Por Wilgen Arone

A profissão de motorista requer muita responsabilidade e alto grau de pressão. Basta um pouco de desatenção para ocorrer um acidente grave, envolvendo uma grande quantidade de veículos e vitimas. Por esta razão é muito importante que o condutor, esteja saudável atrás do volante. Contudo, a experiência do dia a dia mostra que é muito difícil para o carreteiro consultar um médico, até mesmo em caso de doença, porque várias questões são levadas em consideração antes de o profissional fazer a parada. Será que o médico em uma cidade estranha tem tempo para um novo paciente? E o que fazer com o tempo de espera? Quais são os efeitos de uma espera prolongada na agenda do motorista e até mesmo onde estacionar o caminhão são levados em conta antes da pausa para cuidar da saúde

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Muitas vezes falta tempo para os motoristas irem ao médico, que têm sempre uma agenda lotada e um tempo de espera muito longo, diz Joachim Fehrenkötter

Foi pensando em resolver esses problemas do cotidiano dos carreteiros que se criou na Alemanha o www.docstop.eu, (DocStop) uma parceria da instituição com médicos, dentistas e clínicas próximas às rodovias ou estacionamentos de caminhões.

O motorista que não estiver se sentindo bem liga para a linha telefônica 01805-112024 e solicita um médico perto de sua localização na estrada. Ele pode também pedir o endereço de um posto de atendimento ao longo da rodovia e este parceiro irá procurar um médico nas proximidades. O serviço telefônico está disponível em mais de 20 idiomas.

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Sempre prossigo viagem mesmo não me sentindo muito bem, não quero comprometer a minha jornada de trabalho, afirma Andreas Baumbach

Ao contrário de trabalhadores normais, não é tão fácil para o motorista ir ao médico quando ele está viajando. Em caso de resfriado ou dores mais leves, os motoristas se automedicam
para continuar a viagem. “Há sempre acidentes provocados por motoristas distraídos por causa de doenças ou medicação própria”, afirma Joachim Fehrenkötter, presidente da associação DocStop. Em sua opinião, muitas vezes falta tempo para os condutores irem ao médico porque o período de espera geralmente é muito longo “Isso geralmente não é muito fácil. Os médicos têm uma agenda lotada e um tempo de espera muito longo”, explica Fehrenkötter.

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Dirk Becker lembra que teve de interromper a viagem porque estava com um resfriado forte. Ligou para a empresa e parou no estacionamento mais próximo

Embora a distração provocada por doenças – ou mesmo pela automedicação seja responsável por acidentes de condutores nas rodovias -, a maior parte dos entrevistados não
consegue enxergar perigo em continuar dirigindo. O carreteiro Rubert Schweitzer conta que continua seu trajeto mesmo estando doente. “Infelizmente a realidade é assim, não posso mudar isso. Trabalho em uma organização de pequeno porte, se alguém faltar a carreta fica parada e gera prejuízo para a empresa”.

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O criador do projeto DocStop, Heiner Bernickel, diz que a consulta é rápida e gera pouca perda de tempo para a empresa, gerando pouca perda para a categoria

No entanto, a maior parte dos condutores não presta atenção nos efeitos colaterais gerados pelos medicamentos. Muitos deles podem provocar fadiga ou até mesmo tontura. Andreas Baumbach explica orgulhoso que nunca faltou ao trabalho por motivo de doença. “Sempre prossigo viagem mesmo não me sentindo muito bem, não quero comprometer a minha jornada de trabalho. Se tenho dor de cabeça tomo uma aspirina e sigo em frente”, revela. O carreteiro Günther Korn conta que com ele também é assim. “Para mim é normal dirigir mesmo quando tenho dor de cabeça. Esse tipo de moléstia não conta como doença. Tento ir ao médico quando estou em casa”, esclarece o motorista.

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Motorista de uma empresa pequena, Rubert Schweitzer afirma que mesmo doente ele continua seu trajeto, porque o caminhão não pode parar

Na maioria dos casos, a viagem só é interrompida quando os sintomas são graves e o condutor não consegue prosseguir. Dirk Becker lembra que teve de interromper seu percurso porque estava com um resfriado forte que não o permitia prosseguir. “Liguei para a empresa e informei que não estava em condições de dirigir. Parei no estacionamento mais próximo e passei a noite lá. No dia seguinte estava melhor e pronto para prosseguir minha viagem”.

Informações do Docstop indicam que as reclamações mais comuns dos motoristas de caminhão são dor de dente (31,7%), seguida por queixas de dores nas articulações ou dormência nos membros (17,1%). A proporção de dor nas costas em 2012 foi de cerca de 7%, provocada por longos períodos sentados e pelo levantamento frequente de cargas pesadas. Problemas circulatórios e cardiovascular, além de náuseas, infecções e feridas abertas também são comuns entre os profissionais da categoria.

Para facilitar a vida dos motoristas há sempre um estacionamento de caminhões nas proximidades dos médicos registrados na central de atendimento do Docstop. Alguns postos de atendimento oferecem transporte até o médico. Além disso, os profissionais de saúde inscritos no projeto Docstop concordam em tratar dos motoristas sem longa espera. Heiner Bernickel, criador do Docstop, diz que, de modo geral, a perda de tempo para a categoria é pequena. “A consulta é rápida e gera pouca perda para a empresa”, simplifica.

O tratamento é coberto pelo seguro, assim como qualquer visita ao médico. Quem não estiver com um cartão de seguro válido na Alemanha tem de pagar os custos do tratamento em dinheiro. Depois o seguro irá reembolsar o segurado. O DocStop é um serviço gratuito, o único custo fica por conta da chamada telefônica. Rede de assistência médica para motoristas profissionais sem fins lucrativos, o DocStop foi fundado em 2007 e conta atualmente com mais de 700 médicos, clínicas filiadas e pontos de contato e informação em áreas de serviços, paradas de caminhões e empresas de transporte ao longo das rodovias alemãs. Em breve haverá também um aplicativo para smartphones.

Até hoje, o serviço já atendeu mais de 10 mil motoristas. A linha telefônica tem uma média mensal de atendimento de 300 motoristas, já o número dos postos de atendimento ao longo das rodovias alemãs é desconhecido. O DocStop só funciona na Alemanha, mas já existem discussões para sua implantação de serviço de atendimento similar também na Áustria e Polônia.