Certa de que os transportadores que utilizam grandes composições podem ter mais rentabilidade usando cavalos-mecânicos equipados com motores de maior potência e torque, a Scania está investindo na divulgação da linha R V8, com produtos de 560 e 620cv e diferentes entre-eixos. Uma das ações da empresa reuniu cerca de 150 transportadores com direito a testar os pesadões

Por João Geraldo

Após ter liderado com folga o segmento de pesados em 2013, com o emplacamento de 17.983 unidades, desempenho que garantiu uma fatia superior a 32% de um total de 55.886 unidades de janeiro a dezembro, a Scania está se mexendo para reforçar ainda sua imagem de fabricante de caminhões estradeiros com grande capacidade de carga. Além da linha equipada com motores de 13 litros em linha, com potência até 480cv, a empresa passou a dar maior foco aos produtos da linha V8, com motor de 16 litros e cilindros em V, nas potências de 560cv (com torque de 2.700Nm entre 1.000 e 1.400 rpm) e de 620cv (com torque de 3.000NM na mesma faixa de giro), ambas disponibilizadas nas configurações de eixo 6X2 e 6X4.
Trata-se de produtos de ponta para concorrer no patamar de cima quando o assunto é cavalos-mecânicos de alta potência para tracionar grandes composições, com destaque aos rodotrens e bitrens que atuam no transporte de grãos. Explicar e mostrar ao transportador porque ele consegue mais rentabilidade operando com um caminhão equipado com motor V8 de 560cv ou 620, em relação a uma versão com propulsor em linha com um pouco menos de potência, passou a ser o principal trabalho dos técnicos da empresa para que o produto comece a ganhar espaço no mercado brasileiro. Atualmente, o mercado brasileiro conta também com caminhões equipados com motores em V na linha Actros, da Mercedes-Benz, sendo a versão 2655 equipada com propulsor V8 e as 2546 e 2646 com V6.
“A ideia é mostrar o lado racional do caminhão V8 da marca Scania”, adianta Victor Carvalho, gerente executivo de vendas de caminhões da Scania, antes de começar a relacionar e detalhar as vantagens de se operar com a motorização em V. Ele cita, entre outros detalhes, a árvore de manivelas mais curta que gera menor torção; o bloco em V, que proporciona melhor lubrificação e arrefecimento; além de o maior número de cilindros ajudarem a reduzir a potência gerada na cabeça do pistão para se obter uma melhor mistura ar/combustível.
Outro ponto destacado pela empresa é o fato das versões 6X2 e 6X4 estarem nacionalizadas e poderem ser adquiridas pelas regras do Finame, exceto na configuração 8X4. Os propulsores V8 são montados na Suécia, porém utilizam vários componentes das unidades de 13 litros produzidas no Brasil, tais como bicos injetores, cabeçote, alternadores e pistões (estes do motor de 12 litros), entre outros itens. Após o trabalho realizado pelos engenheiros da Scania do Brasil sobre o caminhão, se conseguiu elevar para mais de 60% o índice de nacionalização dos caminhões.
O foco maior é a versão 6X4 para atender o crescimento no País das grandes composições de cargas, já que atualmente tem havido uma maior movimentação dos transportadores em direção às composições de nove eixos (rodotrem e bitrenzão) e bitrem de sete eixos. “Consequentemente, existe também a demanda por veículos com maior potência, um segmento em que a motorização V8 apresenta vantagens operacionais”, conforme explica Carvalho. Em sua opinião, o mercado em 2014 tem potencial para 1.500 unidades do V8. Os entre-eixos disponíveis são 3,30m (6X4) e 3.100 e 3,50m (6X2).
Ainda de acordo com o executivo, o motor V8 de 16 litros combina desempenho, robustez e maior vida útil com economia de combustível, em operações formadas com composições de 74 toneladas de PBTC. Especialistas da Scania na área de caminhões apostam nas características do produto e nos resultados de operação – proporcionados pelos produtos para levar os clientes para a linha de cavalos-mecânicos de alta potência. Elevado torque do motor para vencer aclives com velocidade média satisfatória; baixa rotação dentro da faixa econômica e com menos trocas de marchas são fatores a serem levados em conta pelo transportador.
Marcel do Prado, responsável pelo portifólio de produtos da Scania no Brasil,  destaca que num comparativo com os caminhões com motores de seis cilindros em linha, a produção mensal obtida pelo R 620 pode ser 15% a 20%  superior, sendo portanto, um diferencial para tracionar conjuntos tritrem e rodotrem em diversas aplicações e diferentes tipos de implementos. “Além do transporte rodoviário, a Scania vê novos nichos de atuação para a linha V8, como operações fora de estrada no transporte de cana e madeira”. Técnicos da Scania alertam que se o V8 for aplicado na operação errada ele pode consumir mais e que o motorista precisa entender que pelo fato de se ter reserva técnica de potência no caminhão não é necessário usá-la a todo instante. Os preços divulgados começam a partir de R$ 480 mil para a 560 6X2.

BOXES

1 – Mudanças na nova linha

Equipados de série com caixa de transmissão Opticruise GRS0905 de 14 velocidades (duas superlentas e uma Overdrive), totalmente automatizada, Driver Support, freio auxiliar Retarder e suspensão a ar, a linha V8 2014 traz mudanças no desenho da cabine e dispositivos que contribuem para reduzir a resistência do ar e do nível de ruído do vento. As aletas laterais desapareceram e deram lugar para um pequeno defletor de ar (patenteado pela Scania) de contornos cromados e incorporado à grade, acima dos faróis.  A peça expele o ar num movimento que lembra uma onda e elimina a possibilidade de acúmulo de sujeira nas portas e maçanetas. O quebra-sol com linhas mais suaves também ajuda no controle do fluxo de ar.
Todos os caminhões da nova série V8 têm logotipo externos cromados, além de identificação interna também nas soleiras, painel e computador de bordo. Com para-choque e para-lamas pintados na cor da cabine, os modelos de maior potência podem ser identificados à distância pela grade na cor preta com desenho diferente da tela. A linha V8 2014 traz também novo controle de suspensão a ar, com  novas válvulas e sensores no ajuste pneumático, mudança para aumentar em 25% o intervalo de manutenção.
A linha oferece como opção um kit com assentos de couro e ventilação e ajuste de pescoço dos bancos; tapetes, volante e portas revestidos em couro; faróis de xenônio, bafômetro integrado ao painel, rádio com GPS, novo computador de bordo com tela de 6,5 polegadas, com diferentes campos que podem ser programados conforme a necessidade do carreteiro. A Scania está oferecendo um portifólio de serviços para a linha, com atendimento na estrutura do cliente.(JG)

2 – Crescimento da potência

A necessidade de ter motores com mais cavalagem, para atender a nova geração de caminhões que seria lançada em 1968, levou os engenheiros da Scania a começar a trabalhar, em 1962, num propulsor com outra concepção, já que um motor em linha, de oito cilindros, não caberia embaixo do capô de uma cabine convencional. Na época os propulsores Scania-Vabis de 8 e 11 litros que atingiam no máximo 250cv. Atendiam bem ao mercado, mas os engenheiros da empresa perceberam que o transporte rodoviário de cargas precisaria de maior potência, principalmente para o segmento de e operações de longas distâncias.
A ideia era desenvolver uma unidade compacta, de 14,2 litros e com 100cv a mais de potência. De acordo com a Scania não havia no mundo dos motores diesel nenhum antecessor genuíno para o então LB140, uma máquina projetada para trabalhar com turbo compressor e ter desempenho durante uma longa vida útil. Com tampas de válvulas em forma de V montadas sobre cabeçotes individuais e 350cv a 2.300rpm, na época os engenheiros da empresa definiam o motor V8 como um produto sem concorrente algum na Europa. Suas características de desempenho incluíam uma curva de torque plana com alta potência e poucas trocas de marchas. Em 1970, o V8 ganhou mais força e passou a disponibilizar 375cv a 2.000rpm e torque máximo aumentado de 1.245 para 1.480Nm e com o pico de torque ocorrendo a 1.300rpm frente aos 1.500 do modelo anterior.
Em 1982 o motor em V de 14 litros ganhou intercooler e, em 1987 a Scania lançou três versões, uma delas de 470cv na série 3, com injeção de combustível conhecida como EDC  por ser controlada eletronicamente. A quebra das barreira aconteceu em 1991, quando a Scania apresentou uma linha completa de motores Euro 1, incluindo um V8 de 450 gerenciado de modo mecânico e outro de 500cv EDC.  O próximo salto de potência aconteceu com a chegada da série 4, no final de 1995, subindo de450 para 460cv e de 500 para 530. O V8 de 16 litros (15,6 litros) chegou no ano 2000 com potências de 480 e 580cv, para substituir, aos poucos, o V8 de 14 litros. O pulo para 560 e 620cv aconteceu em 2005, nas versões Euro 3 e Euro 4. Em 2010 a Scania lançou na Europa uma versãode V8 de 16 litros e 730cv de potência e passou a ter o propulsor em quatro faixas de potências, juntos com o 500, 560, 580 e 620cv. (JG)