Por Daniela Giopato

Para a maioria das pessoas, final de ano é sinônimo de férias, festas e descanso ao lado da família. Para os motoristas de caminhão, essa época do ano significa mais estresse e desgaste físico. O motivo é óbvio, pois entre os meses de dezembro e janeiro aumenta o fluxo de veículos de passeio nas rodovias e, consequentemente, de condutores com pouca experiência em dirigir nas estradas e, quase sempre, sem conhecimento das limitações e do comportamento de um veículo pesado. Nessas condições, os carreteiros se veem obrigados a redobrar a atenção, conduzir com mais cautela e manter a calma diante de situações provocativas e até mesmo que comprometem a segurança dos usuários.

Muitos acidentes acontecem por falta de paciência tanto do motorista de caminhão quando do de carro de passeio, opina Carmerindo da Silva
Muitos acidentes acontecem por falta de paciência tanto do motorista de caminhão quando do de carro de passeio, opina Carmerindo da Silva

É o caso de Carmerindo da Silva, 50 anos, 30 de profissão, de Blumenau/SC, que transporta produtos eletrônicos por todo o País. Ele conta que além dos meses de dezembro e janeiro serem fracos para cargas, é um período de férias para grande parte das pessoas e o trânsito fica mais intenso, o que dificulta ainda mais o trabalho. “O problema está principalmente no relacionamento entre o motorista de carro de passeio e o de caminhão. Muitos acidentes acabam acontecendo justamente pela falta de paciência entre os dois condutores. Um não entende a limitação do outro e acaba fazendo manobras arriscadas e que podem colocar em risco a vida de outros usuários”, afirma. Como é empregado, ele aproveita esse período de estresse e de pouco movimento para um descanso ao lado da família. “Chega a ser mais econômico e até seguro parar por alguns dias, pois dirigir nesta época do ano aumenta o consumo de combustível”, explica.

As estradas ficam lotadas de carros e de motoristas que ligam a seta e vão entrando sem se preocupar com quem está atrás ou do lado, diz Pedro Garves
As estradas ficam lotadas de carros e de motoristas que ligam a seta e vão entrando sem se preocupar com quem está atrás ou do lado, diz Pedro Garves

Outro carreteiro que também aproveita o período para fugir das estradas é Pedro Garves, que está na profissão há 20 anos. “É uma loucura trabalhar nessa época do ano. As estradas ficam lotadas de carros de passeio e de condutores que não estão preocupados com os motoristas de caminhão, que diferente deles estão trabalhando. São atrevidos, pois simplesmente ligam a seta e entram sem se preocupar com quem está atrás ou do lado”, comenta. Para ele, o principal problema está na falta de conhecimento da estrada por parte dos condutores de veículos de passeio. Apesar de sua opinião sobre as condições do tráfego, lembra que a empresa em que trabalha faz inventário no final do ano e por isso ele consegue ficar parado ao menos uns 20 dias.

Trabalhar com caminhão nesta época é complicado, mas apesar do estresse aproveito o período para aumentar meu faturamento, diz o chileno Jorge Luiz Beliz
Trabalhar com caminhão nesta época é complicado, mas apesar do estresse aproveito o período para aumentar meu faturamento, diz o chileno Jorge Luiz Beliz

O chileno Jorge Beliz, diz que trabalha bastante nessa época do ano, pois começa a temporada de safra da ameixa e cereja no Chile, produtos bastante consumidos nas ceias de Natal e também de Ano Novo. Concorda que operar com caminhão nesse período do ano é complicado, pois enquanto alguns estão com pensamento em férias outros estão focados no trabalho. Apesar de todas as dificuldades, Jorge afirma que, todo o estresse compensa, pois a comissão aumenta e ainda recebe um bônus por estar fora de casa. “Aproveito essa época para aumentar o meu faturamento”, destaca.

Tudo é mais complicado, pois temos menos carga, menos comissão e motoristas que nunca saem de casa se aventurando nas estradas, comenta Ataufo Batista
Tudo é mais complicado, pois temos menos carga, menos comissão e motoristas que nunca saem de casa se aventurando nas estradas, comenta Ataufo Batista

Para o gaúcho de Santana do Livramento/RS, Ataulfo Batista, 40 anos e 22 de profissão, o movimento diminui na virada do ano. Diz que apesar de trabalhar como empregado, as despesas de alimentação e outras ficam por sua conta. “Tudo nesse período é complicado, menos carga, menos comissão e motoristas que nunca saem de casa se aventurando nas estradas. Trabalhar nesse período chega a ser perigoso”, afirma.

O trecho de pista simples na Serra do Cafezal, na Régis Bittencourt, é apontado por José Roberto do Santos como um lugar complicado na época de férias
O trecho de pista simples na Serra do Cafezal, na Régis Bittencourt, é apontado por José Roberto do Santos como um lugar complicado na época de férias

Há 42 anos na profissão, Silvio Moisés, de Cachoeira do Sul/RS, concorda que trabalhar nessa época do ano é mais complicado, além de ser uma fase com mais despesas devido o movimento de carga fraco. Na ocasião da reportagem, Silvio estava em São Paulo parado dois dias esperando carga para retornar. “Mesmo assim não posso parar, o jeito é enfrentar o trânsito, o excesso de veículos na estrada, pouco frete e compensar nos outros meses do ano”, afirma.

Silvio Moisés acrescenta que as despesas aumentam nesta época do ano devido à baixa no movimento de carga, mas tem de enfrentar o trânsito porque não pode parar
Silvio Moisés acrescenta que as despesas aumentam nesta época do ano devido à baixa no movimento de carga, mas tem de enfrentar o trânsito porque não pode parar

José Roberto Santos, de Colombo/PR, explica que esse período realmente é de muito estresse. “No final do ano tenho muito problema com as cargas de retorno. Para São Paulo carrego o caminhão com pó de pedra para misturar na tinta, porém, geralmente volto com papel para abastecer as gráficas de Curitiba. Mas como nessa época do ano quase todo mundo dá uma parada, fico dias a espera de carga e isso resulta em algumas despesas, sendo a principal com alimentação”, explica.

Outra questão apontada é o fluxo de carros de passeio, que aumenta significativamente nas estradas e como consequência cresce também as chances de acidentes. “Tem de ter paciência. Na BR-116, no trecho da Serra do Cafezal, por exemplo, onde ainda não tem pista dupla, é complicado trafegar nas férias. Tem muito carro e caminhão dividindo o mesmo espaço, uma situação onde é fácil acontecer um acidente”, explica.

Pelo lado da Polícia Rodoviária, o trabalho também é maior. O departamento de comunicação da 6ª Superintendência da PRF, alerta que entre os meses de dezembro e fevereiro há um aumento no número de veículos em circulação nas rodovias, por isso é importante que os motoristas profissionais tenham paciência e fiquem ainda mais atentos durante todo o trajeto. As estatísticas que tratam sobre as causas dos acidentes mostram que 30% são provocados pela falta de atenção. Outra dica importante é manter a distância do veículo da frente para evitar a colisão traseira e ter tempo suficiente para fazer uma intervenção. Nesta época do ano, o efetivo da PRF aumenta para garantir a segurança nas estradas.