Por João Geraldo

A tecnologia inserida aos caminhões modernos é muito mais importante do que se imagina, tanto para o negócio do transporte quanto para a saúde e bem estar do motorista e ao meio ambiente, além da maior segurança nas estradas. Carreteiros mais experientes, que já trabalharam com pesados fabricados há mais de 10 anos, conseguem ter uma maior percepção do quanto a evolução trouxe de ganho em conforto, segurança e eficiência.

Uma maneira prática de mostrar a evolução dos caminhões da marca foi adotada pela Mercedes-Benz da Alemanha em um programa de test-drive que a empresa chamou de Transalp Trucking 2010 (o Alpine Test), evento que colocou lado a lado modernos modelos Actros com outros veículos pesados da marca produzidos em diferentes décadas, a partir do final dos anos 50. A ação – realizada durante o mês de abril – reuniu 110 jornalistas que escrevem sobre transporte de 28 países da Europa e seis do Brasil.

O motorista Johann Zens emprestou seu conhecimento para os técnicos da Mercedes-Benz procederem as experiências com caminhões fabricados em diferentes décadas
O motorista Johann Zens emprestou seu conhecimento para os técnicos da Mercedes-Benz procederem as experiências com caminhões fabricados em diferentes décadas

A rota escolhida pela montadora para mostrar os avanços aplicados nos veículos de carga por ela produzidos foi realizar a travessia dos Alpes suíços, na direção Sul do país, trecho de cerca de 80 quilômetros com subidas e descidas que exigem bastante do veículo, principalmente do motor e freio. O trecho inclui um desfiladeiro a 625 metros de altitude, que precede o conhecido túnel São Bernardino (com 6,6 quilômetros de extensão sob a montanha), a qual após sua saída inicia uma longa descida com inclinação de 8%.

Os caminhos pelos Alpes são usados para o transporte desde a Idade Média. Na época, burros, mulas e cavalos transportavam sal do Norte e vinho do Sul do país, que eram trocados nas estações. Uma delas ficava onde hoje é a cidadezinha de Chur, ao pé das montanhas e por aonde a Estrada Nacional 13 – no Sul dos Alpes – com seus 2000 mil metros de altura ainda representa um desafio para muitos caminhões. É neste cenário, em plena estação da primavera europeia que a Mercedes-Benz saiu na frente ao fazer uma comparação entre caminhões nas últimas décadas.

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Johann Zens, motorista de caminhão com mais de 40 anos de estrada e com a experiência de já ter feito a rota das montanhas com caminhões fabricados em várias épocas, comentou que hoje a situação é boa, mas a travessia enfrentando as subidas e descidas representava e ainda representa um grande desafio para modelos mais antigos, sem a tecnologia encontrada nos modelos atuais, principalmente em relação ao sistema de freio. Tanto é que uma cena comum na região são as placas de advertência na beira da estrada com imagens de caminhões com os pneus em chamas, para alertar motoristas sobre o risco do aquecimento das lonas de freio e o consequente fogo nas rodas.

Na ocasião, Johann Zens dirigiu um MB 1624 fabricado em 1972 atrelado a um semirreboque com uma julieta (conjunto comum na Europa) na primeira parte da viagem. O pouco espaço na cabine e, ocasionalmente, certa dificuldade para engrenar a marcha fizeram parte da experiência. Outras ocorrências bastante perceptíveis – também ao jornalista carona – foram o ruído excessivo, o esforço do motor nas rampas, a ergonomia pouco valorizada na época da fabricação do modelo e até mesmo na concepção do volante – grande diâmetro -, entre tantos outros detalhes bem diferentes dos caminhões atuais.

Em operação lado a lado, as diferenças de desempenho, conforto e de vários outros itens ficam mais evidentes
Em operação lado a lado, as diferenças de desempenho, conforto e de vários outros itens ficam mais evidentes

Em outro trecho da viagem, desta vez a bordo do Actros, com cabine alta, as diferenças ganham maiores dimensões, a começar pelo porte do veículo, cuja escada de acesso à cabine conta com quatro degraus. No seu interior, o piso totalmente plano, sem o ressalto do motor – comum nos cabine avançada com motor em linha – facilita a movimentação. Formas arredondadas e bem resolvidas, e vários nichos porta-objetos acentuam ainda mais as diferenças, sem contar os painéis de instrumentos. Bancos confortáveis, com amortecimento pneumático, ar condicionado e uma geladeira de bom tamanho facilitam e completam o conforto do motorista.

Em operação, o motor em V 6 – esta é a versão que vem para o Brasil (inicialmente nas configurações 2646 6X2 e 6X4), embora na Europa a Mercedes-Benz tenha também o V8 – trabalha em silêncio e leva o conjunto em boa velocidade de cruzeiro pela pista, como se ignorasse as dificuldades impostas pelo relevo dos Alpes. A caixa automatizada Power Shift (com 12 marchas) tira o trabalho do motorista de trocar as marchas e realiza os engates na hora certa. Equipamentos de segurança como freio ABS, o Active Cruise Control (ACC), que controla a distância entre o veículo da frente, e o Active Brake Assist que faz automaticamente a frenagem completa do caminhão, caso seja necessária, garantem uma viagem mais confortável e segura. Em teste de frenagem realizado pela Mercedes-Benz entre um Actros e o LP 1620 (fabricado em 1965), para desacelerar os veículos de 80 km/hora a zero, mostrou que o primeiro precisou de 38,5m enquanto o segundo de 56m até a parada total.

Evolução transformou o ambiente de trabalho do carreteiro num espaço mais agradável e seguro
Evolução transformou o ambiente de trabalho do carreteiro num espaço mais agradável e seguro

Outro item disponibilizado no Actros é o sistema que avisa ao motorista todas as vezes que ele ultrapassa a faixa que delimita a área de rodagem, com um ruído do lado da cabine que a faixa foi ultrapassada. Os recursos eletrônicos ajudam a transformar a dirigibilidade num trabalho seguro e prazeroso, em trajeto com subidas, descidas, pontes e curvas acentuadas, mesmo com 40 toneladas de PBTC, que é o limite permitido pela legislação da Alemanha.

Os caminhões Actros estradeiros que chegarão ao mercado brasileiro em 2011, produzidos na fábrica da Mercedes-Benz em Juiz de Fora/MG, terão dois pacotes de equipamentos eletrônicos, um mais básico e completo e os motores serão V6. Um dos modelos já definidos e apresentados ao público durante o Salão Internacional do Transporte – Fenatran 2009, em São Paulo, é o Actros 2646 LS 6X4, com 456cv de potência, caixa de câmbio automatizada (sem pedal de embreagem) e toda a tecnologia embarcada e sistemas disponíveis atualmente nos modelos fabricados na Alemanha, inclusive equipado de série com discos de freio em todas as rodas.

O ingresso de caminhões mais modernos no mercado, como já é do conhecimento dos profissionais do transporte rodoviário de cargas, traz maior produtividade para os transportadores e menos estresse para os carreteiros. Como parte do Alpine Test, técnicos da Mercedes-Benz fizeram medições em motoristas e comprovaram que os caminhões antigos causam maior estresse físico e mental, pelo menos nos motoristas de hoje. Em um modelo como o LP 333 (‘Lacraia’, como é chamado pelos carreteiros alemães na Alemanha, talvez devido ao segundo eixo dianteiro), é difícil até mesmo de conversar na cabine com o veículo em movimento. “Nas últimas décadas o caminhão melhorou bastante sua imagem, sendo, portanto, muito importante que se divulgue os avanços, mas ainda não é o suficiente. Temos de tirar os caminhões velhos do trânsito, embora seja um processo difícil que irá demorar alguns anos ainda”, disse Manfred Schuckert, profissional da área de estratégia e legislação de meio ambiente para veículos comerciais grupo Daimler.

CAMINHÕES QUE PARTICIPARAM DO ALPINE TEST 2010
• LP 333, ano 1960, motor de 6cilindros em linha, 200hp, caixa de 6 velocidades
• LP 1620, ano 1965, motor de 6 cilindros em linha, 200hp, caixa de 6 velocidades
• 1624 LS, ano 1971, motor de 6 cilindros em linha, 240hp, caixa de 6 velocidades
• NG 1632 S ano 1974, motor V10, 340hp, caixa de 5 velocidades
• SK 1644 S, ano 1988, motor V8, 440hp, caixa de 16 velocidades
• NG 80 1635 S, ano 1988, motor V8, 440hp, caixa de 16 velocidades
• NG 80 1635S, ano 1988, motor OM 442 LA. 350hp
• SK 1831, ano 1994, motor V6, 310hp, caixa de 8 velocidades
• Actros 1860, ano 2008, motor V8, 598hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1844, ano 2008, motor V6, 440hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1851, ano 2008, motor V8, 518hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1851, ano 2010, motor V8, 510hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1860, ano 2010, motor V8, 600hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1848, ano 2010, motor V6, 480hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1844, ano 2010, motor V6, 440hp, caixa de 12 velocidades
• Actros 1844, ano 2010, motor V6, 440hp, caixa de 12 velocidades

O jornalista João Geraldo viajou à Alemanha e Suíça a convite da Mercedes-Benz do Brasil