Evilazio de Oliveira

A crescente profissionalização das empresas transportadoras e o surgimento de caminhões cada vez mais modernos – com equipamentos de última geração em termos de segurança, desempenho e economia – tem obrigado o carreteiro a uma constante atualização para o uso dessas tecnologias, numa época em que somente saber dirigir não é o sufi ciente. São os novos tempos que estão exigindo mais do motorista, para que ele não fique à margem da rodovia, conforme advertem os profissionais mais atentos a essas mudanças.

Na opinião do proprietário da Gabardo – Logística e Transporte Internacional de Veículos, de Porto Alegre/RS, Sérgio Mário Gabardo, 49 anos, e na estrada desde criança, a maioria dos motoristas ainda resiste às novas tecnologias e à necessidade de fazer cursos de atualização e até de reaprender a dirigir. Lembra que o caminhão com motor eletrônico é diferente, precisa ser tratado com muito carinho. É como se o motorista estivesse acostumado com um “fusquinha” e de uma hora para outra passasse para um BMW. “É claro que a diferença seria muito grande”, brinca.

Com uma frota de aproximadamente 200 caminhões cegonhas viajando pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e, eventualmente, Bolívia, e com cerca de 240 motoristas, Sérgio Gabardo acompanha de perto todas as novidades tecnológicas que surgem no setor. Ele foi um dos pioneiros na utilização do computador de bordo nos seus caminhões, um instrumento hoje perfeitamente incorporado no dia-a-dia dos motoristas, principalmente no rígido controle da velocidade, que não pode passar dos 84 km/hora. Com isso, e a atenta observância do “giro do motor”, os seus caminhões obtêm média de 2,6 km/l, uma exigência, diz. “O computador de bordo e o ISO foram as melhores coisas que fiz para o controle e desenvolvimento da empresa”.

1752t
Sérgio Gabardo acompanha de perto todas as novidades tecnológicas que surgem no setor e foi um dos pioneiros na utilização de computador de bordo

Sérgio Gabardo considera os caminhões eletrônicos como uma faca de dois gumes, que pode acabar dando prejuízo se for conduzido da maneira errada. Isso porque o consumo de óleo vai fi car alto e a manutenção é muito cara. Acredita que os cursos que os motoristas recebem nas montadoras não agregam muito, necessitando sempre o acompanhamento com um motorista mais experiente. Mas, a preocupação com a evolução dos carreteiros vai além, com cursos diários de informática, espanhol, utilização de novos modelos de rastreadores, direção econômica, comunicações via celular, rádio e Nextel. Segundo ele, foi-se o tempo em que motorista tinha um caminhão vermelho, com duas buzinas a ar e com uma caixa de ferramentas para resolver os problemas mecânicos. “Hoje, só cresce quem se atualiza, ou caso contrário vai fi car na beira da estrada”. Afi rma. E para que isso não aconteça com os seus motoristas, Sérgio Gabardo é exigente até na apresentação física, contando pontos para quem está com cabelo aparado, barba feita, roupa limpa e, claro, o caminhão impecável.

1746t
Para Afonso Rodrigues, está acostumado às inovações, mas acredita que é importante se estar atento às mudanças, senão o motorista acaba sozinho na beira da pista

Depois de ter trabalhado alguns anos como motorista de cegonha na transportadora, Afonso Rodrigues de Carvalho, 46 anos e 26 de profi ssão, “Magaiver”, como é conhecido, agora atua como terceirizado. Comprou dois caminhões da própria transportadora e se considera o “feliz proprietário” de um VW Constellation. Apesar dos vários cursos que fez para acompanhar a evolução tecnológica dos caminhões, e do curso especial para o caminhão que tinha acabado de comprar na ocasião que foi entrevistado, “Magaiver” aguardava a liberação dos documentos para conhecer mais detalhes do veículo. “Sempre têm algumas coisas diferentes pra se aprender e ir pegando o jeito”. Mesmo acostumado a utilizar rastreadores, ele garante que é importante ler o manual com atenção, ouvir os instrutores e, sobretudo, trocar idéias com os colegas de estrada. “Se não ficar atento a todas essas mudanças o cara acaba sozinho na beira da pista”, afirmou.

1749t
Na opinião de Lindomar Gasparin, os cursos oferecidos pelas empresas são importantes e concorda que é comum no início se atrapalhar para usar rastreadores

Para o também cegonheiro Lindomar Gasparin Lemos, 39 anos e 22 de volante, é inegável que o motorista estranhe bastante ao dirigir um caminhão eletrônico pela primeira vez. E também é comum se atrapalhar ao utilizar os rastreadores, principalmente os que dispõem de teclado. “Ainda mais aquele motorista antigo que carregava uma caixa de ferramentas e resolvia qualquer problema com um alicate e um pedaço de arame”, lembra sorrindo. Gasparin também concorda que é preciso fazer os cursos oferecidos pelas empresas, conversar com os colegas e ter vontade de aprender, de saber que as coisas estão mudando muito rapidamente, inclusive para os estradeiros. Mas, de um modo geral, acredita que o pessoal do trecho reage bem às novas tecnologias. Afi nal, todos querem trabalhar. “Se a “luzinha” no painel indica algum defeito, não adianta ir olhar o motor, precisa telefonar para a assistência técnica, que na maioria das vezes é muito eficiente”, conclui.

1750t
O mineiro Onirley Carvalho fez cursos e não teve problema em se adaptar quando mudou de um caminhão com motor mecânico para eletrônico

Em Uruguaiana/RS, o carreteiro João Martins, 52 anos de idade e na estrada desde os 14 com o pai Manoel Martins, passou muito tempo sonhando com um Volvo FH12 e agora, fi nalmente, está no trecho com o caminhão novo. Considera uma máquina fora de série, uma beleza. Porém, reclama do consumo de combustível. Acha que está gastando muito nas viagens que faz para o Chile e Argentina e apesar de todas as revisões, o problema continua. Ele não fez curso para dirigir o caminhão novo por absoluta falta de tempo. Todavia, sempre está conversando com os colegas e procurando aprender tudo o que os outros ensinam.

Martins garante que se dirigir de acordo com as instruções no painel, “o caminhão não vai, perde força”. E isso porque ele transporta cerca de 20 toneladas de carga. Chega a pensar que o fato de o modelo ter sido projetado para transportar maior peso pode ser a causa do consumo alto.

1748t
Motorista de um bitrem, Jorge Borges lembra que quando se trata de caminhão eletrônico não adianta apertar o acelerador, porque o motor vai fazer apenas o que tem de ser feito

O carreteiro Onirley Carvalho, 38 anos e há três na estrada, dirige um Mercedes-Benz 2006 trucado e está feliz. Natural de Pouso Alegre do Sul/MG, ele é dono de uma loja e quando decidiu se tornar motorista estradeiro, preparou-se para a nova atividade, fazendo curso para o transporte de cargas perigosas, direção econômica e para a condução de veículos com motores eletrônicos. Tem noções de espanhol e de informática. Seu projeto é fazer novos cursos e se especializar cada vez mais na atividade. Ele conta que antes de pegar este caminhão zero quilômetro na concessionária, havia trabalhado com um modelo 1620, mecânico, mas que não teve grandes problemas de adaptação, porque já estava preparado. Elogia o desempenho do bruto eletrônico e destaca o melhor torque do motor e maior economia de combustível.

Jorge Borges de Carvalho, o Borginho, 47 anos e 16 de boléia, de Dourados/MS, dirige um Modelo LS 1938 ano 2004 com bitrem. Ele também pegou o caminhão novo na concessionária, recebeu as instruções básicas e saiu rodando. Acredita que a pessoa que não se interessa por aprender as diferenças do eletrônico vai apanhar muito, judiar do caminhão e gastar mais combustível. Lembra que não adianta apertar o acelerador, porque o motor vai fazer o que tem que ser feito. “É fi car de olho no conta-giros e deixar o pé leve”, recomenda. “Se pisar mais forte não vai adiantar, o bruto não vai.” Quanto ao consumo, acredita que está tudo bem, “pelo menos o patrão não reclama”. Mas, lembra, é preciso muito cuidado com a manutenção, andar sempre dentro das normas e fazer as revisões nas épocas certas.

1747t
Joaci Adriano fez curso oferecido por montadora e aproveita todos os cursos de atualização oferecidos pela transportadora onde trabalha

Catarinense de Joinville, Joaci Adriano de Farias, 34 anos e 12 de profi ssão, dirige um Volvo FH12 desde que o veículo era zero quilômetro. Conta que antes viajava com um modelo NH e já havia feito o curso oferecido pela montadora. Além disso, a empresa para a qual trabalha, a TransOliveira, sempre oferece cursos de atualização para os motoristas. Mesmo assim, acredita que os profi ssionais mais antigos ainda relutam em acompanhar a evolução. Ele tem noções básicas de espanhol e informática, mas quer continuar aprendendo, assegura.

1753t

Sérgio Siqueira, 33 anos e 15 de boléia, natural de Mogi das Cruzes/ SP dirige um trucado VW 2002 mecânico. Ele transporta carga seca nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Nunca dirigiu um caminhão com injeção eletrônica e apesar da vontade de fazer cursos e aprender, falta tempo, pois está sempre na estrada. Por isso, sugere que esses cursos sejam oferecidos aos motoristas nos postos de combustíveis ou pátios das transportadoras, onde em muitas ocasiões ficam muito tempo parados, à espera de cargas. “Poderiam ser cursos rápidos, mas que dessem uma noção para o pessoal”, sugere.