Por Nilza Vaz Guimarães

De um lado, as montadoras estão investindo sem parar em pesquisas para o desenvolvimento de motores movidos por combustíveis renováveis – com maior potencial para redução de emissão de CO2 – do outro, boa parte dos carreteiros parece não estar muito preocupada com o meio ambiente, ou com o que significam nomenclaturas como Proconve P7, Conama, Diesel S 50, ARLA 32, SCR e EGR, entre outras. Porém, se o assunto é redução no custo operacional de seu caminhão, aí sim há interesse e muita atenção.

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Acostumado a abastecer em postos que vendem diesel mais barato, Jurandir Cordeiro reclama que o combustível representa metade do valor do frete

Motorista de um caminhão ano 1991, modelo 92, Antonio Pereira Barbosa, 56 anos de idade e 35 estradas, transporta carga seca de Salvador/BA para todo o Nordeste e diz que já testou o biodiesel, mas não acredita que seja melhor que o diesel comum. Para ele, o consumo é igual, o valor na bomba também e o desenvolvimento do caminhão é o mesmo. Barbosa destaca que para economizar combustível uma das medidas é não rodar com excesso de peso. “O limite de carga de meu caminhão é 12 toneladas e não transporto mais que esta tara”, afirma. Acrescenta que roda cerca de 4 mil quilômetros (diz que seu caminhão faz cerca de 3 km/litro) por mês e que o combustível corresponde a 50% do valor do frete.

Em relação à emissão de poluentes, o carreteiro lembra que o teste de fumaça na hora do emplacamento do caminhão é obrigatório apenas em São Paulo e defende que que esta ação seja estendida para todas as cidades do Brasil. “Acho isso certo, pois assim todos nós iríamos respirar um ar melhor”, completa. Barbosa afirmou que se o governo fizesse um valor diferenciado para a compra de biodiesel, com certeza muitos carreteiros já estariam utilizando o combustivel.

Porém, o carreteiro não esquece de citar o problema no diesel adulterado, pois recorda que há sete anos o motor de seu caminhão deu um problema e até hoje não sabe se foi porque abasteceu com combustível adulterado. Ele não tinha a nota fiscal do posto e não pode comprovar, mas destaca que um dos problemas para que isso aconteça é a carta-frete, pela qual o motorista é obrigado a abastecer onde ela pode ser descontada. “Assim ficamos a mercê de qualquer posto que pode ser ou não confiável”, justifica.

Para Antonio Barbosa, biodiesel polui menos, mas não oferece outras vantagens como menor preço e maior rendimento do caminhão
Para Antonio Barbosa, biodiesel polui menos, mas não oferece outras vantagens como menor preço e maior rendimento do caminhão

Para o carreteiro Jurandir Cordeiro, de 54 anos de idade, o caminhão consome mais biodiesel devido ao produto ser mais fino. Acrescenta que após ser misturado ao diesel comum fica tudo a mesma coisa e lembra que não são todos os postos de estrada que oferecem o biodiesel. “Se a gente passar a usar somente o biodiesel pode até reduzir a fumaça, mas não é tudo isso que dizem”, comenta. Costuma abastecer em postos que oferecem diesel mais barato e reclama que o diesel já representa 50% do valor do frete. Segundo ele, se abastecer com biodiesel – que em vários postos é mais caro – se torna inviável continuar trabalhando na profissão. Acusa a existência de postos que misturam óleo queimado no diesel da bomba e admite não ter como controlar a qualidade do combustível. “Coloco R$ 200,00 num posto, R$ 300,00 em outro e assim não temos qualidade”, exemplifica.

Em seu caminhão, um modelo fabricado em 1991, Cordeiro não transporta mais do que as 14 toneladas, capacidade recomendada pelo fabricante. Isso devido às balanças e o aumento no consumo, além do comprometimento da segurança. O veículo está totalmente pago, diz que já rodou muito com ele, chegando a exagerar e não valeu a pena pelo desgaste de pneus e outros componentes. “Hoje só faço fretes em curtas distâncias”, taxou. Desconhece as novas tecnologias que estão por aí, mas pretende trocar seu caminhão por um mais moderno dentro de dois anos. “Em todos os modelos modernos a tecnologia é outra”, lembra.

Dirigir com o caminhão na faixa econômica é a maneira de Irani Caglione economizar combustível e poluir menos o meio ambiente
Dirigir com o caminhão na faixa econômica é a maneira de Irani Caglione economizar combustível e poluir menos o meio ambiente

O gaúcho Irani Caglione, 57 anos de idade, está na estrada desde 1977 transportando móveis da região Sul para o Nordeste e retorna com qualquer carga que apareça. Diz que ainda não conhece as novas tecnologias para redução de emissão de gases poluentes, mas acredita que seu caminhão – um modelo ano 2007 – não polui muito, pois é eletrônico. “Só uso diesel aditivado, por ser apenas um centavo mais caro que o diesel normal, e tenho um rendimento muito melhor, mas biodiesel nunca utilizei”, admite.

Para economizar combustível e não poluir muito o meio ambiente, Caglione diz que dirige sempre “no verde” em se tratando da rotação do veículo. “Não ultrapasso os 80 km, só se for numa emergência”, afirma. Ele acrescenta que faz a manutenção do caminhão em concessionária apenas até o final da garantia e a regulagem do motor a cada 100 mil quilômetros.

Combustível adulterado já causou prejuízo para Braz Pedro da Silva, que teve de trocar os filtros do caminhão e descartar o diesel contaminado
Combustível adulterado já causou prejuízo para Braz Pedro da Silva, que teve de trocar os filtros do caminhão e descartar o diesel contaminado

Carreteiro desde os 18 anos de idade, Braz Pedro da Silva, 40, transporta produtos alimentícios em seu caminhão, um modelo fabricado em 2003. Diz que dependendo do roteiro da viagem abastece apenas em postos que oferecem promoção no preço do diesel, mas nunca abasteceu com biodiesel. “Gosto de colocar óleo puro no tanque, senão não adianta. Diesel não pode ser misturado com nada, mesmo assim tem muitos postos que misturam parafina, e por ser um produto mais barato, lucram mais, não se preocupando com os danos que podem ocorrer no caminhão que são abastecidos com esta mistura”, reclama.

Admite que é muito difícil saber se algum problema no motor do caminhão foi ocasionado pela má qualidade do diesel. Numa noite só, conta ele, seu caminhão parou três vezes e em cada parada ele trocou o filtro, mas nada disso adiantou. “Tive de retirar todo o combustível e reabastecer outra vez e só assim o problema desapareceu. O prejuízo foi grande”, lembra.

Acredita que trocando os filtros de combustível e óleo a cada 15 mil quilômetros já esteja contribuindo com o meio ambiente. “Eu sei que fumaça polui, mas o meu caminhão só solta fumaça quando ligo o motor e quando troco de marchas”, esclarece ele de consciência tranquila. Pensa que o governo tem de dar condições para os carreteiros fazerem adaptações em seus caminhões às novas tecnologias.