e prejuízo para todos que participam do processo. Sem contar no estresse e incômodo para o motorista”.

Satisfeito com a noticia da concessão da rodovia, Vitor espera que a empresa dê logo início às obras de melhorias. Quanto ao pedágio, ele nem se importa em pagar, desde que o serviço oferecido compense e que o valor cobrado caiba no bolso dos carreteiros. “Tenho certeza de que teremos mais segurança e poderemos viajar bem mais rápido”, conclui. Em relação ao pedágio, a OHL Brasil explica que a cobrança será realizada somente após o término dos trabalhos iniciais de recuperação do pavimento, da sinalização, limpeza e roçada, de forma que a estrada ofereça melhores condições de segurança aos usuários. A empresa informa que o início do processo de pesagem de caminhões, a implantação de serviço de atendimento e cobrança de pedágio serão amplamente divulgados para os usuários da rodovia.

Entre as melhorias programadas, a OHL Brasil adianta a instalação de telefones de emergência e a prestação de serviços de atendimento mecânico (resgate/guincho), além de atendimento pré-hospitalar (primeiros socorros e remoção).