Por Nilza Vaz Guimarães

No começo de mais um ano, os motoristas de caminhão fazem uma avaliação sobre 2010 e embora ainda existam muitas reclamações relativas à profissão como fretes baixos, estradas ruins e falta de segurança, a maioria concorda que foi um ano bom e está otimista quanto ao desempenho do setor em 2011. Isso se refere principalmente em relação ao novo governo, conforme expectativa do experiente Albano Velozo de Santana, de Feira de Santana/BA (a 100 km de Salvador), há 45 anos na profissão, que acredita na estabilidade da economia.

O ano de 2010 foi bom, mas o valor do frete precisa ser reajustado, destaca Albano Velozo de Santana, que está há 45 anos na profissão de carreteiro
O ano de 2010 foi bom, mas o valor do frete precisa ser reajustado, destaca Albano Velozo de Santana, que está há 45 anos na profissão de carreteiro

“Até hoje nunca tive problemas nas rodovias, mas peço à nova governante que cuide da segurança nas estradas. Trata-se de um assunto urgente, e ela tem de dar conta deste recado”, opina. Sua expectativa profissional é de continuar trabalhando e melhorar sua condição financeira para ter um pouco de lazer, conforme imagina. “Pretendo terminar de construir minha casa este ano e gostaria que as empresas contratantes mudem o sistema de pagamento, pois ainda estão trocando carta-frete por aqui”, finaliza. Apesar de 2010 ter sido um bom ano, Albano gostaria que o frete fosse reajustado.

Aos 65 anos de idade, ele sonha com a aposentadoria, mas não tem expectativa de parar tão cedo de trabalhar e como alternativa para o momento pretende fazer viagens mais curtas pelo interior da Bahia. Natural de Catu, no Estado, Albano só trabalha durante o dia com cargas de cobre, polietileno, óleo e cerveja, permanecendo no máximo10 horas ao volante do seu caminhão. “Rodo até o jantar, depois deito para esperar o sono”, diz.

Osvaldo Rodrigues Sampaio aproveitou o bom momento para investir em seu caminhão, mas lamenta que muitos colegas de profissão dirigem drogados
Osvaldo Rodrigues Sampaio aproveitou o bom momento para investir em seu caminhão, mas lamenta que muitos colegas de profissão dirigem drogados

Não pega viagens longas porque não tem como manter o caminhão, conforme afirma, pois além de o valor do frete não compensar, as estradas não ajudam. Diz que está decepcionado com a cobrança de pedágio no Estado da Bahia. “A BR-324, por exemplo, ainda está uma tristeza, não tem acostamento e estreitaram a pista. Apenas um trecho de cerca de 150 metros da praça de pedágio é que merece ser cobrado. Enfim, devem corrigir a BR-324 e aí sim, cobrar um preço justo”, esbraveja.

De acordo com Osvaldo Rodrigues Sampaio, depois que comprou seu primeiro caminhão acostumou -se tanto que não largou mais. “É como casamento”, explica o carreteiro mineiro de 50 anos, com 30 anos na profissão, que transporta móveis e eletrodomésticos em geral, de São Paulo para o Nordeste, em seu caminhão ano 88. Reclama que os colegas de profissão usam drogas para chegar mais rápido ao destino e também da falta de segurança nas rodovias. “Isso tudo sem falar do frete ruim,e agora com o número crescente de praças de pedágio a situação ficou mais difícil ainda”, opina. Apesar das queixas, Osvaldo considerou 2010 um ano bom, de muitas cargas, o que lhe permitiu investir no seu caminhão, que não recebia manutenção há mais de um ano.

Para João Olinto Almeida, os caminhões deveriam ter a velocidade limitada automaticamente a 80 km/hora, porque existem motoristas irresponsáveis
Para João Olinto Almeida, os caminhões deveriam ter a velocidade limitada automaticamente a 80 km/hora, porque existem motoristas irresponsáveis

“Como o governo está investindo nas estradas, o custo de manutenção diminui”, explica o carreteiro. De acordo com ele, as rodovias estaduais do Nordeste são boas e as federais, que eram as piores, também receberam melhorias. “Espero que com a nova presidente, este trabalho seja continuado”, acrescenta.

Outro carreteiro, João Olinto Almeida, 52 anos de idade e 30 na profissão, realizou seu sonho de menino quando completou 20 anos e foi trabalhar em uma transportadora. Passado alguns anos, comprou seu próprio caminhão. Hoje, com dois modelos (anos 81 e 82), afirma que apesar de não serem novos, a parte mecânica está boa. “É como diz o ditado, quem manda é o coração”, esclarece.

Trabalhando como empregada, Claudecy Araujo espera ganhar mais dinheiro em 2011 e começar  a realizar seu sonho de dirigir o próprio caminhão
Trabalhando como empregada, Claudecy Araujo espera ganhar mais dinheiro em 2011 e começar
a realizar seu sonho de dirigir o próprio caminhão

Segundo ele, existem duas concorrências na sua atividade, uma é o empresário do setor de transporte de cargas e outra, é o próprio motorista que faz uma viagem por qualquer valor, prejudicando o mercado. “Tudo isso sem falar do abastecimento, do pedágio e dos pneus, que tiram o dinheiro do frete”, reclama. No seu caso, ele mora em São Paulo e viaja por todo o Nordeste.

Lembra que as estradas estão muito perigosas, “pois existem muitos garotos irresponsáveis no volante de um caminhão que só pisam fundo”. Se fosse ministro dos Transportes, João Olinto publicaria uma lei obrigando todos os fabricantes de caminhões a limitarem a velocidade dos veículos em 80 km por hora. “Todos os caminhões possuem cronotacógrafo que apenas registra a velocidade, mas não proíbe, além de ser facilmente alterado por qualquer um”, reclama. Para ele, o ano de 2010 foi bom, pois conseguiu comprar mais um caminhão e espera que 2011 seja melhor ainda. “O ano está só começando e se for possível quero trocar os meus dois caminhões, aí sim, será um ano excelente”, acredita. Em relação ao novo governo, espera que a presidente dê continuidade ao governo anterior.

As condições de financiamento deveriam ser mais atrativas porque o Procaminhoneiro ainda é impraticável, conforme opina Antônio da Silva
As condições de financiamento deveriam ser mais atrativas porque o Procaminhoneiro ainda é impraticável, conforme opina Antônio da Silva

Melhor atendimento para a saúde e educação, redução do índice de assaltos e do uso de drogas, são os pedidos da carreteira Claudecy Araujo, de 40 anos e 2 de profissão, para a presidente Dilma Roussef. Separada, com dois filhos, ela não trabalha com seu próprio caminhão, mas tem planos de comprar um. Atualmente, ela transporta todo tipo de carga para as cidades do interior da Bahia e espera que em 2011 ganhe muito dinheiro para pagar as dívidas.

O carreteiro Antonio da Silva, de 52 anos de idade, natural do Maranhão, conta que desde pequeno gosta de aventuras. Na primeira oportunidade comprou um caminhão para poder ganhar “este mundo de meu Deus”. “Não trabalho para ficar rico e sim para viver. Adoro curtir a natureza e vivo feliz”, comemora. Transporta carga seca e contêiner para todo Brasil, paga cerca de 5 mil reais mensais pelo caminhão e afirma que ainda falta muito para terminar. “Isso tudo deveria mudar, pois a gente paga dois caminhões em um e o Procaminhoneiro é impraticável”, diz ele, que este ano pretende terminar as prestações e aumentar o seu patrimônio.

Eliomar Menezes Santos comprou um terreno em 2010 e tem planos de construir uma casa e torce para que não falte trabalho este ano
Eliomar Menezes Santos comprou um terreno em 2010 e tem planos de construir uma casa e torce para que não falte trabalho este ano

Antonio se considera uma pessoa careta no meio profissional, por não usar drogas, não fumar e nem beber, mas está muito feliz assim. “A gente só ouve: “esmaguei três pregos”, infelizmente é o que estamos vivendo hoje nas estradas. É preciso que o governo faça alguma coisa”, acrescenta. Acabar com os favelados, dar conforto às pessoas de bem, assistência médica, ambulância é tudo que ele quer para o próximo governo. “No meu caso, eu “tô de boa”, hoje aqui e amanhã estarei em Belém ou no Rio Grande do Sul e assim vai, mas a nova presidente tem que continuar o governo anterior. Se isso acontecer já está de bom tamanho”, conclui.

Transportando frutas, algodão e café pelo interior da Bahia, o carreteiro Eliomar Menezes Santos, de 37 anos de idade e 19 de profissão, chega a trabalhar até 16 horas por dia, mas descansa entre um carregamento e outro.

Para ele, o ano de 2010 foi de muito trabalho e espera que em 2011 não faltem cargas. “No ano passado trabalhei muito e consegui comprar um terreno, agora espero construir minha casa este ano”, explica.
Eliomar acredita que o Brasil segue no caminho certo, porém não quer mais ver a grande quantidade de acidentes nas estradas, como ocorreu em 2010. Ele atribui a grande quantidade de ocorrências à falha humana, seguida da pressão dos clientes que querem receber a mercadoria em prazo apertado e também à falta de manutenção preventiva e corretiva dos caminhões.

Seu sonho é ter o próprio caminhão, mas não tem expectativa de concretizá-lo em 2011. Da nova presidente, espera mais atenção para a saúde e a educação da população necessitada. “O novo governo tem de olhar mais para a classe sofredora e para as crianças nas ruas pedindo dinheiro, sem esquecer da criminalidade, que está assustadora. Só assim teremos uma vida e um País mais digno”, finaliza.