Por Daniel Rela

Inaugurada em 1961 pelo então presidente Juscelino Kubitschek, a BR-2, atual Régis Bittencourt, cujo movimento total é formado por 70% de veículos pesados (ônibus e caminhões), tem 422 quilômetros de extensão, sendo 391,5 de pista dupla e 30,5 simples. A rodovia tem papel importante na rede rodoviária brasileira, pois interliga os pólos econômicos das regiões Sul e Sudeste, além do ser o corredor rodoviário entre o Brasil e os principais países do Mercosul.

A Régis Bittencourt foi responsável por muitos acidentes e mortes. Motivo pelo qual foi chamada, até uma década atrás, de “Rodovia da Morte”. O alto tráfego de veículos pesados, a topografia acidentada, e a péssima conservação no passado, fizeram dela uma das rodovias mais perigosas e com o maior índice de acidentes com vítimas fatais do País. “Antes, aqui era um corredor para a morte, tinha muito buraco e fazer ultrapassagem era ainda mais perigoso”, descreve o carreteiro João Marcos de Carvalho, 60 anos de idade e 43 de profissão.

Era um corredor da morte, tinha muito buraco e fazer ultrapassagem era muito perigoso", lembra o carreteiro João Marcos de Carvalho
Era um corredor da morte, tinha muito buraco e fazer ultrapassagem era muito perigoso”, lembra o carreteiro João Marcos de Carvalho

Entraves ligados à preservação do meio-ambiente, burocracias e descaso dos governos, tiveram peso na demora da duplicação das pistas, até hoje inacabada. As obras iniciaram na década de 90 e os índices de acidentes passaram a diminuir, mas as condições permaneceram ruins. Para solucionar os problemas, o governo optou pela concessão.

Obras de duplicação da Régis Bittencourt no início da serra já estão em andamento
Obras de duplicação da Régis Bittencourt no início da serra já estão em andamento

Em 2008, a empresa espanhola OHL venceu o processo de licitação e firmou contrato que prevê investimentos de R$ 3,8 bilhões durante sua vigência de 25 anos. Iniciaram-se, então, algumas melhorias e, posteriormente, a cobrança de pedágio. A concessionária Autopista Régis Bittencourt afirma que recuperou cerca de 70% do asfalto da rodovia, reformou 17 passarelas e oito postos da Polícia Rodoviária Federal, e implantou serviço de atendimento ao usuário com 10 bases operacionais equipadas com ambulâncias e guinchos.

Para Valmir Domingues dos Passos, as condições da estrada melhoraram muito, na serra tem acidentes, roubos e filas de 5 horas quase todos os dias
Para Valmir Domingues dos Passos, as condições da estrada melhoraram muito, na serra tem acidentes, roubos e filas de 5 horas quase todos os dias

As condições da estrada melhoraram bastante, mas ainda existem pontos críticos, como a falta de duplicação no trecho da Serra do Cafezal. Valmir Domingues dos Passos, 48 anos de idade e 30 de volante diz que a situação é crítica. “Nessa serra tem de tudo. Acidentes, roubos e filas de 5 horas quase todos os dias”, resume, ao se referir ao trecho da Serra do Cafezal. Natural de Volante/RS, o carreteiro acha um absurdo justificar no meio-ambiente a não duplicação da via, para ele, muitas vidas já foram perdidas em todos esses anos.

José Donizetti, diz que o dia mais perigoso é domingo à noite, pois tem muita gente correndo e diz que se puder evita passar pelo trecho
José Donizetti, diz que o dia mais perigoso é domingo à noite, pois tem muita gente correndo e diz que se puder evita passar pelo trecho

As burocráticas licenças ambientais foram emitidas no início do ano, e as obras começaram nas duas extremidades da serra. No Distrito Barnabés, em Juquitiba/SP, está sendo construído um trevo de acesso no Km 336, com passagem inferior e alças para os dois lados do bairro, além da duplicação de um trecho de sete quilômetros. Na outra extremidade, há obras para a construção de uma ponte sobre o Rio São Lourencinho, no Km 366, e para a duplicação de quatro quilômetros, estes em fase de terraplenagem. Mesmo com o final dessas obras, 18 quilômetros do trecho central vão continuar em pista simples. A duplicação de toda a extensão da Serra do Cafezal está prevista para até o final de 2012, mas ainda depende de licença ambiental já solicitada ao IBAMA.

Outra reclamação dos carreteiros recai sobre a má sinalização da rodovia. Dizem que os motoristas de carros de passeio fazem manobras perigosas por não saberem exatamente onde estão, aumentando o risco de acidentes. O cansaço, outro problema vivido por muitos profissionais, é agravado na Régis Bittencourt devido ao grande fluxo e a falta de espaço para estacionar os caminhões. “Para conseguir espaço, muitas vezes é preciso abastecer ou rodar bastante, isso já com sono”, afirma José Donizetti, 44 anos e 19 de profissão. Natural de São Joaquim/SC, ele afirma que domingo à noite é o dia mais perigoso na Régis Bittencourt, “É muita gente correndo, aí acontece um acidente e para tudo. Se eu puder evito domingos à noite”, finaliza.