Por Daniela Giopato

Aumento do custo do frete, consumo de combustível e tempo para chegar ao destino, além da falta de rotas alternativas são os principais problemas apontados por entidades do setor de transporte de carga em relação à restrição da circulação de caminhões em São Paulo. Por outro lado órgãos públicos defendem, com números, a eficácia da medida Texto Daniela Giopato Vista como uma das soluções para reduzir o trânsito em grandes metrópoles como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Cuiabá, as restrições a caminhões têm causado polêmica quanto à sua eficácia. As principais questões debatidas entre entidades do setor de transporte rodoviário de cargas, motoristas autônomos e governo relaciona-se à logística defasada para atender limitações impostas, desrespeito ao carreteiro, falta de comunicação e de informação, transferência desses veículos para vias de bairros sem condição de suportar tráfego pesado e o consequente aumento do custo operacional em toda a cadeia.

A cidade de São Paulo, por exemplo, foi palco de manifestação provocada pelo recente anúncio de restrição a caminhões na Marginal Tietê e avenidas de grande fluxo de veículos, como a Marquês de São Vicente, Salim Farah Maluf, Professor Luiz Inácio de Anhaia Mello, Juntas Provisórias, Tancredo Neves e do Estado, de 2ª a 6ª feira, das 5h às 9h e das 17h às 22h e aos sábados das 10h às 14h, exceto feriados. Durante dois dias caminhões tanques deixaram de abastecer os postos de serviço da grande São Paulo resultando na falta de combustível para a população.

Na ocasião, representantes dos autônomos no Estado de São Paulo (Sindicam, Sinditanque, Unicam e Abcam) não concordavam com a nova medida – iniciada dia 05 de março passado – sob alegação dela gerar mais dificuldades de operação dos caminhões na cidade e o consequente aumento de custos, repassados para o preço final do produto. Para o presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP), Norival de Almeida Silva, esta foi a medida mais prejudicial ao abastecimento da cidade de São Paulo e ao transportador autônomo em geral, que precisa passar pela Marginal Tietê para atingir o porto e outras localidades. “Uma carga, cuja origem é Guarulhos (região Leste da Grande São Paulo) com destino a Barueri (região oeste da Grande São Paulo), percorre 32 quilômetros numa situação sem restrição. Com a restrição de nove horas diárias à Marginal Tietê, esse profissional percorrerá 143 km. São 111 quilômetros a mais de gastos com combustível, hora/homem ao volante e desgaste do caminhão. Quem pagará esse custo?”, questiona.

calango
A restrição na Marginal Tietê foi uma das medidas mais prejudiciais ao abastecimento da cidade de São Paulo, comenta Norival de Almeida, do Sindicam

Almeida Silva destaca ainda as portarias 25/24, editadas pela Prefeitura da cidade de São Paulo, por restringirem também mais de 27 ruas e avenidas dificultando o abastecimento de postos de combustíveis e demais estabelecimentos comerciais. “Entregas à noite são arriscadas e, por questão de segurança, muitos estabelecimentos não aceitam receber produtos fora do horário comercial. Muitos profissionais responsáveis pela entrega de combustíveis em postos localizados nessas vias terão suas viagens reduzidas e perda de receita”, explica. Apesar do Sindicam não ter concluído nenhum estudo a respeito de aumento de custo para o motorista, estima-se que deve girar em torno de 40%.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), Francisco Pelucio, os principais erros da restrição, principalmente da Marginal Tietê, é a falta de alternativa para o tráfego de passagem e de um Rodoanel completo. Como consequência, milhares de empresas localizadas neste eixo ficam prejudicadas para operar.

Todas as medidas para reduzir o trânsito em São Paulo mudaram a rotina dos transportadores e motoristas de caminhão ao cruzarem a cidade, restando como alternativa programarem as viagens para os horários permitidos ou encontrar rotas alternativas, muitas vezes por ruas e avenidas sem estrutura adequada para o tráfego de veículos pesados, resultando em transtornos e estresse tanto para o carreteiro quanto para os condutores de carros de passeio.

“Certamente, a ampliação da Zona de Máxima Restrição à Circulação (ZMRC) para mais de 100 quilômetros quadrados criou um grande entrave para a distribuição de mercadorias e o abastecimento da cidade, obrigando as transportadoras a fracionar as cargas em veículos menores. Porém, existem muitos produtos não fracionados”, explica o dirigente do Setcesp. Para ele, a proibição na Marginal Pinheiros e na Av. dos Bandeirantes criou uma zona de isolamento na cidade, principalmente da região industrial de Santo Amaro, na Zona Sul, impedindo o recebimento de caminhões grandes para o abastecimento da produção e o escoamento dos produtos prontos.

Por outro lado, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostram a eficácia das medidas em relação a redução nos índices de lentidão registrados na cidade após a proibição dos caminhões. Na Marginal Pinheiros e Avenida dos Bandeirantes, por exemplo, comparando as médias registradas entre setembro de 2010 e setembro de 2011, em relação ao mesmo período em 2009 e 2010, houve diminuição de 18% nos índices de lentidão em toda a capital passando de 61,1km para 50,1km, das 7h às 20h. Nos principais corredores de tráfego, como na Avenida dos Bandeirantes, a redução chegou a ser de 45% – de 3,6 para 2 km. Já na Marginal Tietê, o ganho foi de 43% – 13,8km para 7,9km de lentidão – e de 6% na fluidez na Marginal Pinheiros (6,4km para 6 km de lentidão).

Antes da restrição de 05 de março, 150 mil caminhões circulavam livremente na Marginal Tietê e vias adjacentes, sendo deste total 75 mil somente na Tietê. Com a medida, a CET estima que um percentual de cerca de 25% (18.750 caminhões com autorização especial e VUCs ) continue a circular na Marginal diariamente. A Companhia de Engenharia e Tráfego acrescenta ainda a redução de 10% no número de acidentes na cidade entre o primeiro semestre de 2008 e os primeiros meses de 2011, caindo de 2.102 para 1.891 ocorrências.

5975t
Para Francisco Pelucio, do Setcesp, o principal erro da restrição na Marginal Tietê é a falta de alternativa para o tráfego e de um Rodoanel completo

Para o presidente do Sindicam – SP, a restrição a caminhões pode ser sim uma solução viável para a redução do trânsito na capital paulista, porém, é necessário haver investimento em transporte público de qualidade nas demais regiões. Pelucio acrescenta o fato de entrar diariamente no trânsito de São Paulo cerca de 1.000 veículos emplacados pelo Detran. Lembra também não ter havido na cidade uma expansão significativa de oferta de espaço no viário urbano desde 1970. Francisco Pelucio também fala da falta de transporte coletivo de qualidade, rápido e eficiente para atender diariamente milhões de usuários. O grande problema do trânsito da capital é “veículos demais disputando ruas e avenidas de menos”. Para ele, o caminhão é “demonizado” pela Prefeitura paulista como se fosse o agente de geração de congestionamentos. “Porém, quem olha para o problema sob a ótica da realidade e da tecnicidade, sabe que o transporte de cargas é essencial, e que o modelo de transporte individual é ultrapassado”, destaca o presidente do Setcesp.

“Para ele, qualquer estabelecimento de horário prejudica a performance do transporte. E transferir o abastecimento do comércio ou o tráfego de carreta para a madrugada significa aumentar o custo e comprometer a segurança dos motoristas. “O comércio não está disposto a ter mais custos, disponibilizando operações e estruturas durante a madrugada para receber mercadorias. Este é um problema coletivo e precisa ser analisado em parceria, com todos os segmentos envolvidos para se chegar a um conjunto de soluções e resolver a questão da disputa de espaço pelo viário paulistano”, conclui.

Mapa da restrição
Em São Paulo existem quatro formas de restrição de caminhões. Veículos de carga que transitarem em local e horário não permitidos pela regulamentação cometem uma infração média, com perda de quatro pontos na CNH e multa de R$ 85,13.

RODÍZIO – Centro Expandido: É delimitado pelo Mini Anel Viário. Esta região da cidade concentra a maior parte dos serviços, empregos e equipamentos culturais e de lazer da cidade. Dentro desta área, vigora desde 1997 uma restrição municipal à circulação de automóveis em função do número final das placas. Em 28 de julho de 2008, o rodízio municipal de placas começou a valer também para caminhões. Os caminhões foram proibidos de circular nos horários de pico (das 7h00 às 10h00 e das 17h00 às 20h00), nos dias úteis, variando a restrição conforme o número final de suas placas.

ZMRC – Zona de Máxima Restrição de Circulação: área do Município que concentra os principais núcleos de comércio e serviço, com restrição ao trânsito de caminhões de segunda a sexta-feira, das 5h00 às 21h00, e aos sábados, das 10h00 às 14h00. Todo caminhão autorizado deve se cadastrar no site da Prefeitura de São Paulo.

ZERC – Zona Especial de Restrição de Circulação: Área ou via em Zonas Exclusivamente Residenciais – ZER’s, conforme o Plano Diretor Estratégico, com necessidade de restrição ao trânsito de caminhões, a fim de promover condições de segurança e/ou qualidade ambiental.

VER – Vias Estruturais Restritas: Vias e seus acessos, com restrição ao trânsito de caminhões, em horário determinado por meio de regulamentação local, com características de trânsito rápido ou arterial, bem como túneis, viadutos e pontes que dão continuidade a tais vias e constituem a estrutura do sistema viário.

5987t

 

LIBERAÇÃO VEÍCULOS URBANOS DE CARGA (VUC)
Desde o final de 2011, quando a Prefeitura anunciou a ampliação das restrições também para a Marginal Tietê e adjacências, o Setcesp, junto com os demais representantes do transporte, lutam pela liberação do VUC. De acordo com a entidade, o VUC é um caminhão criado pela própria CET, nos anos 90, com as dimensões e as características para atender ao transporte urbano. O VUC, com até 6,3 metros de comprimento, consolida a carga de até quatro utilitários menores, que são largamente utilizados na cidade por não serem restritos. Com o uso do VUC, há menos motores circulando pela cidade, menos veículos ocupando o viário, e mais eficiência para a distribuição e coletas urbanas.

Regras do VUC: A CET informa que os VUCs, estão liberados para circular no período das 10h às 16h dentro da ZMRC. Nas VERs, que possuem corredores de ônibus e alto volume veicular como a Av. Rebouças/Consolação; Av. Sto. Amaro / 9 de Julho, Av. 23 de Maio, entre outras, esse tipo de veículo têm restrição de circulação. Os VUCs também devem respeitar o rodízio municipal de veículos, inclusive nas VERs Marginais Tietê e Pinheiros, Av. dos Bandeirantes, Avenida Jornalista Roberto Marinho e algumas vias do Morumbi (portaria 137/2011) e vias do Minianel Viário (portaria 025/2012), das 7h às 10h e das 17h às 20h . Na Radial Leste existe horário específico para a circulação do VUC, das 10 às 16h.

Portaria 137/11 (Marginal Pinheiros e vias do Morumbi): VUCs liberados em período integral, seguindo rodízio de placas; Portaria 113/11 (Radial Leste): VUCs liberados entre das 10h às 16h e também devem respeitar rodízio de placas; Portaria 025/12 (Marginal Tietê e vias do Minianel): VUCs liberados em período integral, seguindo o rodízio de placas.