Por Thiago Gois

O Porto de Santos – o maior da América Latina – tem sido alvo de reclamações de carreteiros de todas as partes do País e que trafegam por suas vias e descarregam mercadorias nos terminais. Demora e falta de estrutura nos locais de entrega fazem carreteiros perderem tempo, dinheiro e passarem por situações constrangedoras.

- Todas as semanas, Cláudio Oliveira enfrenta a rotina das filas para descarregar nos terminais do Porto de Santos
– Todas as semanas, Cláudio Oliveira enfrenta a rotina das filas para descarregar nos terminais do Porto de Santos

Um dos motoristas que semanalmente enfrenta essa rotina é o paulista Cláudio Oliveira, 42 anos e que, apesar de morar em Praia Grande/SP, próximo ao Porto, afirma que, às vezes, após permanecer uma semana fora de casa quando chega com a carga ao Porto ainda tem um longo tempo de espera para descarregar. “Fico longe de casa, com saudade da família, e ainda tenho de esperar mais de 24 horas para descarregar”, reclama. O pior, declara Oliveira, é que os terminais exigem agendamento para que os horários sejam cumpridos, mas chega a ser irônico, porque eles ignoram o prazo. “É lamentável”, desabafa.

- Falta de segurança na região portuária provoca assaltos e furtos de peças dos caminhões, acrescenta Milton Ribeiro
– Falta de segurança na região portuária provoca assaltos e furtos de peças dos caminhões, acrescenta Milton Ribeiro

Milton Ribeiro, 29, de Montes Claros/MG, está apenas seis meses na estrada e reclama da falta de policiamento e dos perigos da profissão. Ele diz que todos sabem o quanto é complicado ser carreteiro no Brasil. “Nesse pequeno período que estou descarregando no porto santista já vi gente ser assaltada e peças de caminhões serem roubadas, e por outro lado não há policiamento. Enquanto esperamos para descarregar, ficamos expostos a tudo”, alerta.

- A falta de cumprimento dos horários agendados para descarga atrapalha os carreteiros, diz Francisco Carlos
– A falta de cumprimento dos horários agendados para descarga atrapalha os carreteiros, diz Francisco Carlos

Uma das principais queixas dos motoristas, além da demora, é a falta de respeito com os trabalhadores. “Quando precisamos usar o banheiro é um problema, porque não existe. Se os horários fossem seguidos rigorosamente, poderíamos ir para algum local para tomarmos um banho e fazer o que for necessário, mas é bem provável que ao sairmos da fila, perdemos nossa vez”, reclama Francisco Carlos, 34 anos de idade e 11 como motorista de caminhão.

- O pai de Enivaldo Correia, que ele encontrou na fila, deveria descarregar às 10hs, porém esperou até após às 16hs
– O pai de Enivaldo Correia, que ele encontrou na fila, deveria descarregar às 10hs, porém esperou até após às 16hs

Diante das dificuldades, pai e filho sofrem juntos. “Cheguei aqui para descarregar às 10h da manhã e encontrei meu pai, que já estava aqui desde às 2h da madrugada. O horário previsto para ele descarregar era às 6h da manhã. Já são 4h da tarde e a fila nem andou”, reclamou Enivaldo Cordeiro, junto ao seu pai Everaldo.

- Thiago de Souza lembra que por não poder sair da fila, a fome é outro problema enfrentado no local
– Thiago de Souza lembra que por não poder sair da fila, a fome é outro problema enfrentado no local

Com tanto tempo de espera, a fome é outro problema com o qual os carreteiros têm de se virarem. Na ocasião, o baiano Thiago de Souza, de Ribeira do Pombal, encontrava-se na fila há mais de 8 horas. “Comprei um refrigerante e marmitex antes de entrar na fila, já está frio, mas vou comer. O que não mata engorda”, amenizou.

Procurados para falar sobre o assunto, os responsáveis pelos terminais têm seus argumentos. Um deles é que os horários não conseguem ser cumpridos pela demora no descarregamento e na averiguação das cargas dos caminhões, porque tudo tem de ser devidamente fiscalizado, operação que leva muito tempo. Além disso, citam que os carreteiros também são responsáveis pela demora, porque muitas vezes o material vem danificado e sem a documentação necessária, atrasando ainda mais o processo, diz um encarregado do Terminal Rodrimar, que preferiu não se identificar.

MULTAS NA FILA

Outro problema sério que os carreteiros sofrem na fila de espera para descarregar no Porto de Santos são as multas. Durante todo o percurso, várias placas de proibido estacionar estão ao lado das marginais. No entanto, os caminhões que obrigatoriamente ficam aguardando a vez para descarregar passam um bom tempo parados na fila e acabam sendo multados. A guarda portuária, responsável pela fiscalização, é bastante rígida, mas garante ser flexível em relação às multas. “Antes de multar avisamos os trabalhadores e mostramos o motivo da abordagem. Ele só é autuado se persistir na infração. Quando as filas são grandes, devido atrasos nos terminais, nosso objetivo é organizar para que tudo fique em ordem”, relata Júnior Amorim, que há sete anos faz vigília no Porto. Mas para o carreteiro Cláudio Oliveira, não é assim que funciona. “Eles são rígidos e faltam com o respeito. Quando não podemos ficar na fila temos que ficar dando voltas sem um destino, apenas gastando diesel. Caso contrário, multa”, rebate.