Por Daniela Giopato

Quando o assunto é a falta de cuidados com a saúde, muitos carreteiros têm a resposta na ponta da língua: dizem não ter tempo para visitar o médico e fazer exames preventivos. Porém, da mesma forma que um caminhão sem manutenção tem as suas funções reduzidas, um corpo mal cuidado não funciona bem e fica vulnerável a desenvolver doenças como pressão alta, infarto, obesidade e colesterol, males que podem comprometer uma direção segura e antecipar a aposentadoria do profissional.

Para Ricardo Godoy, médico responsável pelo programa Estrada para a Saúde, programa da CCR AutoBan, é nítido o aumento da conscientização dos carreteiros em relação à saúde e uma melhora da auto-estima através de cuidados com a aparência. “Estamos no caminho certo e atingindo os objetivos da ação, que é acompanhar os riscos a que estes profissionais estão expostos, por passarem dias dirigindo e sem tempo de cuidar de sua saúde. Essas melhorias que proporcionamos aos motoristas contribuem significativamente para diminuir os riscos de acidentes nas estradas”, afirma.

O programa Estrada para Saúde é realizado em diversas rodovias do Estado de São Paulo, e oferece acompanhamento contínuo aos carreteiros por meio de exames médicos, tratamento odontológico e serviços gratuitos, além de orientações preventivas para melhorar a qualidade de vida desse público. Em 2010, foram realizados 15 mil atendimentos, desse total 45,95% dos pacientes apresentaram triglicérides alteradas; 22,13% glicose; 20,77% colesterol; 29,36% acuidade visual alterada; 21,15% hipertensão e 85,64% IMC alterado. “Os principais problemas de saúde dos motoristas de caminhão são triglicerídeos alterados, obesidade e sedentarismo”, relata.

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Profissionais de saúde dizem que a preocupação do médico não é mais tratar a doença e sim impedir que ela apareça e para isso os exames periódicos são importantes

Godoy alerta que o carreteiro que não cuida da saúde tem grande potencial para colocar em risco sua segurança e a de outros motoristas nas estradas. A saúde é o elemento essencial na direção veicular e prevenir certas doenças é fundamental para se ter uma vida longa e saudável. “Avaliar a qualidade de vida desses profissionais e orientá-los a procurar atendimento médico constante é uma maneira de prevenir acidentes. A pressão arterial alta, o nível de glicose alterado e uma baixa acuidade visual, por exemplo, afetam diretamente as condições necessárias para uma boa conduta no trânsito”, complementa.

Para o chefe do departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional e Diretor de Comunicação da Abramet – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego-, Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior, ser motorista profissional exige bom preparo, condicionamento físico e também alimentação saudável rica em legumes, verduras, frutas, leite, ovos e carnes brancas, preferencialmente. Frituras, gorduras, condimentos, excesso de carboidratos devem ser deixados de lado. “O excesso de horas trabalhadas expõe o organismo a várias situações de agressão, por isso recomendo cuidar previamente da saúde. Estou convicto que dessa forma todos terão uma direção mais segura”, comenta.

Hoje, conforme explica Dr. Dirceu, a preocupação do médico não é mais tratar a doença e sim impedir que ela apareça, ou seja, medicina preventiva, com recomendação de exames periódicos – pelo menos anual – mesmo que não existam queixas, sinais ou sintomas. “Doenças primarias familiares, como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, distúrbio do sono e qualquer sinal ou sintoma, deve obrigatoriamente ser acompanhada pelo profissional da saúde. Jamais deixar a coisa evoluir para depois procurar recursos”, alerta.

Motorista que não consome substâncias que podem levá-lo ao "apagão" e dirige descansado e sem sono corre menos risco de se envolver em acidente nas rodovias
Motorista que não consome substâncias que podem levá-lo ao “apagão” e dirige descansado e sem sono corre menos risco de se envolver em acidente nas rodovias

Para minimizar as agressões inerentes ao trabalho é importante o carreteiro reduzir a jornada de trabalho, sair do sedentarismo, evitar erros alimentares e corrigir hábitos como fumar e beber. “O sono, por exemplo, é uma necessidade, e dormir pelo menos oito horas por noite é importante. Durante o sono, reduzimos o nosso processo de envelhecimento, reequilibramos nosso sistema imunológico e melhoramos a condução dos estímulos que recebemos, temos também melhorado nossos reflexos, nossa vigília, atenção, concentração e tudo aquilo que dissemos no início, explica.”

Apesar dos perigos, muitos motoristas ainda optam em utilizar drogas para cumprir os horários de entrega e até mesmo se manterem mais dispostos ao invés de uma boa noite de sono. Para esse grupo de condutores, Dr. Dirceu alerta que substâncias como anfetamina, crack, maconha e cocaína, causam dependência e são capazes de levar o motorista ao “apagão”, isto é, num determinado momento todos os sentidos são subitamente abolidos, o que pode provocar acidente gravíssimo. “Tais substâncias alteram a visão, provocam visão dupla, aversão à luz e geram alucinações auditivas e visuais. Lembro que de 40 a 70% das fatalidades em nossas rodovias estão relacionadas ao álcool e a essas drogas”, destaca.

Além de conscientizar motoristas em relação à saúde, programa da CCR procura melhorar a auto-estima do profissional através da melhora da aparência
Além de conscientizar motoristas em relação à saúde, programa da CCR procura melhorar a auto-estima do profissional através da melhora da aparência

Diante dessa realidade muitas transportadoras começaram a inserir dentro de suas atividades corporativas, programas voltados a conscientização, tais como a importância de cuidar da saúde, valorizar a vida e assim promover a segurança nas estradas. Os motoristas que trabalham na operadora logística JSL (Júlio Simões), por exemplo, recebem orientação frequentemente sobre alimentação saudável, exames preventivos e como certas doenças podem interferir no desempenho do profissional, assim como na sua segurança durante as viagens. Porém, além de oferecer este tipo de ação para os colaboradores da empresa, a JSL decidiu apoiar o Instituto Julio Simões no desenvolvimento do programa nacional Pela Vida, que visa aumentar a segurança nas estradas brasileiras a partir do cuidado com a saúde e a segurança individual dos motoristas de caminhão autônomos e de ônibus, que não estão dentro do guarda chuva oferecido pelas empresas e contribuir com a valorização e vida do profissional. Os trailers do projeto itinerante começaram a operar em pontos estratégicos da BR 381, em Minas Gerais, e da BR 101 no Espírito Santo, em abril. De acordo com o estudo de Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito nas Rodovias Brasileiras, publicação do Denatran e do IPEA, que analisa as estatísticas de acidentes entre 2004 e 2005, as rodovias ocupam a primeira e sexta colocação, respectivamente, (no ranking de rodovias federais), segundo os índices de periculosidade e de gravidade de acidentes.

Unidades móveis do Programa Pela Vida procuram cuidar da saúde individual e valorizar os motoristas autônomos sem cobertura das empresas
Unidades móveis do Programa Pela Vida procuram cuidar da saúde individual e valorizar os motoristas autônomos sem cobertura das empresas

No local, o motorista pode aferir a pressão arterial e realizar testes de glicemia, de acuidade visual, além de calcular índice de massa corpórea (IMC) e circunferência abdominal. “Os procedimentos serão simples, porém, queremos conscientizar o carreteiro sobre a importância de dirigir “pela vida”, dar dicas de segurança e saúde. Afinal, o comportamento do motorista é essencial para promover a segurança na estrada, já que a maioria dos acidentes são provocados pela falha humana, como imprudência, excesso de velocidade e falta de atenção”, destaca Beatriz Urbano, coordenadora do Instituto Julio Simões.

O programa vai dar dicas também sobre segurança, vida saudável e distribuir cartilha com dicas orçamentais e mapa de risco das rodovias em que o programa atua. O motorista que for atendido terá uma carteirinha com os seus dados e poderá se consultar nas outras unidades móveis espalhadas em pontos do País. “A logística está em todas as coisas e por trás dela está o motorista, profissional que enfrenta as adversidades do tempo, das pistas, da distância da família e que deve ser valorizado por esse trabalho tão intenso”, afirma Irecê Andrade, diretora comercial da JSL, mantenedora do instituto.

Programa de transportadora conscientiza os carreteiros sobre os cuidados com a saúde, os riscos da profissão e outros assuntos de interesse
Programa de transportadora conscientiza os carreteiros sobre os cuidados com a saúde, os riscos da profissão e outros assuntos de interesse

Outra transportadora que também disponibiliza ações para os seus colaboradores voltadas a saúde e bem estar do motorista é a Ramos Transportes. A analista de RH da empresa, Flávia Barbosa, explica que um motorista saudável que percebe que está sendo bem cuidado passa a ser muito mais produtivo e motivado e, assim, colabora com o crescimento da empresa. “Na maioria das filiais da Ramos Transportes temos ambulatórios e realizamos campanhas de prevenção abordando temas diversos como hipertensão e diabetes. Além disso, fazemos todo um acompanhamento para os cuidados da saúde de nossos motoristas”, explica

A Ramos disponibiliza também aos colaboradores o programa Ramos na Estrada, com objetivo de orientar e conscientizar os carreteiros sobre os cuidados com a saúde, os riscos da profissão, entre outros temas direcionados aos motoristas. Este tipo de ação, conforme explica Flávia Barbosa, é de grande importância, porque ajuda os motoristas a terem uma boa qualidade de vida e, consequentemente, a empresa acaba se beneficiando, mantendo seus profissionais com uma vida saudável. “O motorista que não cuida da saúde pode ser considerado um agente que compromete a segurança nas estradas e prejudica a si mesmo e a empresa para a qual presta serviço”, destaca.