Por Daniela Giopato

A falta de infraestrutura viária é apontada como um dos principais entraves do setor do transporte rodoviário de carga no Brasil. Insuficiência de estradas, sinalização precária e asfalto malconservado – além de pistas simples com mão dupla de direção – é uma realidade bastante conhecida pelo setor, assim como suas consequências, cuja relação inclui aumento de custos com o combustível, manutenção do caminhão e maior tempo de viagem, além da redução da segurança.

Um dos motivos desta situação tem como explicação que ao longo dos anos o crescimento da malha rodoviária foi muito abaixo do necessário e não acompanhou a evolução da frota de veículos pesados e do setor de transporte. Nos últimos 10 anos, por exemplo, a extensão das rodovias federais pavimentada passou de 57,9 mil km em 2004 para pouco mais de 65,9 mil km em 2014 (13,8%). No mesmo período, a frota de veículos aumentou 122,0%. Os dados são do Denatran e consideram o período de junho de 2004 até junho de 2014. O número de acidentes em rodovias federais evoluiu 77,9% e o número de mortos 47,9%, conforme informações da Polícia Rodoviária Federal.

O custo do transporte por rodovia pavimentada chega a ser 56% inferior ao de uma rodovia sem pavimento, afirma Neuto Gonçalves, da NTC
O custo do transporte por rodovia pavimentada chega a ser 56% inferior ao de uma rodovia sem pavimento, afirma Neuto Gonçalves, da NTC

De acordo com o do diretor técnico da NTC & Logística e coordenador do Decope, Neuto Gonçalves dos Reis, o custo do transporte numa rodovia pavimentada chega a ser 56% inferior ao de uma estrada sem pavimento. Outro dado fornecido por Gonçalves se refere ao índice de competitividade global – do Fórum Econômico Mundial, divulgado em setembro de 2014 -, que classifica a qualidade das rodovias brasileiras na 122ª posição. Esse ranking coloca as estradas do País atrás do Chile (31ª posição), Suriname (70ª) e Uruguai (90ª). No total foram analisados 144 países.

“Os investimentos públicos em transportes que chegaram a representar 1,8% do PIB, no final da década de setenta, entraram em queda livre. Sem recursos, até para tapar buracos, a saída no governo Fernando Henrique foi dar largada ao processo de concessões das rodovias mais movimentadas. Hoje, quase 20.000km estão sob concessão”, afirma Neuto.

As concessões de rodovias trouxeram grandes benefícios para a infraestrutura de transportes, diz Flavio Freitas, da ABCR
As concessões de rodovias trouxeram grandes benefícios para a infraestrutura de transportes, diz Flavio Freitas, da ABCR

Em sua opinião, a concessão foi um avanço, porém não resolve todos os problemas, pois se aplica apenas a rodovias com fluxo de tráfego razoável. Nas demais casos, o governo investe capital público ou lança mão das Parcerias Públicos Privadas (PPPs), modalidade que até o momento não saiu do papel. Ainda de acordo com o diretor técnico da NTC & Logística, estão previstos cinco leilões em 2015, totalizando R$ 19,6 bilhões; e 11 leilões em 2016 (R$ 31,2 bilhões) e mais R$ 15,3 bilhões de investimentos em concessões já existentes.

Dados da CNT – Confederação Nacional dos Transportes, mostram que os investimentos autorizados pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Viária) em 2014 não passaram de R$ 11,93 bilhões. Desse total, apenas R$ 6,54 bilhões foram pagos. Houve também investimentos de R$ 3,358 bilhões feitos pelas concessionárias de rodovias. Ainda de acordo com a entidade, só para remover os atuais gargalos do transporte rodoviário seria necessário investimento de R$ 294 bilhões em curto prazo. “O resultado é que hoje, segundo pesquisa da CNT, 62,1% das rodovias pavimentadas estão em estado regular, ruim ou péssimo. E isso encarece o custo do transporte em 25%”, contabilizou Gonçalves.

Para o diretor de desenvolvimento e tecnologia da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), Flavio Freitas, as concessões de rodovias trouxeram grandes benefícios para a infraestrutura de transportes e já se consolidaram como modelo de eficiência comprovada. Desde 1995, os investimentos em ampliação já passam de R$ 43 bilhões. No mesmo período foram investidos R$ 38 bilhões somente em manutenção e operação das rodovias. Para os próximos cinco anos deverão ser investidos mais R$ 55 bilhões somente em ampliação. O Brasil possui 204.078 km de rodovias pavimentadas, sendo 19.683 km (9,6% do total) concedidas.

Malha deficiente

P esquisa da CNT – Confederação Nacional dos Transportes de Rodovias, realizada em 2014, avaliou 98.475 quilômetros de rodovias pavimentadas por todo o Brasil e em 62,1% da extensão total pesquisada foram detectados algum tipo de deficiência do pavimento, sinalização ou na geometria da via. Do total avaliado, 37,9% dos trechos (34.361 km) apresentaram condições satisfatórias (classificadas como ótimo ou bom).

Em relação ao pavimento, a pesquisa apontou que 50,1% da extensão total se encontram em estado ótimo (42,4%) ou bom (7,7%). Porém, 49,9% apresentam algum tipo de deficiência, de forma que 36,7% é classificado como regular, 9,8% como ruim e 3,4% como péssimo. Os trechos considerados críticos são aqueles avaliados como ruim ou péssimo e atualmente apresentam extensão de 13.017 km.

Ainda de acordo com a pesquisa, a maior parte das rodovias é de pista simples com mão dupla de direção, o que corresponde a 87,1% do total de 85.848 km. As pistas duplicadas somam 12.429 km (apenas 12,7% do total) e em apenas 1.163km das pistas de mão dupla não há separação física (barreiras ou canteiro central entre elas).